Seguro de vida individual, que
nunca chamou muita atenção dos brasileiros, registra crescimento de
26%.
A expressão fazer do limão uma
limonada nunca foi tão adequada para ilustrar o cenário do mercado
de seguros de vida nos últimos dois anos. Desde o início da
pandemia de Covid-19, o setor amargou pesados aumentos nos
pagamentos de sinistros. Em 2020, alta de 18%, para R$ 6,8 bilhões,
em indenizações. Em 2021, um salto ainda maior, de 55%, para R$
10,7 bilhões. Mas surpreendentemente o segmento de seguro de vida
individual já acumula crescimento de 26,4% somente nos primeiros
três meses deste ano em relação a igual período de 2021, conforme
dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida
(FenaPrevi). Uma elevação bastante superior à do setor de seguros
de vida e acidentes em geral, que cresceu 10,7% de janeiro a março
deste ano, ante mesmo período de 2021.
De acordo com o CEO do grupo Life
Brasil, Alberto Junior, a contratação de um seguro exige
consciência da pessoa sobre a necessidade daquela garantia. E foi
exatamente o que aconteceu na pandemia. Diante da iminência da
gravidade da situação, muitas pessoas se deram conta da necessidade
de garantir o futuro. “Ninguém acorda querendo um seguro de vida.
Mas, diante da morte, pensar na possibilidade de deixar a família
bem é o que mobiliza”, disse.
Por outro lado, as seguradoras
fizeram sua parte. Mesmo não tendo a obrigatoriedade de arcar com o
pagamento dos 175.307 sinistros registrados entre abril de 2020 e
março de 2022, por serem considerados frutos de uma pandemia — ou
seja, um evento imprevisível e fora das apólices — elas pagaram os
prêmios. Ao arcar com os pagamentos de bilhões às famílias
enlutadas, essas empresas fizeram um “investimento futuro”. As
pessoas perceberam de forma assertiva a real necessidade de um
seguro.
E assim o mercado deu uma guinada
no Brasil, segundo o vice-presidente e diretor técnico da Minuto
Seguros, Manes Erlichman. “Especialmente o de seguro individual,
porque as pessoas passaram a olhar com mais cautela para a vida”,
disse. A plataforma Minuto Seguros, ainda em abril de 2021, no
ápice da pandemia, registrou aumento de 150% na procura pelo seguro
em relação ao mesmo mês de 2020. O que chamou atenção, pois o
brasileiro não contratava seguros além daqueles destinados à saúde
e proteção de veículos. “A tendência é que a popularização desse
produto continue”, afirmou Erlichman. A plataforma registrou nos
primeiros três meses de 2022 um incremento de 24,6% na procura
sobre igual período de 2021.
“A pandemia ampliou a consciência sobre necessidade de
seguro de vidas” Alberto Junior CEO do grupo Life
Brasil.
POTENCIAL Para o
vice-presidente comercial da Prudential do Brasil, Rodrigo
Prosdocimi, ainda há um grande potencial a ser explorado, uma vez
que o mercado nacional está muito atrás de países como Estados
Unidos e Japão — cerca de 60% dos americanos e 90% dos japoneses
têm algum seguro de vida. “No Brasil, só 15% da população
economicamente ativa tem esse tipo de seguro.” Para aproveitar
isso, a empresa aposta no conceito de microfranquia, no qual o
franqueado se torna um corretor da marca. Hoje a Prudential tem
mais de 1,6 mil corretores franqueados e deve chegar a 3 mil até
2025.
A boa onda extrapolou o segmento
vida. E veio atrelada a uma mudança positiva nos hábitos do
consumidor brasileiro. De acordo com o diretor-gerente da Bradesco
Saúde, Flávio Bitter, depois da pandemia a preocupação passou a ser
com o bem-estar geral da pessoa. Isso passa por manter bons hábitos
de alimentação e atividade física, sem esquecer a saúde mental. “A
prevenção se tornou primordial e o seguro de vida está embarcado
nesse pensamento”, disse o executivo.
De olho no “legado da pandemia”, a
seguradora amplia a regionalização do seguro saúde, fazendo acordos
locais com hospitais e laboratórios de todo o País para oferecer
produtos mais acessíveis. Nos últimos 12 meses, a companhia
registrou crescimento de 60% no número de pequenas empresas que
contrataram planos de saúde regionais. Ao todo, já são mais de 130
mil segurados atendidos pela modalidade, o que representa cerca de
13% do total de beneficiários que a Bradesco Saúde possui.