O plano em discussão no governo que prevê benefícios para
operadoras de saúde pode deixar de fora as empresas que estão na
lista de devedoras, ou seja, 41% do total. Ao todo, 643 operadoras
foram encaminhadas para inscrição na dívida ativa da União no ano
passado por não reembolsarem os gastos que o sistema público de
saúde teve com tratamento de seus beneficiários. O valor da
cobrança: R$ 110 milhões.
“É um setor como esse que o governo quer financiar. A falta de
compromisso é evidente. É um mercado em franca expansão, mas que
posterga ao máximo o pagamento de dívidas”, afirmou a professora da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Lígia Bahia. O plano
apresentado no governo prevê a ampliação da oferta de planos de
saúde a preços baixos, que atenderiam população de menor renda. Em
troca, empresas receberiam benefícios e incentivos do governo.
A discussão sobre o assunto não precisou avançar para merecer
uma avalanche de críticas de integrantes do movimento sanitarista.
“É uma ameaça ao sistema público de saúde”, disse Lígia. Para
médicos sanitaristas, os recursos deveriam ser usados para
investimento no Sistema Único de Saúde (SUS). “O que essas pessoas
vão fazer com planos de baixo custo é apenas garantir um lugar na
fila do SUS. O básico será feito na saúde suplementar e
procedimentos mais complexos, como sempre, serão encaminhados para
o SUS. Não às claras, mas pela simples recusa no atendimento”,
disse Lígia.
O Conselho Nacional de Saúde (CNS) deverá discutir a proposta de
mudança com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, nesta semana.
Pela lei, operadoras de saúde têm de reembolsar o SUS todas as
vezes em que seus beneficiários forem atendidos nos serviços
públicos. A maior parte das operadoras, no entanto, não reconhece
tal dever e questiona na Justiça o pagamento. Sem aplicação de
multas e juros, o valor da dívida era até dezembro de R$
416.209.138,06.
As empresas que têm seu nome lançado no cadastro de débitos não
quitados ficam impedidas de participar de operações de crédito que
envolvam recursos públicos ou de receber incentivos fiscais e
financeiros. “Se as dívidas forem quitadas, elas recuperam esse
direito”, afirma a gerente geral de ressarcimento da Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Lenise Secchin. Ela diz não
ser raro empresas que constantemente ingressam e saem da lista de
dívida ativa. “Elas pagam uma dívida, logo são cobradas de outra e
assim, sucessivamente”, disse.