Objetivo do ministério é analisar até 3,5 milhões de bolsas de
sangue anualmente, cobrindo integralmente a hemorrede pública. O
Ministério informou que apenas 1,9% da população doa sangue. O
ideal para suprir as necessidades seria 3%
Na véspera do Dia Mundial do Doador de Sangue, celebrado nesta
sexta-feira (14), o Ministério da Saúde incorporou o teste ácido
nucleico (Nat) na triagem sorológica do doador do Sistema Único de
Saúde (SUS). A medida foi publicada no Diário Oficial da União e
passa valer em 180 dias. O teste detecta agentes químicos capazes
de desenvolver doenças, sobretudo dos vírus HIV e da hepatite C, em
períodos menores do que testes convencionais.
O sangue recebido dos doadores passa por testes. São exames
relacionados a doenças infecciosas possíveis de serem transmitidas
via transfusão. Esta etapa tem o objetivo de garantir a segurança
do paciente que vai receber o sangue. O objetivo do ministério é
analisar até 3,5 milhões de bolsas de sangue anualmente, cobrindo
integralmente a hemorrede pública brasileira.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Hematologia,
Hemoterapia e Terapia Celular, Carmino Antonio Souza, o teste
adotado na Europa Ocidental, América do Norte e Ásia encurta o
prazo de detecção no sangue doado dos vírus HIV de 22 para sete
dias e, da hepatite C, de 70 para 11 dias em média. “Um dos maiores
desafios da hemoterapia em todo o mundo é encurtar cada vez mais a
janela imunológica, período em que vírus permanece indetectável em
um indivíduo”, comentou ele. A associação comemorou a incorporação
do teste ao SUS, mas cobra do Ministério da Saúde a obrigatoriedade
do teste Nat em todo o país, inclusive na saúde complementar
(planos e operadoras de saúde particulares).
O gerente do Programa de Reativos para Diagnósticos de
BioManguinhos, Antônio Gomes Pinto Ferreira, explicou que o Nat
brasileiro, produzido desde 2010, está em permanente
aperfeiçoamento. “Nosso Kit identificou mais de dez janelas
imunológicas [bolsas de sangue contaminadas com o vírus da aids ou
da hepatite C] de 2,5 milhões de bolsas de sangue triadas. É um
dado muito robusto, que mostra que o Nat brasileiro cumpre com o
papel a que se propõem de contribuir e ampliar a segurança
transfusional no Brasil”, disse ele. O gerente da BioManguinhos
informou que atualmente o Nat brasileiro detecta HIV e hepatite C.
Os vírus da hepatite B e da dengue serão os novos alvos do
teste.
1,9% da população é doadora de sangue
No Dia Mundial do Doador de Sangue, comemorado nesta sexta-feira
(14), o Ministério informou que apenas 1,9% da população doa
sangue. O ideal para suprir as necessidades seria que esse índice
subisse para 3%. Dados do Hemocentro de São Paulo mostram que até
quatro pessoas podem ser beneficiadas com uma doação.
Para o técnico administrativo Jarbas Rocha, doar sangue é uma
rotina. Há cerca de 30 anos, ele doa três ou quatro vezes por ano.
“Comecei a doar porque alguém do trabalho precisou, depois
continuei doando já que sempre tem alguém precisando”.
Foi vendo o pai doar que o analista de sistemas Raoni Rocha, filho
de Jarbas, também resolveu, aos 18 anos, adotar essa rotina. “É só
uma picadinha, não dá para assustar. Vale a pena, ajuda muita
gente”, disse.
“Quando a gente precisa é que vê o quanto é importante fazer a
doação rotineira”, lembrou o fisioterapeuta Lívio Fortes, que há
três anos teve dengue hemorrágica e precisou receber planquetas –
as células do sangue cuja função é ajudar na coagulação, evitando
sangramento em excesso. “Como eu era doador, tinha prioridade para
receber a transfusão, mas meu sangue não é muito comum e não tinha
em estoque, o AB positivo, e meus amigos correram atrás de doadores
compatíveis”, lembrou.
A quantidade de sangue colhida não afeta a saúde do doador, a
recuperação é imediata. Na hora de doar, todos passam por uma
entrevista que tem o objetivo de dar mais segurança ao doador e aos
pacientes que receberão a doação. O sangue doado é testado para
doenças como hepatite B, hepatite C, HIV, HTLV, sífilis e doença de
Chagas.
Podem doar pessoas maiores de 18 e menores de 68 anos, que tenham
mais de 50 quilos. Jovens com 16 ou 17 anos também podem doar,
desde que tenham autorização do responsável legal. No dia da
doação, é preciso apresentar documento com foto, emitido por órgão
oficial e válido em todo o território nacional.
Mulheres grávidas, que tiveram parto normal há menos de 90 dias
ou cesariana há menos de 180 dias ou que estejam amamentando, ficam
temporariamente impedidas de doar sangue. Pessoas resfriadas devem
esperar o desaparecimento dos sintomas e quem fez tatuagem deve
aguardar 12 meses para fazer a doação.
De acordo com o Decreto-Lei 5.452, o doador tem direito a um dia de
folga no trabalho a cada 12 meses trabalhados, desde que a doação
esteja devidamente comprovada. Esse direito também se estende ao
funcionário público civil de autarquia ou militar, conforme
preconiza a Lei Federal 1.075.