Em nosso país, uma em cada cinco pessoas estão obesas e cerca de 54% da população das capitais brasileiras estão com excesso de peso, conforme dados da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), de 2017, do Ministério da Saúde.
De acordo com o médico nutrólogo Lucas Penchel, o padrão de referência para definir indivíduos obesos ou com sobrepeso é estabelecido pelo Índice de Massa Corporal (IMC), que é a divisão do peso do paciente pelo quadrado de sua altura. Se o resultado deste cálculo for superior a 25kg/m2, esta pessoa é considerada com sobrepeso, mas se o valor for superior a 30 kg/m2, trata-se de um caso de obesidade.
No entanto, o cálculo do IMC não é recomendado para todas as situações, pois o método não avalia a composição corporal e a distribuição da gordura nas diversas regiões do corpo. “Sendo assim, pessoas musculosas ou com excesso de líquido no corpo podem apresentar índices que fujam da normalidade. Então acredito que métodos que avaliem e meçam a quantidade de gordura corporal são os mais aconselhados para a identificação de casos de sobrepeso e obesidade”, ressalta.
O exame de bioimpedância é mais aconselhável para quantificar a porcentagem de gordura corporal. É considerado normal uma taxa de gordura menor que 30% para mulheres e 25% para homens. Outra característica que também deve ser levada em consideração é o aumento da circunferência abdominal, pois a gordura visceral em excesso é uma das principais causas de doenças relacionadas a obesidade.
Causada por motivos diversos, a obesidade pode ser impulsionada por particularidades genéticas, ambientais, emocionais ou por hábitos de vida. Em algumas circunstâncias a doença pode ser atribuída a síndromes de Prader-Willi ou de Cushing.
O nutrólogo aponta que o avanço do sobrepeso e obesidade no país se deve em grande parte ao alto índice de sedentarismo atual aliado ao fato de que as pessoas estão substituindo a ingestão diária de alimentos saudáveis, como o arroz, feijão, carne, saladas e leite, em favor do maior consumo de comidas processadas e ricas em açúcar, sal e gorduras saturadas e trans. “Um estudo da Vigitel de 2013 comprovou que 12,6% dos homens e 19,7% das mulheres brasileiras têm o hábito de trocar o almoço ou o jantar por lanches com baixo valor nutricional, como pães, biscoitos, pizzas, salgados, embutidos, refrigerantes e fast-foods em geral”, afirma Lucas.
Outro fator preocupante é o grande consumo de gordura saturada, pois, 31% da população não dispensa a carne com gorduras e 53,5% das pessoas consome leite integral todos os dias. O alto consumo do refrigerante também é um complicador, o estudo relevou que em no mínimo cinco dias da semana, a bebida é ingerida por 23,3% das pessoas. “Atualmente, o cotidiano corrido e estressante favorece uma alimentação despreocupada, rápida e inconsequente, e isso acaba propiciando o constante aumento da obesidade em nossa sociedade”, comenta o nutrólogo.
Segundo Lucas Penchel, a pessoa obesa tem maior predisposição a problemas como o diabetes tipo 2, hipertensão arterial, colesterol alto, doenças cardiovasculares, infertilidade e gravidez de risco, infecções dermatológicas, dores de coluna, úlceras, pedras na vesícula biliar, trombose, apneia do sono, esteatose hepática, depressão, asma, gota, neoplasias e câncer.
Para prevenir ou tratar casos de sobrepeso e obesidade, o nutrólogo orienta que o ideal é que o paciente, junto do acompanhamento de profissionais qualificados, crie um plano a longo prazo de mudanças graduais no estilo de vida. “Neste planejamento é necessário que seja estabelecido um limite adequado de calorias que devem ser ingeridas ao longo do dia e os exercícios físicos devem ser inseridos na rotina. O objetivo deste processo de mudanças deve ser a melhora da saúde e não o alcance de um peso ou padrão de corpo ideal”, comenta.
O ideal é que o paciente ingira menos calorias, beba muita água e foque em uma dieta baseada no consumo de carboidratos complexos, fibras, frutas, legumes, verduras, proteínas vegetais e animais. Lembrando que é preciso dar preferência a alimentos in natura ou frescos. “Algumas pesquisas recentes revelam que limitar calorias e não um tipo especifico de comida gera uma maior perda de peso, ou seja, é mais vantajoso adotar uma dieta balanceada e saudável do que focar na retirada de um grupo alimentar em particular”, salienta.
Quanto a prática física, oriento que, ao menos para sair do sedentarismo, o paciente realize pequenas corridas ou atividades leves por 30 minutos diários ou por 150 minutos semanais. “É preciso deixar claro que o tratamento vai depender do nível de obesidade, saúde e motivação do paciente para a perda de peso. Para casos mais graves, além da reeducação alimentar e adoção da atividade física, também podem ser indicados o uso de medicações ou a realização de cirurgias”, conclui.