O Ministério da Saúde tem recorrido a revisões científicas para
definir a inclusão de novos medicamentos na lista do Sistema Único
de Saúde (SUS). O objetivo é evitar que o governo invista em
alternativas terapêuticas de benefício duvidoso e alto custo. As
informações são do jornal Estado de S. Paulo.
Uma revisão, por exemplo, mostrou que stents convencionais – um
tipo de prótese para artérias, que custa R$ 3 mil – são tão
efetivos quanto stents revestidos com medicamentos, de R$ 15 mil. O
trabalho contribuiu para poupar R$ 820 milhões no ano passado.
Outro estudo mostrou que o uso de uma droga oncológica no
tratamento de degeneração macular úmida – doença que afeta cerca de
30 mil pessoas no País – poderia substituir com igual eficácia o
remédio aprovado especificamente para tratar a doença. Com uma
diferença: a terapia alternativa custa R$ 600 por olho afetado,
enquanto a oficial não sai por menos de R$ 15 mil.
Nenhum dos dois remédios está disponível no SUS. Mas, se o uso
oftalmológico da droga para câncer fosse aprovado pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), seria uma alternativa
viável para inclusão no rol da rede pública, afirma Rubens Belfort
Junior, pesquisador da Universidade Federal de São Paulo. “A
segunda não teria chance: o custo é muito alto.”
Muitas revisões são feitas pelo Centro Cochrane do Brasil, braço
nacional da Cochrane Internacional, entidade britânica fundada em
1993 que auxilia médicos a adotar condutas clínicas baseadas em
evidências científicas.
Importância
Todos os dias, revistas científicas publicam milhares de artigos
na área médica. Revisões sistemáticas servem para reunir em um só
local as evidências obtidas em diversos estudos (mais informações
nesta página), devidamente expurgadas de resultados pouco
confiáveis.
Em 2005, o Ministério da Saúde pediu ao Centro Cochrane do
Brasil que respondesse à seguinte pergunta: “A drotrecogina alfa
ativada é efetiva e segura no tratamento da sepse grave?” Recebeu
como resposta: “Depende.” Nos casos de pacientes “com alto risco de
morte”, sim. Nos demais, não. A revisão lamentava a inexistência de
testes clínicos de melhor qualidade.
A mesma crítica já circulava nos Estados Unidos. Um artigo
publicado no New England Journal of Medicine, em 2006, sublinhava a
falta de testes clínicos robustos e questionava a campanha
“Sobrevivendo à sepse grave”, que promovia o uso do medicamento e
era financiada pela própria empresa que o produzia.
Ou seja, revisões sistemáticas também servem para indicar casos
em que ensaios clínicos – normalmente financiados pela indústria –
apresentam lacunas.
Estudos mostram que farmacêuticas publicam preferencialmente
trabalhos que confirmam a eficácia dos seus produtos.
O Centro Cochrane não realiza só revisões a pedido governo.
Também produz estudos que mostram a efetividade de tratamentos
baratos, mas que carecem de lobbies poderosos para lutar por sua
inclusão no SUS.
Uma revisão mostrou, por exemplo,
que um investimento anual de apenas R$ 6 milhões para oferecer
suplementação de cálcio a gestantes evitaria 50 mil casos de
complicações por pré-eclampsia. Estudos mostram que poucos
obstetras da rede pública prescrevem cálcio às gestantes, medida
indicada pela Organização Mundial da Saúde.