O Brasil conta, hoje, com mais de 47
milhões de usuários de planos de saúde — cerca de 23% da população.
O G1 buscou os representantes dos cinco
presidenciáveis mais bem posicionados nas pesquisas para conhecer
seus posicionamentos sobre o setor de saúde suplementar e, também,
sobre a judicialização dentro
do Sistema Único de Saúde (SUS).
A reportagem é a terceira e
última da série sobre as propostas das equipes de campanha dos
presidenciáveis para a saúde. As duas anteriores foram:
Veja abaixo as perguntas:
Saúde suplementar
|
É a favor da criação de planos de saúde com uma espécie de
franquia a ser paga? |
É favor de planos de saúde populares? |
Henrique Javi (Ciro Gomes - PDT) |
Não |
Não |
Arthur Chioro (Fernando Haddad - PT) |
Não |
Não |
David Uip (Geraldo Alckmin - PSDB) |
Não |
Não |
Marcia Bandini (Marina Silva - REDE) |
Não |
Não |
Jair Bolsonaro** |
**não deu entrevista |
**não deu entrevista |
**O G1 entrou em contato com
a equipe do candidato Jair Bolsonaro (PSL), assim como com os
outros candidatos, entre a quarta-feira (19) e a sexta-feira (21).
No entanto, a assessoria de Bolsonaro não atendeu às ligações, não
respondeu e-mail nem disponibilizou um representante para falar
sobre o assunto. Por isso, as opiniões sobre os temas são apenas as
que constam do programa de governo do candidato.
O candidato é a favor da
criação de planos
de saúde populares?
David Uip (Geraldo Alckmin
- PSDB): Sou contra os planos populares porque eu acho
que eles não resolvem. Eles aumentam a porta de entrada no sistema,
têm um preço mais baixo, mas os pacientes têm direitos a menos
serviços. Mais pessoas têm o plano, mas, quando realmente precisam,
não conseguem usar. Eles não dão solução quando esse associado vira
paciente.
Henrique Javi (Ciro Gomes
- PDT): Não, porque na realidade talvez a maior
condição de atenção pública já esteja dentro do próprio Sistema
Único de Saúde. Isso seria um demérito ao próprio sistema, defender
um sistema desse tipo, e que, sem dúvida nenhuma, não contribui em
nada. Na modelagem proposta, normalmente dessa condição, nós só
íamos fracionar cada vez mais o atendimento.
Marcia Bandini (Marina
Silva - REDE): Não, porque eles não são resolutivos.
Eles ficam só como uma porta de entrada de consulta ou exames mais
simples, tiram o usuário da atenção primária de saúde, da atenção
básica, que é onde a gente teria a possibilidade de fazer mais
promoção da saúde, mais prevenção de doenças, e quando complica ele
vai parar aonde, se ele é um plano popular? Vai parar na rede
[pública]. É diferente de ter uma parceria público-privada de
serviços.
Arthur Chioro (Fernando
Haddad - PT): Em hipótese alguma. Eles não garantem a
integralidade, são uma redução de direitos, e nós não admitimos
redução de direitos. Para fazer um plano de saúde popular, as
operadoras não garantem o atendimento integral dos itens previstos
no rol — então ele será feito em troca de uma seletividade, e a
saúde não admite seletividade. Não é possível ter essa segmentação,
porque nós defendemos um cuidado integral, a saúde como direito, e
não como mercadoria.
Jair Bolsonaro
(PSL): Não há menção no plano de governo.
Quais diretrizes devem
orientar as relações do governo com o setor de saúde
suplementar?
Henrique Javi (Ciro Gomes
- PDT): A principal diretriz dessa relação é de que
esteja alinhada com a lógica de entregar o melhor para a população,
independentemente do seu segmento social, da sua classe econômica.
O mais importante é que a gente precisa compreender que os dois
sistemas têm que se unir no Sistema Nacional de Saúde e ter um
diálogo franco e aberto, com objetivos comuns. As metas para o
privado não podem ser diferentes das metas para o público. E aí
entra um importante debate. A gente precisa ter uma pauta conjunta,
aproximar, para que a gente possa construir um sistema único para
os 200 milhões de brasileiros.
David uip (Geraldo Alckmin
- PSDB): Primeiro, transparência total. A ANS precisa
ter critérios transparentes e publicitados de reajustes. A pessoa
tem que entender por que está pagando por um aumento de saúde. Os
planos de saúde possam oferecer ao cidadão um plano complementar de
capitalização. Por quê? Quando ele chega na idade onde ele passa a
ser menos produtivo, ou seja, ele tem menos renda, o plano aumenta
o custo. Então, é ruim para todo mundo. É ruim para o usuário.
Onera o serviço público, e é ruim para as operadoras, que perdem o
usuário. Nós temos que ter criatividade e modernidade para não
perder o cidadão no momento que ele mais precisa e ficar
desassistido.
Marcia Bandini (Marina
Silva - REDE): A gente reafirma o compromisso de que
existam as agências reguladoras, no caso da Agência Nacional de
Saúde Suplementar, mas que tenha aprimoramentos, melhorias nessas
agências. Em que níveis? Primeiro, evitando conflitos de interesse,
nomeações que não sejam técnicas; segundo, que a gente melhore a
representação dos usuários dentro da ANS, que hoje estão
sub-representados; terceiro, que as decisões sejam sempre baseadas
no melhor conhecimento técnico-científico, para evitar, por
exemplo, lobbies da indústria ou desperdícios; e quarto, que tenha
indicadores claros, divulgados, para que a sociedade acompanhe o
que está sendo discutido dentro da ANS.
Arthur Chioro (Fernando
Haddad - PT): As mesmas que pautaram a relação ao longo
dos governos do presidente Lula e da presidenta Dilma. Na medida em
que nós reconhecemos que, para melhorar a saúde, é preciso
organizar a participação do setor privado como provedor de bens e
insumos e como prestador de serviços complementares contratados
pelo SUS. Vale lembrar que os nossos governos inauguraram o
conceito de complexo produtivo da saúde. Isso ajudou a diminuir
tanto a vulnerabilidade do sistema como apoiou, incentivou a
própria indústria da saúde, como por exemplo a política industrial,
o PDP, o Proad.
Jair Bolsonaro
(PSL): No plano de governo, há a seguinte menção
quanto aos planos de saúde:
“Toda força de trabalho da saúde
poderá ser utilizada pelo SUS, garantindo acesso e evitando a
judicialização. Isso permitirá às pessoas maior poder de escolha,
compartilhando esforços da área pública com o setor privado. Todo
médico brasileiro poderá atender a qualquer plano de saúde.”
Como o seu governo
pretende lidar com a questão da judicialização no
SUS? (A pergunta foi sorteada, aleatoriamente,
durante painel de discussão realizado na Fiesp, em 19 de setembro,
com todos os representantes)
Marcia Bandini (Marina
Silva - REDE): A questão da judicialização precisa, de
fato, ser enfrentada de uma maneira intersetorial, porque a gente
está falando de desperdícios de recursos do SUS que variam na faixa
de 100%, chega a dobrar de um ano para o outro. A situação que a
gente vive hoje é muito dramática, sem falar que o acesso à
judicialização não é igual em todo o Brasil, então a gente acaba
comprometendo o princípio da equidade do SUS, e isso precisa ser
dito. Para isso, a gente precisa de critério técnico e precisa de
transparência. Também precisamos melhorar a aprovação dos
tratamentos e dos medicamentos que hoje, no Brasil, levam mais
tempo do que devia [para serem aprovados].
Arthur Chioro (Fernando
Haddad - PT): Nós temos um sistema de saúde público
hoje, somando os gastos das três esferas de governo, que coloca R$
3,20 por habitante por dia. Isso é menos do que uma passagem de
ônibus aqui em São Paulo, e nós temos que garantir a integralidade
do cuidado, da vacina ao transplante, com R$ 3,20 por habitante.
Então qualquer discussão que passe por melhor eficiência no gasto
não pode desconsiderar o profundo subfinanciamento do sistema. Me
parece que nós precisamos trabalhar de maneira absolutamente
integrada em que, cada vez mais, a gente possa, através de uma
regulação clara do processo de inovação tecnológica, qualificar o
processo de gestão, inclusive para definir quais são as prioridades
de investimento.
Henrique Javi (Ciro Gomes
- PDT): Um detalhe que eu acho importante sobre o tema
da judicialização é que o SUS também tem que agradecer um tanto à
judicialização nos últimos dez anos. Querendo ou não, na lógica da
defesa do direito constitucional à saúde, os juízes entraram,
talvez com mais força do que o que deveria ser, para criar um
diálogo que, sem dúvida nenhuma, promove isso. A proposta principal
dentro disso é, justamente, se desenvolvermos o sistema,
financiamento adequado, a definição com muito mais clareza das
responsabilidades dos entes — estados, União e município. A gente
tem resultados melhores, e não vamos ter situações que por vezes
podem ser justas, [mas] que por vezes podem estar provocando
desequilíbrios e não fomentando aquilo que seria o principal, que é
a saúde da população como um todo.
David Uip (Geraldo Alckmin
- PSDB): Eu divido a judicialização em três setores. A
absolutamente cabível, a que o cidadão tem direito, a Conitec
[Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias] aprovou, mas não
tem orçamento. Tem as excentricidades. O secretário do estado, do
município, é ameaçado de prisão se não cumprirem a ordem judicial.
E tem a judicialização que cria o dolo — são as máfias das órteses,
do catéter. Em 2017, a judicialização onerou os cofres públicos em
R$ 7 bilhões. No estado de São Paulo, tivemos três ações: primeiro,
um sistema de informatização de toda a judicialização no estado,
programa tão bem sucedido que federalizou. O acesso a SUS, que
possibilita ao juiz melhor informação para melhor decisão. E uma
iniciativa do Hospital Sírio-Libanês, Proad, que também, em
parceria com os estados, promove informação para melhor decisão do
juiz.
Jair Bolsonaro (PSL): O candidato não enviou
representante à Fiesp. A resposta à pergunta anterior é a única
menção, dentro do plano de governo, à judicialização.
|