No período, mercado saltou de R$ 3,8
bilhões para R$ 10 bilhões por ano; para o economista Alexandre
Schwartsman, país está “bastante perto do final da recessão”
As principais questões que afetam o
mercado brasileiro de resseguros começaram a ser debatidas nesta
quarta-feira (dia 5), no primeiro dia do 6º Encontro de Resseguro
do Rio de Janeiro.
Participam do evento, promovido pela
Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) em parceria com a
Federação Nacional das Empresas de Resseguros (Fenaber) e a Escola
Nacional de Seguros (ENS), representantes de empresas e entidades
dos setores de seguros e resseguros, além de especialistas no tema
e economistas. O Encontro vai até amanhã (6).
Na abertura, o presidente da Fenaber,
Paulo Pereira, lembrou que se completam em 2017 dez anos do fim do
monopólio do mercado ressegurador, que nesse período saltou de R$
3,8 bilhões para R$ 10 bilhões de faturamento anual. Hoje, atuam no
país 128 resseguradoras, entre nacionais e estrangeiras.
Ele destacou o parecer da Receita
Federal sobre o Imposto de Renda do ressegurador admitido, que, por
esse entendimento, deve pagar o imposto como se fosse local. “O
impacto pode ser muito grande, com consequências imprevisíveis”,
afirmou. Pereira criticou também o projeto de Lei do Seguro já
aprovado na Câmara e que será votado no Senado: “Entendemos que
resseguro não deve ser tratado como seguro. Colocar os dois na
mesma lei pode confundir o Judiciário.”
O presidente da CNseg, Marcio
Coriolano, ressaltou que, apesar do ambiente recessivo, o
crescimento nominal do mercado segurador vem subindo de modo
“consistente”, tendo fechado 2016 em 9,2%. No primeiro bimestre
deste ano, em que houve alta nominal de 10,6% acumulada em 12
meses, em relação a igual período de 2016, Coriolano vê
“satisfatória estabilidade”. “Com a queda da inflação, o setor já
vive um crescimento real, em contraste com a relativa inércia de
setores mais dinâmicos.” Para ele, a aprovação das reformas
previdenciária e trabalhista será fundamental para criar um
ambiente de confiança no país. Por outro lado, tão importantes
quanto as reformas são os projetos em debate, como a nova Lei de
Licitações, o Seguro de Vida Universal e o eventual Seguro de
Acidente de Trabalho. “ Essas novas reformas estruturais e novas
coberturas securitárias permitirão que os chamados grandes riscos
inaugurem uma nova era do setor segurador em direção a uma proteção
mais ampla dos agentes econômicos e da população.”, afirmou,
complementando que é nesse espaço novo de alavancagem que reside
uma nova interação entre o mercado de seguros e de resseguros.
Em sua fala, o superintendente da
Susep, Joaquim Mendanha de Ataídes, afirmou que a abertura do
mercado ressegurador, há dez anos, atraiu para o país as maiores
resseguradoras do mundo, tornando os preços mais competitivos. Ele
destacou a existência de mais de 120 resseguradoras atuando no
Brasil, “a melhor prova de que o mercado brasileiro é atraente”. Já
o diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde (ANS), José
Carlos Abrahão, pediu que a atuação do setor de resseguros seja
estendido à saúde suplementar. “Vamos trabalhar essa ferramenta,
que será mais um produto para as resseguradoras e uma garantia para
o sistema.”
Também participaram da abertura do
evento Marco Antonio Barros, presidente da FenaCap; Francisco Alves
de Souza, vice-presidente da FenaPrevi; Solange Beatriz Palheiro
Mendes, presidente da FenaSaúde; João Francisco Borges da Costa,
presidente da FenSeg; Robert Bittar, presidente da Escola Nacional
de Seguros; e Roberto da Rocha Azevedo, presidente da Associação
Brasileira das Empresas de Corretagem de Resseguro (Abecor).
Cenário econômico
Na plenária “Perspectivas para a
Economia no Brasil”, mediada por Claudio Contador, da ENS, o
economista Alexandre Schwartsman, do Insper, analisou as razões da
crise brasileira, ressalvando que já se nota “algum progresso”: “O
país vem num processo de recuperação, mas bastante lento”, afirmou,
destacando a queda recente da inflação e dos juros. “A queda dos
juros deve ter o efeito de deter o processo de queda das vendas e
dos investimentos.” Ele lembrou também a aprovação da PEC do Teto
dos Gastos como positiva para reequilibrar a economia e as contas
do governo. “Estamos bastante perto do final da recessão.”
Para Schwartsman, o principal problema
brasileiro é a questão fiscal, já que as despesas federais
cresceram de menos de 14% do PIB, em 1997, para quase 20% em 2016.
A maior parte dessa expansão, disse, foram as aposentadorias, que
representavam 4,9% dos gastos há 20 anos e saltaram para 8,1% no
ano passado. “E o Orçamento no Brasil é bem inflexível. A
capacidade do governo de mexer nas suas despesas é menos de 10%”,
disse. Segundo ele, a questão fiscal só será resolvida com
aprovação da reforma da Previdência, que gasta, entre pensões e
aposentadorias, de 12% a 13% do PIB, podendo alcançar 20% em 15
anos. “Na ausência da reforma previdenciária, o teto de gastos não
se sustenta”, afirmou.
Também participou da plenária a chefe
de Relações da agência de risco A.M. Best para as Américas, Andrea
Keenan, que traçou o perfil do país em relação a diversos tipos de
risco.
Em seguida, a Plenária II debateu o
projeto de lei 3.555, que visa a regular os contratos de seguro no
país. Participaram os advogados André Tavares, João Marcelo Santos,
Marcelo Mansur e Sergio Ruy Barroso de Mello.
No painel “Inovação do Seguro de Vida:
Agregando Valor ao Produto”, a palestrante Alessandra Monteiro,
gerente de Riscos de Vida e Previdência do IRB Brasil Re, disse que
“as empresas percebem que a crise é o momento para impulsionar e se
destacar”. “Nossa busca é trazer ferramentas novas, de custo baixo,
que possam ser utilizadas em toda a carteira de seguros”. Entre
essas inovações, estariam dispositivos móveis a serem usados no
pulso para análise de riscos individuais no seguro de vida,
permitindo às seguradoras acompanharem em tempo real a saúde do
segurado. João Carlos Botelho, diretor técnico da Safra Vida e
Previdência, abordou a utilização, no Brasil, de tecnologias que já
vêm sendo adotadas no exterior. Para ele, o país tem hoje alto
potencial para empregar essas inovações em larga escala, embora
possa haver entraves regulatórios.
“A fragilidade da classe média e suas
consequências para o seguro” foi o tema do painel apresentado por
Alexandre Leal, diretor executivo técnico da CNseg. O palestrante
Walter Stange, fundador e sócio da ARS Advanced Risk Solutions,
traçou um histórico do surgimento da chamada nova classe média em
países como o Brasil. Segundo ele, é preciso estabelecer bases mais
sustentáveis para o crescimento dessa classe, que está no centro da
atual crise econômica e enfrenta problemas sistêmicos, como o
endividamento excessivo. Tais bases consistiriam em educação
financeira e um maior incentivo governamental à cultura do seguro.
Para ele, o crescimento sustentável depende de um planejamento de
médio e longo prazo.
O “CNseg – o canal seguro” exibe nesta
quinta-feira a estreia do boletim “Entenda o Seguro”. Nessa nova
série, o personagem Sr. Dúvida, vivido pelo ator Ronaldo Reis,
conversa com o apresentador Ronaldo Rosas, por meio de um telão,
sobre as principais questões envolvendo o setor de seguros.
Inaugurado no dia 15 de março e
veiculado no YouTube, o “CNseg – o canal seguro” é a mais nova
iniciativa da CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras) dentro
do Programa de Educação em Seguros, que visa ampliar e aprofundar o
relacionamento do setor segurador com os consumidores e a sociedade
em geral.
No primeiro “Entenda o Seguro”, o Sr.
Dúvida aprende o conceito de mutualismo, a partir da noção de que
qualquer atividade humana envolve riscos. “O mutualismo é uma das
formas que a sociedade criou para se prevenir dos riscos. Assim,
grupos de pessoas expostas aos mesmos tipos de riscos se juntam
para gerar proteção uma para as outras”, diz o apresentador ao
personagem.
O mutualismo é o principal fundamento
dos contratos de seguros, explica. “É o conceito que faz as pessoas
se juntarem em grupos de riscos e contribuírem para um fundo comum.
E é desse fundo que vai sair o dinheiro para o pagamento das
indenizações para qualquer um do grupo”, diz Ronaldo Rosas.
O Sr. Dúvida pergunta então qual o
papel das seguradoras nesse mercado. “O papel da seguradora é
organizar esses grupos de pessoas com riscos comuns, e é por isso
que precisam contratar um seguro”, responde o apresentador.
Ao final do programa, o personagem
mostra que entendeu as explicações. “Quando eu contrato e pago um
seguro, ele é meu. Mas é o fato de ter outras pessoas também
contratando e pagando seguros que permite que eu receba a minha
indenização. Quer dizer: no caso de acontecer alguma coisa,
né?”
“A contratação de um seguro é
individual, mas é o princípio do mutualismo que garante a
sustentabilidade dos contratos. Sem a adesão de todos os envolvidos
ao mutualismo, na prática, contratar um seguro seria inviável”,
finaliza o apresentador.