As discussões acaloradas
sobre a reforma da Previdência, a busca por retornos mais
expressivos em tempos de juro baixo e a oferta cada vez maior de
produtos – incluindo os de gestoras independentes – fizeram crescer
a portabilidade dos planos de previdência em 2018. Até novembro, R$
21,9 bilhões desse segmento trocaram de mãos – ou seja, de
instituições financeiras -, R$ 5,4 bilhões a mais que o observado
no ano anterior. O número de transferências aceitas cresceu quase
25%, passando de 95,9 mil para 119,6 mil.
“Com os
debates sobre aposentadoria tão em voga, as pessoas perceberam que,
com ou sem reforma, precisavam olhar com mais cuidado para a
previdência complementar”, afirma Juliana Inhasz, coordenadora do
curso de Economia do Insper. “Além disso, com os juros baixos, os
investidores passaram a procurar alternativas para seus planos, que
muitas vezes não estavam rendendo nada.”
Optar
pela portabilidade da previdência é bem mais atraente do que sacar
de um fundo e aplicar em outro, explica ela, pois assim o
investidor não tem de pagar o Imposto de Renda – com que teria de
arcar num resgate tradicional. Se aceita, a transferência para a
outra instituição financeira leva cinco dias.
Os
cinco grandes bancos de varejo – Itaú, Bradesco Banco do Brasil,
Santander e Caixa – detêm mais de 80% do mercado de previdência
privada – ou seja, dos R$ 808 bilhões que o brasileiro poupa para a
aposentadoria nessa modalidade. Porém, a forte competição com
gestoras e seguradoras independentes levou os bancões a, no segundo
semestre do ano passado, zerar não só as taxas para o Tesouro
Direto, mas também as taxas de carregamento para previdência
(porcentual cobrado a cada aplicação ou resgate dos planos, que
podia chegar a 5%).
“Quando
os bancos baixaram essas barreiras, sobretudo a taxa de saída
(cobrança para fazer o resgate do fundo), o investidor começou a se
mexer e a procurar instituições em que o dinheiro dele pudesse
render mais”, afirma Patrick O’Grady, presidente da Vitreo, gestora
digital lançada no fim de outubro pela Vectis Partners. Chamado de
“Superprevidência”, o fundo tem cotas de dez fundos do segmento com
gestoras do calibre do Verde, Adam e Ibiuna. Dos R$ 560 milhões
captados até agora, de 12 mil clientes, 15% são oriundos de
portabilidade.
“Com os
juros baixos, as pessoas não olham mais a rentabilidade da mesma
maneira. Hoje, 80% dos fundos de previdência estão alocados em
renda fixa. Assim, produtos mais elaborados, com ativos mais
rentáveis, chamam a atenção”, diz.
O fim
das taxas cobradas pelos grandes bancos incentivou ainda mais a
migração de recursos entre as instituições financeiras, num ano que
já estava mais fraco para essa modalidade. De janeiro a novembro de
2018, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos
Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), a captação líquida dos
fundos de previdência foi de R$ 24,9 bilhões – bem menos do que os
R$ 42,1 bilhões registrados no mesmo período do ano
anterior.
Com o
aumento da circulação de recursos no próprio segmento em detrimento
de dinheiro “novo”, o mercado foi marcado por um verdadeiro
“rouba-montes”.
Pelos
dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep), compilados
pela Siscorp, quem mais recebeu recursos líquidos de janeiro a
novembro de 2018 foi a Icatu Seguros (R$ 4,2 bilhões), seguida por
Itaú (R$ 3,7 bilhões) e pelo Banco Safra ( R$ 1,5 bilhão). Já as
instituições que mais perderam recursos foram Bradesco (R$ 3,9
bilhões), Banco do Brasil (R$ 3,4 bilhões) e MetLife (R$ 1,3
bilhão).
“O
mercado tem um estoque grande que estava bem concentrado. E agora,
com investidores na busca por mais rentabilidade e produtos
melhores, esses recursos começam a se espalhar”, afirma Henrique
Diniz, superintendente da Icatu Seguros. A plataforma tem mais de
230 fundos, de 70 gestores.
Ele
cita que houve a intensificação de um movimento iniciado em 2016 de
migração para fundos de previdência multimercado. “A mudança na
legislação permitiu que fundos de previdência pudessem aumentar a
sua alocação em ações, o que ajudou a criar produtos mais rentáveis
para diferentes perfis de investidor”, diz. No final de 2017, o
Conselho Monetário Nacional elevou de 49% para 70% a fatia de
patrimônio dos fundos de previdência de varejo que podem ser
alocados em renda variável.
Cláudio
Sanches, diretor de produtos de investimento e previdência do Itaú
Unibanco destaca que o banco passou a incentivar a portabilidade
dentro da própria instituição, de acordo com o perfil do
investidor. “Aumentamos a oferta de fundos de previdência mais
sofisticados, com renda variável e ativos no exterior”, diz. As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.