Marco regulatório do Brasil e de
demais países é confrontado no 6º Encontro de Resseguro
Dois olhares sobre o mesmo objeto- no
caso o mercado de resseguros brasileiro- despertam percepções
diametralmente distintas entre stakeholders locais e estrangeiros.
No Brasil, o resseguro livre ganha cada vez mais musculatura, ao
pular da casa de R$ 3,8 bilhões para R$ 10 bilhões nos 10 primeiros
anos de mercado livre; ou seja, mais que dobrou de tamanho. Além
disso, é altamente competitivo, porque reúne 128 players em seu
território, inclusive alguns dos maiores do mundo, um sinal, entre
as autoridades, de que seu marco regulatório satisfaz. Será?
Lá fora, o tom é menos róseo: a
começar pela receita do mercado de resseguros trazida a valor
presente. Comparando-se os R$ 6,1 bilhões (VPL) gerados em prêmios
de resseguro em 2008 aos R$10 bi (VPL) de 2016, o crescimento
alcançou exatos 67%. Em dólar, este mercado avançou de US$ 2,1 bi
para US$ 2,9 bi, expansão ainda menor, de 39%. A taxa de penetração
do resseguro, ainda pelo olhar dos gringos, subiu dois pontos
percentuais, de 11% para 13% no período de dez anos.
Os dados acima foram alguns dos
apresentados por Marcos Castro, do Lloyd’s, na palestra sobre
“Assimetria entre os mercados local e internacional de resseguro”,
realizada durante o 6º Encontro de Resseguro. Um número, em
especial, chamou a atenção: o da capacidade oferecida pelos players
globais. Na casa dos bilhões de dólares nas respectivas matrizes,
no Brasil os capitais oferecidos são classificados de quase
simbólicos algumas vezes pelo especialista. No grupo das 51
ressegurados com presença local (16 locais e 35 admitidas), os
números são os seguintes: entre as 11 estrangeiras que operam como
empresa local, o maior capital individual, de US$102 milhões, não
representa capacidade local significativa; entre quatro
brasileiras, o maior capital registrado é de US$ 188 milhões, o que
torna o grupo dependente de retrocessão ao mercado internacional.
Mesmo o IRB, com capital de US$ 776 milhões, o maior ressegurador
local. Resultado: cerca de 50% do resseguro brasileiro continua
sendo repassado aos resseguradores internacionais.
O último relatório do Conselho
Nacional de Seguros Privados – CNSP parece passar ao largo dessa
questão. “Inquestionavelmente, a transição do monopólio para um
regime saudável e muito competitivo, com empresas locais, regionais
e globais atuando conjuntamente, só pode ser considerada uma grande
conquista”, diz um trecho do material do colegiado, citado pelo
palestrante.
Para os estrangeiros, “o avanço mais
relevante com o fim do monopólio foi o balizamento de preço pelo
mercado internacional. Mas a cadeia de resseguro e retrocessão no
Brasil se tornou mais complexa e onerosa”.
Ainda segundo o relatório do CNSP,
reconhece-se que a criação de um mercado local de resseguro forte
foi um dos propósitos da regulamentação que flexibilizou tais
operações, tendo como objetivo reter prêmios e reservas no País.
Para os estrangeiros, há alguns nós no modelo nacional de
regulação. A retenção mínima de seguros e resseguros, por exemplo,
só existe na Argentina, China, Equador, Nepal e Vietnam; a cessão
obrigatória de resseguros, em alguns países da África, China,
Indonésia e Malásia; e a restrição intra-grupo, até há pouco na
Argentina, que revê o regulamento para abrandá-lo, e na China.
No período de 10 anos de abertura,
Marcos Castro lembra que 11 intervenções importantes ocorreram no
marco regulatório, despertando insegurança entre os players. E
lembra a Federação Europeia de Seguros e Resseguros, “resseguro é
uma das indústrias mais globalizadas do mundo atualmente. A
habilidade singular dos resseguradores de agrupar riscos e pagar
sinistros em escala global tem, para empresas e consumidores, os
mesmos efeitos de prosperidade do livre comércio; ajuda a estimular
o crescimento econômico, empregos e fomenta a estabilidade”. Uma
reflexão sobre isso precisa estar no radar de todos para um mercado
cada vez mais próspero. Também participaram do painel Bruno Freire,
da Austral Resseguradora, e Rubens Teixeira Junior, da Allianz
Seguros.