A comissão especial criada pelo Senado para debater o
financiamento da saúde pública decidiu acelerar os trabalhos para
que o Plenário vote na próxima semana a elevação dos recursos
mínimos da União destinados à saúde. O presidente do Senado, Renan
Calheiros, incluiu projeto sobre o tema em lista de matérias que
devem tramitar com urgência, como resposta às manifestações por
mais qualidade no Sistema Único de Saúde (SUS).
A matéria que ganhou atenção é um projeto da Câmara dos
Deputados (PLC 89/2007), do ex-deputado Roberto Gouveia, que vinha
tramitando na Comissão de Assuntos Sociais (CAS). Desde a criação
da comissão especial, a proposta passou a depender de avaliação
prévia de seus integrantes.
Atualmente, a União é obrigada a destinar à saúde o que gastou
no ano anterior acrescido da variação nominal do Produto Interno
Bruto (PIB) de dois anos antes. Essa regra já vinha sendo aplicada
antes da regulamentação da Emenda 29, aprovada no fim de 2011. O
Congresso manteve o cálculo, enquanto setores sociais defendiam
pelo menos 10% da receitas do orçamento federal para a área.
Substitutivo
O relator da comissão especial, senador Humberto Costa (PT/PE),
adiantou que pretende sugerir um projeto substitutivo. Segundo ele,
o PLC 89/2007 não representa avanço em relação ao cálculo vigente,
que não atende às novas demandas dirigidas ao setor. “O que
poderemos fazer é utilizar esse projeto como base para aprovar algo
que possa representar um consenso maior”, disse.
A comissão estuda diferentes alternativas para assegurar recursos
estáveis e suficientes para a saúde por parte da União – os estados
aplicam 12% de suas receitas, enquanto os municípios investem 15%.
Uma solução seria retomar a vinculação de 10% do Orçamento da
União, seja sobre as receitas brutas ou líquidas (descontadas as
transferências referentes aos fundos de participação).
Outra alternativa seria definir um gasto per capita, ou seja, um
valor mínimo por cidadão, a partir do qual será projetado o
montante dos recursos anuais no Orçamento. De acordo com o senador,
nesse caso deverá haver um processo de transição.
“São alternativas que precisamos analisar com calma. É muito
importante votar um novo financiamento para a saúde, mas é preciso
tranquilidade para que não possamos depois inviabilizar o próprio
atendimento”, disse o senador, que considera necessário discutir as
alternativas com o governo.
Depois da aprovação da proposta na comissão especial, o texto
seguirá então para a CAS, onde deve ser examinado como alternativa
ao PLC 89/2007, antes da decisão em Plenário. Humberto espera que,
de forma simultânea, o Congresso também defina novas fontes de
receita para saúde, para o que vem sendo considerado o uso de parte
das futuras receitas do pré-sal.
Responsabilidade sanitáriaPara o senador, o momento também exige
definição sobre lei que permita ampliar o controle social e a
fiscalização dos gastos na saúde, além de regras que possam induzir
melhorias na gestão. Ele vem cobrando urgência para projeto de sua
autoria, o PLS 174/2011, que sugere a chamada Lei de
Responsabilidade Sanitária (LRS), até o momento fora da pauta de
matérias urgentes sugerida por Renan. “É uma matéria indispensável,
inclusive para darmos legitimidade à nossa reivindicação por mais
recursos para a saúde”, disse Costa.
O projeto já passou pelo exame da CCJ e agora está na CAS, tendo
sido entregue na semana passada ao relator, senador Wellington Dias
(PT-PI). Segundo Humberto, já foi acertada com o presidente da
comissão, Waldemir Moka (PMDB-MS), a realização de uma audiência
pública final antes da votação. Como o exame será terminativo, a
matéria poderá seguir diretamente à Câmara, sem passar pelo
Plenário.
Serviço obrigatórioNa pauta já definida, no entanto, consta
outra proposição de Humberto Costa destinada a qualificar os
serviços de saúde. Para corrigir a carência de profissionais de
saúde na periferia das grandes capitais e regiões distantes do
País, ele sugeriu a Proposta de Emenda à Constituição (PEC)
36/2011. Pelo texto, será criado serviço civil obrigatório para
egressos dos cursos de graduação das profissões de saúde
regulamentadas, públicos ou com financiamento público.
“Nós temos uma grande população desassistida e essa medida, bem
como a vinda de profissionais do exterior, devem atender a esse
quadro emergencial”, defendeu.
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) também defende, por meio de
projeto de lei, o PLS 75/2011, serviço semelhante apenas para os
egressos dos cursos de medicina mantidos por instituições públicas
ou financiados com recursos públicos. Ao comentar críticas da área
médica a seu projeto e ao do colega, Humberto afirma não ter
intenção de restringir o serviço civil aos profissionais de saúde,
admitindo alteração para ampliar o alcance.
“Podemos estender a todos aqueles que, tendo sido financiados
pelo setor público no processo de educação superior, posam dar uma
contrapartida ao Estado, sejam médicos, professores ou qualquer
outro profissional”, defendeu.