Representantes do mercado segurador e
do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor participaram,
nesta quinta-feira (9), de audiência pública na Comissão Especial
da Câmara dos Deputados que discute o projeto de lei 3139/2015. O
projeto, de autoria do deputado federal Lucas Vergílio (SD-GO),
proíbe a venda ampla da chamada proteção veicular,
comercializada por associações e cooperativas como se fosse um
contrato de seguro, o que é irregular e não oferece garantias
financeiras mínimas aos consumidores.
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O presidente da CNseg, Marcio Coriolano |
Em sua fala na comissão, o presidente
da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), Marcio Coriolano,
destacou que a atividade seguradora existe há nove séculos, e é
fortemente regulada no Brasil – por meio da Superintendência de
Seguros Privados (Susep) e, no caso dos planos e seguros de saúde,
por meio da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) –, com foco
no consumidor. “Não se pode conceber um sistema de seguros que, por
sua natureza é solidário, cuja finalidade não seja a proteção da
poupança popular. Os fundamentos do seguro e as formas como as
seguradoras são estruturadas são para que as promessas assumidas
junto ao consumidor sejam honradas.”
Para Coriolano, “é preciso ratificar
que o principal papel do seguro é transferir o risco, do segurado
para as seguradoras”. “Ao contratar, ele, o consumidor dos
produtos, espera ter o recebimento quando precisar, sem rateios ou
dúvidas do montante pactuado”. O papel das seguradoras é estimar o
risco que só elas vão assumir. Não é por outra razão que existe uma
verdadeira indústria, invisível para quem está de fora. que serve
para servir ao cidadão e garantir as indenizações, afirmou o
presidente da CNseg. “Não é qualquer empresa que consegue colocar
capital na frente, formar reservas, mobilizar uma legião de
profissionais e competentes corretores para que se tenha essa
proteção de forma transparente e efetiva”, lembrou.
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O presidente da FenSeg, João Francisco |
Em seguida, o presidente da Federação
Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), João Francisco Borges da
Costa, observou que a atividade seguradora “tem que ser regulada
porque mexe com a economia popular, mexe com os recursos da
população, por isso existe no mundo inteiro uma fiscalização cada
vez maior, para proteger o consumidor, e não as seguradoras. Para
proteger a solvência do mercado”. No mercado segurador, destacou,
“temos o cliente protegido pelos órgãos fiscalizadores e pelo
Código de Defesa do Consumidor, interagimos com mais de 27 Procons
no país inteiro, visando aperfeiçoar e melhorar o funcionamento do
mercado de seguros”. Ele marcou as diferenças entre os seguros e a
proteção veicular. “Com a proteção veicular, você não tem esses
benefícios, porque o consumidor é associado, e não cliente. O
pagamento do prêmio de seguro é fixo. No caso da proteção, é
variável e desconhecido, dependendo do prejuízo acumulado. Para os
seguros, o pagamento é todo feito pela seguradora, já na proteção é
um rateio de prejuízo entre os associados, portanto não existe
garantia clara e certa desse pagamento.”
João Francisco citou números do
mercado para mostrar que é falsa a ideia de que as seguradoras
recusam fazer seguro para veículos como carros nacionais com mais
de dez anos, motos e caminhões. Segundo ele, mais de 920 mil
automóveis com mais de dez anos são segurados no país, que geraram
400 mil sinistros no último ano; 350 mil motos seguradas, que
geraram 93 mil sinistros; e 390 mil caminhões segurados com
cobertura de casco, que geraram 100 mil sinistros. “Quero mostrar o
que se paga de sinistro: em 2012, R$ 15 bilhões; 2013, R$ 17,3
bilhões; 2014, R$ 19,6 bilhões; 2015, R$ 20,4 bilhões; 2016, R$
21,2 bilhões; e R$ 16,1 bilhões até agosto deste ano.”
A titular do Departamento de Proteção
e Defesa do Consumidor (DPDC) da Secretaria Nacional do Consumidor
(Senacon), órgão vinculado ao Ministério da Justiça, Ana Carolina
Caram, assinalou a falta de informação ao consumidor por parte das
associações de proteção veicular. “O grande problema que tenho
visto nos Procons, no Ministério Público e na Justiça é a ausência
de informação por parte dessa proteção veicular. Quando o
consumidor contrata a proteção, ela não sabe o que está
contratando, e isso é muito grave, porque o direito básico está
sendo violado”, afirmou.
Ela disse ainda estar apurando a
denúncia da CNseg contra a venda de proteção veicular como se fosse
um contrato de seguro. “Estamos atentos aos maus prestadores de
serviços. Quando o consumidor busca esse tipo de serviço, está
buscando uma segurança, e quando precisa utilizar esse serviço, é
por necessidade. Quando procura o seguro, é porque teve um
sinistro. Esse dever de proteção pela associação e pela seguradora
tem que ter responsabilidade”, disse. “Não podemos permitir que as
associações se camuflem como seguros.”
Já a presidente da seção brasileira da
Associação Internacional de Direito de Seguro (AIDA), Ana Rita
Petrarolli, afirmou que a regulamentação é fundamental e
indispensável. “O contrato de seguros é muito complexo, existe a
Susep que regulamenta. Será que por tantos anos tivemos tantas
atividades desnecessárias? Será que esse consumidor é apto a montar
uma cooperativa? Será que para ele é claro o que lhe oferecem?”,
questionou. Segundo Ana Rita, “o Estado tem que garantir a certeza
de que, na ocorrência do sinistro, o consumidor vai receber, e isso
quem garante são as seguradoras”.
Ainda para a presidente da AIDA, “se
as cooperativas querem vender seguros, serão seguradoras, e não
cooperativas”. “O consumidor de qualquer país não pode ser
comparado ao consumidor brasileiro, que não é educado
financeiramente. Então o Estado não pode concordar em deixar esse
consumidor solto para escolher algo tão importante como a
manutenção do seu patrimônio. Não podemos comparar os preços das
duas instituições, pois não estamos falando das mesmas coisas, dos
mesmos produtos. As seguradoras aceitam proteger carros novos e
antigos com tarifas proporcionais. E essas associações? Elas têm
experiência e caixa suficientes para arcar com sinistros
diferentes assim?”
Também presente à audiência, o
presidente da Federação Nacional dos Corretores de Seguros
(Fenacor), Armando Vergílio, disse que o mercado da proteção
veicular atua à margem da lei. “Vários consumidores saíram
prejudicados, é um golpe duro do ponto de vista econômico que essas
pessoas sofrem. Essas mutualidades, ao vender suas proteções para
públicos abertos são duvidosas e afrontam a lei”, afirmou.
Em resposta a deputados da Comissão
Especial que questionaram os motivos da suposta dificuldade de
acesso dos proprietários de veículos ao Seguro de Automóvel, João
Francisco Borges da Costa lembrou a violência que assola boa parte
do país. “Temos problemas de roubos e furtos de veículos no Brasil
inteiro. O que faz o mercado segurador? Uma fixação de preços com
base no agravamento dos riscos. Como na proteção veicular mútua só
há um rateio simples de prejuízo, sem avaliação de riscos, os
consumidores desconhecem a sua insegurança quando ocorrem os
sinistros”, afirmou. “Não estamos agravando para ganhar mais,
estamos aumentando porque o risco está mais alto. Essa explosão de
insegurança na sociedade cai no colo da seguradora, que, para
continuar dando proteção, precisa se ajustar.”
“A CNseg conhece muito bem os mercados
mundiais e sabe que as mútuas existem no mundo inteiro, com regras
muito claras e duras para cada um e para todos. Tanto lá como aqui,
o que não se pode admitir é que vendam um produto como se
fosse seguro”, disse Marcio Coriolano.