A 'Operação Lama Cirúrgica’, que investiga
a falsificação e fornecimento de materiais hospitalares
descartáveis reutilizados em um hospital particular na Serra,
Grande Vitória, apontou uma quadrilha dos Estados Unidos como
responsável pela venda dos produtos à empresa Golden
Hospitalar.
Dois empresários e um enfermeiro
foram presos, suspeitos do esquema, no dia 16 de janeiro. As
investigações apontam que os produtos que deveriam ser usados
apenas uma vez foram reutilizados 2.536 vezes.
Foi descoberto, ainda, o
envolvimento de uma terceira empresa, a Esterileto, contratada pela
Golden para esterilizar os produtos.
“Há envolvimento de médicos, de
empresários, empresas que vendem esses materiais e são utilizados
em cirurgias ortopédicas, de enfermeiros, instrumentadores, que
utilizam, basicamente, materiais cujo reuso é proibido”, falou o
secretário de Segurança Pública, André Garcia.
Num telefonema gravado com a
autorização da Justiça, Marcos Stein, um dos donos da Golden
Hospitalar, conversa com um integrante da quadrilha que encomendou
o material. A conversa aconteceu logo depois que a polícia evitou
uma cirurgia em que os instrumentos seriam usados.
“Eu passei um problema, agora,
com a Vigilância Sanitária e outros órgãos competentes e eles estão
no meu pé”, falou Marcos, pelo telefone.
Ele fala que quer a nota fiscal
da importação fraudulenta, mas, com medo, também quer devolver o
material. “Com essa auditoria que eu estou aqui na empresa, ela só
pode entrar com nota”, disse, na ligação.
O integrante da quadrilha
responsável pela venda dos produtos fala que a venda é ilegal e sem
nota fiscal.
“O que eu combinei com você foi
de eu te mandar o material que eu não tinha nota. Eles não aceitam
devolução, e eu já paguei sobre o transporte desse material. A
gente vende desse jeito, deixando claro que não é um material
legal. O mercado sabe”, destacou.
A dona da Esterileto, contratada
pela Golden para esterilizar os produtos, disse à reportagem que a
culpa do envolvimento da empresa é de um ex-sócio dela. “O que
houve foi uma falha, pela gestão antiga, da entrada desse material
na empresa”, falou a sócia da empresa, Mônica Marinhos.
Ela disse que tomou medidas para
evitar que isso aconteça de novo. “A gente está sendo até muito
chato com os clientes, quando alguém tenta enviar para a gente
alguma coisa que não pode ser reprocessada”, contou Mônica.
Na busca feita na sede da Golden
Hospitalar, a polícia encontrou carimbos de três médicos e um
receituário assinado e carimbado por um quarto médico, só que em
branco.
“Isso é um documento do médico,
particular do médico e ele não pode fazer. É uma prática muito
suspeita”, falou o vice-presidente do Conselho Regional de Medicina
do Espírito Santo (CRM-ES).
Os quatro médicos estão sendo
investigados, e pacientes que eles operaram no Hospital
Metropolitano estão preocupados. A aposentada Nilza Maria Plácido
teve que fazer uma cirurgia na mão do final de 2017.
“É horrível saber. A sensação é
muito ruim, porque, na verdade, eu estou correndo risco. E se
tivesse dado algum problema mais sério?”, falou.
A gerente da Vigilância
Sanitária da Serra, Geane Sobral, falou que as consequências podem
se manifestar anos depois.
“Os riscos vão desde uma
infecção por vírus, por hepatite, até a micobactéria. Esse dano que
pode ser causado à saúde desse paciente nem sempre vai aparecer
hoje, ele pode aparecer daqui a 10 anos”, falou.
O Hospital Metropolitano disse
que suspendeu o recebimento de produtos que eram adquiridos por
planos de saúde das empresas mencionadas no inquérito.
Destacou que está apurando a
eventual responsabilidade de profissionais citados nas
investigações.
O
médico Nilo lemos neto afirma que o receituário encontrado na
empresa Golden tinha a finalidade de cumprir o fluxo burocrático
para confirmação de materiais que ele usou em cirurgia
específica.