Prestes a completar dois meses, a lei que proíbe os
profissionais da saúde de usarem jalecos ou aventais fora do
ambiente de trabalho é ignorada na capital. As informações são do
Jornal da Tarde.
Na última sexta-feira, (22) o jornal percorreu hospitais
particulares e públicos e flagrou em todos eles o descumprimento da
regra, que ainda está sem regulamentação. Pesquisas recentes no
Estado de São Paulo indicaram a contaminação por micro-organismos
relacionados a infecções respiratórias, cutâneas e
gastrointestinais em 95% dos jalecos médicos.
Quando a lei foi sancionada, em 8 de junho deste ano, o
governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou que seu objetivo era
evitar que o vestuário agisse como fonte de contaminação em vez de
funcionar como barreira de proteção e segurança. A justificativa
divide as opiniões dos conselhos regionais de Medicina (Cremesp) e
de Enfermagem (Coren-SP), ouvidos pelo JT.
No entanto, de acordo com a Faculdade de Direito do Estado de
São Paulo, enquanto a Secretaria do Estado não define como será
feita a fiscalização de normas, a regra é autoaplicável.
Para os médicos, enfermeiros ou auxiliares que usarem os
“equipamentos de proteção individual” fora dos ambientes
hospitalares, clínicos ou de laboratórios, a punição é de dez
Unidades Fiscais do Estado de São Paulo (UFESP)
A regulamentação da lei, contudo, não tem prazo para ocorrer.
Por meio de nota, a Secretaria de Estado da Saúde afirmou apenas
que “irá promover a normatização da lei, a fim de estabelecer a
forma de fiscalização, bem como da aplicação de multas e locais
fiscalizados. Atrelado a isso, a pasta irá promover campanhas
educativas de conscientização junto aos hospitais, profissionais de
saúde e entidades representativas do setor, ampliando o diálogo com
a classe.”
A ‘lei do jaleco’ divide opiniões dos conselhos regionais de
Medicina (Cremesp) e de Enfermagem (Coren-SP). Segundo o Coren-SP,
não é correto expor o paciente ao risco de contaminação. Já o
Cremesp afirma que não existe comprovação científica de que jaleco
ou qualquer outro objeto possa ser um canal de contaminação. E
ressalta que a lei é “alarmista e demagógica”.
O Coren-SP afirma ainda que, desde 2005, existe uma norma do
Ministério da Saúde que orienta médicos, enfermeiros e auxiliares a
não usarem seus equipamentos de proteção fora do ambiente de
trabalho. Mesmo o Cremesp, ainda que contrário à regra, ressalta
que também não recomenda o uso das peças em ambiente público. “Mas
por uma questão de higiene e não por comprovação de que possa
causar mal aos pacientes”, afirma Junior.
Os representantes dos dois órgãos defendem um trabalho de
conscientização com os profissionais. “Para que a lei seja cumprida
e não fique apenas no papel”, diz Porto. Ou para ressaltar a
importância da higienização das mãos. “Isso seria mais efetivo. Há
comprovação de que as mãos são um canal de contaminação”, defende o
Cremesp.
Já o governador Geraldo Alckmin, ao falar sobre a lei, em junho,
argumentou que a lavagem das mãos é complementar à ‘lei do jaleco’.
“Além de lavar as mãos, toda a lógica do avental é preservar a
saúde do paciente. Preserva o paciente, já que o profissional que
vem da rua traz micróbios; preserva também o profissional, que tem
contato com o paciente; e preserva a população. Não tem sentido
alguém com jaleco, que está no laboratório, lancetando uma ferida
purulenta, ir depois para um restaurante almoçar, com o mesmo
jaleco.”
Estudos apontam contaminação
O potencial da vestimenta médica como possível veículo de
transmissão de micro-organismos foi apontado em pelo menos dois
estudos recentes. Um deles foi divulgado pela Pontifícia
Universidade Católica (PUC-SP), câmpus de Sorocaba, no fim do ano
passado.
Das 96 amostras de aventais
analisadas, 95,83% apresentavam micro-organismos. Entre eles estava
a bactéria staphilococcus aureus, considerada um dos principais
agentes de infecção hospitalar. No início deste mês, um outro
estudo, feito pela Faculdade Veris, em Campinas, também apontou a
contaminação nos aventais. Entre os micro-organismos frequentes
estavam: estafilococos coagulase negativa, streptococcus sp,
bacillus gram, diplococos gram negativos e bolores.