Em nota, a ANS destacou que “tem
discutido e implementado medidas para viabilizar o equilíbrio do
setor de planos de saúde de forma que todos os atores
(beneficiários, prestadores e operadoras) permaneçam no sistema
durante a crise causada pela pandemia do novo coronavírus”
A empresária Monica Pocker Alves é
titular de um plano de saúde empresarial da Amil, que mantém para a
família há três anos. Por conta da pandemia do coronavírus, ela
ficou com dificuldades para pagar as mensalidades e tentou
negociar.
Prestes a completar duas parcelas
em atraso – prazo limite dado pelas operadoras de saúde para não
cancelar o convênio, que somadas chegam a quase R$ 6 mil, Mônica
decidiu procurar a operadora e explicar a situação que ela e a
maioria dos brasileiros enfrentam. Mas ouviu diversas
negativas.
Depois de tanta insistência, a
empresa ofereceu o parcelamento do débito no cartão de crédito.
Ela, então, explicou que não utiliza esta modalidade de pagamento e
sugeriu que o valor fosse parcelado junto às futuras
mensalidades.
A operadora não concordou e o
débito continua em aberto. Agora, a empresária teme ficar sem
cobertura justamente nesse momento crítico. Mônica diz conhecer
pessoas que estão passando pela mesma situação na SulAmérica e
Bradesco. "Eu sei que as operadoras não têm o costume de negociar.
Mas agora o mundo está em outra situação econômica e elas deveriam
reconsiderar”, defende.
Procurada pela reportagem do R7, a
Amil confirmou que ofereceu apenas o parcelamento via cartão de
crédito e afirmou “que as condições de manutenção de planos de
saúde seguem normas da Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS).”
Para o advogado Alexandre Berthe,
especialista na área de planos de saúde, ainda que o credor tenha o
livre arbítrio de indicar a forma para o cumprimento da obrigação,
considerando o caso concreto e o cenário econômico atual, a
operadora deveria ser mais flexível.
Em nota, a ANS destacou que “tem
discutido e implementado medidas para viabilizar o equilíbrio do
setor de planos de saúde de forma que todos os atores
(beneficiários, prestadores e operadoras) permaneçam no sistema
durante a crise causada pela pandemia do novo coronavírus”.
A agência também ressaltou que foi
proposto às operadoras um acordo que garantia às empresas a
possibilidade de movimentar recursos provisionados e retenções
obrigatórias para o enfrentamento à pandemia, mediante
contrapartidas, dentre as quais:
• Renegociação de contratos com
beneficiários de planos individuais ou familiares, coletivos por
adesão e coletivos empresariais com até 29 vidas que estivessem com
dificuldades para manter o pagamento do plano; e
• Manutenção dos beneficiários no
plano até 30 de junho.
“É importante esclarecer que a
legislação do setor já possui regras consolidadas que garantem aos
beneficiários a permanência no plano de saúde em caso de
inadimplência por um período de até 60 dias, consecutivos ou não,
nos últimos doze meses de vigência do contrato”, destacou a
ANS.
A agência também explicou que a
regra vale para contratos individuais ou familiares e, antes de
rescindir o contrato, a operadora deve notificar o consumidor até o
50º dia de inadimplência. Ainda destacou as seguintes regras:
• É proibida a rescisão ou
suspensão unilateral do contrato por iniciativa da operadora,
qualquer que seja o motivo, durante a internação de titular ou de
dependente.
• Em planos coletivos, as condições
para exclusão do beneficiário em função de inadimplência junto à
pessoa jurídica contratante devem estar previstas em contrato.
• Antes da rescisão, o beneficiário
tem direito a todos os procedimentos contratados, não podendo ter
nenhum atendimento negado ou mesmo ser constrangido por estar
inadimplente com a mensalidade do plano.
O que diz a representante do
setor?
Em nota, a Abramge (Associação
Brasileira de Planos de Saúde) informou que sem desconsiderar a
excepcionalidade da situação, as operadoras procuram manter
contratos com seus clientes, avaliando as possibilidades e
oferecendo soluções que não comprometam a assistência dos milhões
de beneficiários da saúde suplementar, pois estes contam com a
assistência dos seus planos de saúde.
“Ao contrário de outros setores que
reduziram despesas durante a crise, o sistema de saúde continuou
investindo para a manutenção de leitos, contratação de
profissionais de saúde, aquisição de novos equipamentos, e tudo
isso com preços mais elevados por conta da pandemia”, disse a
nota.
Leia mais: Confira orientações de
planos de saúde sobre novo coronavírus
A associação também destacou que,
para contribuir com esse momento único e sem precedentes,
recomendou às 136 operadoras associadas – que representam mais de
40% do total de beneficiários de planos de saúde no Brasil – a
suspensão dos reajustes dos planos de saúde individuais, PME (com
menos de 30 vidas) e por adesão por até três meses (maio, junho e
julho), ajudando assim a viabilizar a permanência das famílias na
segurança e cobertura de saúde.
Como estão agindo outras
operadoras?
A SulAmérica informou que, antes da
pandemia do novo coronavírus, tinha estabelecido uma política de
retenção.
Nela, “estão previstos critérios e
ações para estar ao lado do beneficiário sempre que ele precisar e
oferecer opções para que ele não deixe de cuidar de sua saúde” e
que está aberta para novas revisões.
A Unimed do Brasil, representante
institucional do Sistema Unimed, afirmou que vem orientando suas
cooperativas a utilizarem “todos os recursos humanos, técnicos e
financeiros possíveis para garantir o atendimento a seus
beneficiários durante a pandemia”.
Também afirmou que não há uma
política institucional nacional para orientar a renegociação de
contratos de beneficiários e que suas cooperativas possuem
autonomia para desenvolver e implementar as políticas que julgarem
necessárias às suas realidades e ao bem-estar de seus
beneficiários.
Entre estas políticas, estão:
• Renegociações contratuais
individuais com os beneficiários;
• Prorrogação de prazo ou
parcelamento de mensalidades;
• Migrações para planos mais novos
e economicamente vantajosos para os clientes;
• Descontos;
• Isenções de juros e multas;
• Diversificação de meios de
pagamento de faturas, entre outras.
Consultadas, as operadoras Saúde
Itaú e Porto Seguro não quiseram comentar o assunto. A Bradesco
Seguros não respondeu até a publicação desta reportagem.