Proibição das terapias hormonais
O Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou no Diário Oficial
da União resolução que proíbe o uso de hormônios com o objetivo de
retardar ou prevenir o processo de envelhecimento.
"A falta de evidências científicas de benefícios, e os riscos e
malefícios que trazem à saúde, não permitem o uso de terapias
hormonais com o objetivo de retardar, modular ou prevenir o
processo de envelhecimento", afirma o Conselho.
Entre as diferentes técnicas para deter o envelhecimento, a
principal crítica do CFM se detém sobre a reposição hormonal e a
suplementação com antioxidantes (vitaminas e sais minerais).
Está vedada a prescrição dos hormônios conhecidos como
"bioidênticos" para o tratamento antienvelhecimento e o uso de
ácido etilenodiaminotetracético (EDTA), procaína, vitaminas e
antioxidantes, entre outras.
A manipulação hormonal deverá ser indicada apenas nos casos em
que o paciente apresente algum tipo de disfunção na produção de
hormônios, como nos casos de hipotireoidismo (distúrbio hormonal
que afeta o metabolismo do organismo).
Segundo o CFM, os médicos que descumprirem as regras poderão
sofrer penalidades que vão desde advertência até a cassação do
registro.
Risco de diabetes e câncer
Comentando a medida, a Sociedade Brasileira de Geriatria e
Gerontologia (SBGG) informou que a proibição protegerá a população
de danos à saúde que vão desde o aumento da toxicidade no organismo
até casos de câncer.
"Prescrever hormônio do crescimento para "rejuvenescer" um
adulto que não tem deficiência desse hormônio é submetê-lo ao risco
de desenvolver diabetes e até neoplasias," disse Gerson Zafalon
Martins, do CFM.
O CFM havia publicado recentemente um parecer concluindo que não
há evidências científicas que justifiquem a prática da medicina
antienvelhecimento, que tem como base o uso de hormônios como a
testosterona, a progesterona e o corticoide.
"A questão da eterna juventude ainda está no campo das fábulas.
Do ponto de vista técnico-científico, não há nenhuma afirmação de
um procedimento que possa retardar ou retornar a juventude daquele
que já envelheceu", destacou Carlos Vital Corrêa, vice-presidente
do CFM.
Mudança de hábitos
Para os especialistas, a melhor maneira de retardar o processo
de envelhecimento é a modificação de hábitos, que incluem a prática
de exercício, a alimentação adequada e a perda de peso.
"Envelhecimento não é doença. Medicamentos que não são
necessários, além do risco, significam custo com uma população que
já tem grandes custos [com patologias como doenças do coração],
disse Maria Lencastre, da Sociedade Brasileira de Geriatria e
Gerontologia.
"Estão vendendo ilusão de antienvelhecimento para a população
sem nenhuma comprovação científica e que pode fazer mal à saúde.
Com a idade, o metabolismo mais lento e a ingestão de algumas
substâncias podem aumentar o risco de várias doenças", acrescentou
a geriatra Elisa Franco Costa.
Na avaliação do CFM, o aumento da longevidade não decorre
tratamentos específicos, mas de uma mudança de atitude, que inclui
a adoção de hábitos saudáveis (melhor alimentação, prática de
esportes, abandono do tabaco e uso limitado do álcool, entre outros
pontos).
Veja abaixo as proibições de tratamentos hormonais e correlatos
estabelecidos pela Resolução CFM 1.999/2012.
Medicina antienvelhecimento proibida
Ficam vedados o uso e divulgação dos seguintes procedimentos e
respectivas indicações da chamada medicina antienvelhecimento:
I. Utilização do ácido etilenodiaminatetraacetico (EDTA),
procaína, vitaminas e antioxidantes referidos como terapia
antienvelhecimento, anticâncer, antiarteriosclerose ou voltadas
para o tratamento de doenças crônico- degenerativas;
II. Quaisquer terapias antienvelhecimento, anticâncer,
antiarteriosclerose ou voltadas para doenças crônico-degenerativas,
exceto nas situações de deficiências diagnosticadas cuja reposição
mostra evidências de benefícios cientificamente comprovados;
III. Utilização de hormônios, em qualquer formulação, inclusive
o hormônio de crescimento, exceto nas situações de deficiências
diagnosticadas cuja reposição mostra vidências de benefícios
cientificamente comprovados;
Tratamentos hormonais permitidos
A reposição de deficiências de hormônios e de outros elementos
essenciais se fará somente em caso de deficiência específica
comprovada e que tenham benefícios cientificamente comprovados:
IV. Tratamentos baseados na reposição, suplementação ou
modulação hormonal com os objetivos de prevenir, retardar, modular
e/ou reverter o processo de envelhecimento, prevenir a perda
funcional da velhice, prevenir doenças crônicas e promover o
envelhecimento saudável;
V. A prescrição de hormônios conhecidos como "bioidênticos" para
o tratamento antienvelhecimento, com vistas a prevenir, retardar
e/ou modular processo de envelhecimento, prevenir a perda funcional
da velhice, prevenir doenças crônicas e promover o envelhecimento
saudável;
VI. Os testes de saliva para dehidroepiandrosterona (DHEA),
estrogênio, melatonina, progesterona, testosterona ou cortisol
utilizados com a finalidade de triagem, diagnóstico ou
acompanhamento da menopausa ou a doenças relacionadas ao
envelhecimento, por não apresentar evidências científicas para a
utilização na prática clínica diária.