O ministro da Saúde, Ricardo
Barros, defende como solução para lidar com a falta de recursos
para a saúde pública a criação de um modelo de “plano de saúde
popular”, mais barato e menos completo do que os planos atuais. A
ideia seria reduzir as filas do SUS. O ministro já vinha falando
sobre a proposta desde julho e, nesta segunda-feira (8), defendeu a
proposta diante de empresários em um debate promovido pelo Lide
(Grupo de Líderes Empresariais), em São Paulo.
"Tem uma regulação da Agência
Nacional de Saúde (ANS) que precisa ser alterada, diminuindo as
exigências mínimas dos planos de internação", disse o ministro em
uma coletiva de imprensa após o evento. "Precisamos encontrar um
mecanismo para simplificar a regulamentação permitindo que o
serviço seja mais amplo."
Segundo Barros, os planos populares
fariam com de R$ 20 a R$ 30 bilhões a mais por ano fossem alocados
para atendimento em saúde. Esse seria o valor que a própria
população pagaria pelos planos. "Nós queremos mais recursos para a
saúde. Como estamos nesta crise fiscal e ficamos pouco à vontade
para pedir mais recursos no orçamento da união, tivemos a ideia
desse modelo."
Redução de padrão mínimo
dos planos
Segundo o ministro, a ideia é flexibilizar as regras da ANS para
diminuir o padrão mínimo dos planos de saúde que incluem
internação. O governo não estabeleceria um modelo único, cabendo às
administradoras criar seus próprios planos, que a população poderia
contratar caso tenha interesse. "Evidentemente isso facilita o
atendimento no SUS na medida em que alivia as estruturas públicas
para realizar outros atendimentos."
Nesta sexta-feira, foi oficializada
no Diário Oficial da União a criação de um grupo de trabalho para
discutir o assunto. Segundo a publicação, farão parte do grupo de
trabalho o Ministério da Saúde, a ANS e a Confederação Nacional das
empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde
Suplementar e Capitalização (CNSEG).
Proposta recebeu
críticas
A classe médica criticou a proposta de Barros. Em nota divulgada na
sexta-feira, o Conselho Federal de Medicina (CFM) afirmou que os "a
autorização para a venda de 'planos populares' apenas beneficiará
os empresários da saúde suplementar e não solucionará os problemas
do SUS".
A Sociedade Brasileira de Pediatria
também emitiu uma nota sobre a proposta. "Ao criar o grupo de
trabalho para discutir e elaborar o projeto de plano de saúde com
caráter popular, o Ministério da Saúde coloca em risco os
princípios da universalidade, da integralidade e da equidade do
nosso SUS", afirmou a entidade. "Trata-se de uma medida populista e
temerária, que não aliviará o SUS de seus graves problemas e nem
trará ganhos reais para a população, especialmente a que tem menor
poder aquisitivo."
Já a ANS afirmou, na sexta-feira,
que não tinha conhecimento prévio a respeito do grupo de trabalho.
"A Agência reitera sua autonomia técnica para regular o mercado de
Saúde Suplementar, nos termos delimitados pelas leis 9.656/98 e
9.961/2000."
O Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor (Idec) e a Associação Brasileira de Saúde Coletiva
(Abrasco) já tinham anunciado que pretendiam mover ações judiciais
caso o governo autorizasse a venda de plnaos de saúde com cobertura
reduzida.
"Lamento quem critica algo que
ainda não sabe o que é, mas respeito o CFM e como contrapartida os
convido para o grupo de trabalho", disse Barros, em resposta às
críticas.