Por Geraldo Samor
A SulAmérica está se preparando para vender sua operação de seguros de automóveis e ramos elementares, que inclui produtos como seguro residencial e empresarial.
A seguradora dos Larragoiti disse hoje que recebeu da Allianz SE uma oferta indicativa e não vinculante para a aquisição de sua operação de autos.
Segundo a companhia, uma eventual transação “poderia resultar na concentração de suas operações nos segmentos de Saúde, Odontologia, Vida, Previdência e Gestão de Ativos.”
Mas fontes que acompanham a empresa há anos acham que isso pode ser apenas o primeiro passo em direção a mais desinvestimentos para um foco completo em saúde — o negócio que hoje faz quase 100% do lucro da seguradora.
“Quando você destrincha os números da SulAmérica e vai mais a fundo, você vê que a parte de auto e de ramos elementares tem um ROE [retorno sobre o patrimônio] muito abaixo da Porto Seguro e de outros players internacionais que atuam no Brasil. É certamente um ROE abaixo do custo de capital,” diz um gestor que acompanha a empresa há anos.
Além disso, o negócio de auto — a segunda maior linha de receita da companhia — ficou pequeno quando comparado ao de saúde, onde a inflação médica tem garantido reajustes anuais de 10% a 15% ao longo dos últimos anos.
Dos quase R$ 20 bilhões que a SulAmérica faturou no ano passado, R$ 15,6 bilhões vieram do setor de saúde e R$ 3,5 bi vieram de automóveis e outros ramos elementares.
“Quando vê Intermédica e Hapvida negociando na Bolsa aos múltiplos que estão, é impossível que não passe pela cabeça do controlador e do management as vantagens de ser tornar um pure play de saúde,” disse um gestor.
Isso não quer dizer que a SulAmérica ganharia na Bolsa o mesmo múltiplo das outras duas empresas de saúde. Por serem verticalmente integradas e por serem planos de saúde regulados apenas pela ANS (enquanto a SulAmérica é uma seguradora regulada pela Susep), Hapvida e Intermédica merecem um prêmio — ou, pelo menos, esta é a cabeça do mercado hoje.
O mercado aprovou o novo foco. Por volta de 13 horas, a ação da SulAmérica subia 5,5% na B3.
Num setor lutando por rentabilidade e até recentemente perdendo vidas, a SulAmérica tem um produto de saúde diferenciado. Ainda que sua sinistralidade seja mais alta que a das concorrentes verticalizadas (que controlam melhor seus custos por serem donas de seus próprios hospitais), ela tem sido mantida sob controle nos últimos anos. O tíquete médio da Sula também é mais alto que a concorrência, e seu ROE no segmento de saúde chega a quase 20%.
Cinco anos atrás, um gestor que visitasse o RI da SulAmérica ouvia sobre o valor da sinergia entre os vários produtos da empresa, que se orgulhava de ser uma seguradora multiproduto sob uma marca respeitada e centenária. Com o anúncio de hoje, o discurso deve ter mudado.