Geadas registradas no centro-sul do País têm prejudicado lavouras
de milho, cana-de-açúcar e café. Perdas têm sido
contabilizadas por produtores rurais de diversas regiões, o que
pode elevar ainda mais a percepção sobre a importância de se
contratar o seguro agrícola. Só entre janeiro e abril deste ano, o
número de contratações aumentou 41% em comparação com o primeiro
quadrimestre do ano passado, de acordo com a Federação Nacional de
Seguros Gerais (FenSeg).
“Para este ano, acompanhando os prognósticos meteorológicos, tudo
indicava que a geada aconteceria e seria severa”, explica Joaquim
Neto, presidente da Comissão de Seguro Rural da FenSeg,
à Globo Rural. As baixas temperaturas – e os seus efeitos
vistos nas lavouras – podem contribuir para um aumento da cobertura
na próxima safra, especialmente no café.
De
acordo com a entidade, os cafeicultores ainda não são muito adeptos
ao seguro. E os que contratam, em geral, priorizam a cobertura para
casos de granizo. Das 14 empresas que fazem seguro agrícola no País
e participam do Comitê da FenSeg, apenas seis operam com a
cobertura de geada para o café, segundo Neto.
“Logo após um evento catastrófico como esse que aconteceu, existe
uma maior percepção da necessidade de contratar o seguro”,
observa.
No
caso da cafeicultura, para que a contratação seja feita, são
essenciais informações como número de pés, área a ser assegurada e
idade do cafezal, explica o presidente da Comissão de Seguro Rural
da FenSeg. A indenização é estabelecida depois da avaliação de
um perito – engenheiro agrônomo que presta serviço para a
seguradora -, que identifica ocorrido (granizo ou geada, por
exemplo) e os danos causados. Conforme a incidência há uma
indenização.
Caso
o pé de café tenha até dois anos, quando ainda não há produção,
pode haver a necessidade do arranquio. Quando isso acontece, o
valor de indenização é de 100%, segundo Neto. “Se o dano não
foi tão grande, pode acontecer a recepa, ou seja, o corte próximo
ao chão, e a indenização é de 50%. Se a árvore tiver mais de dois
anos e for feita a recepa, a indenização é de 75% do que foi
contratado”, ele resume.
De
acordo com Aloisio Gois, proprietário da assessoria em seguro rural
Valleagro, dos 1,7 milhão de hectares de arábica no Brasil, só 160
mil têm seguro contratado. “Não chega a 10% de acesso ao seguro e a
gente acha que isso se deve porque o formato atual não é atrativo
ao produtor”, comenta.
Ele
ainda observa que os danos registrados atualmente pelas geadas no
Sudeste estão prejudicando a safra futura, que irá florescer em
setembro. “A safra corrente ou já colheu ou está colhendo e, nessa
fase, os grãos estão totalmente protegidos pelos ramos e folhas da
safra futura”, conta.
Indenização por produção
De
olho nesse mercado, a Valleagro e a Fairfax Brasil postam em um
formato diferente de seguro para café. De acordo com as empresas,
tradicionalmente, os contratos disponíveis são voltados para
garantir o pé de café. A proposta é de que a apólice indenize de
acordo com a produção. O cafeicultor seria ressarcido pelas perdas
na safra assegurada, considerando também os insumos e o valor das
sacas que deixou de colher.
“É
difícil fazer seguro de quantificação de produção, então partimos
para o dano direto causado à planta aplicado ao valor de produção,
definido pelo produtor”, diz Gois.
O diretor de agronegócio da Fairfax Brasil, Fabio Damasceno,
pondera que há um teto de precificação, que acompanha os preços da
commodity no mercado. O novo produto é voltado apenas para a
variedade arábica, já que o conilon está concentrado em regiões
mais quentes como Espírito Santo e Bahia.Outra característica
destacada por Damasceno é que será possível incluir na mesma
apólice as safras atual e futura. Isto porque, segundo ele, a
bienalidade da cultura influencia diretamente nas contratações de
seguro. “Quando a gente coloca a [safra] presente e futura, tira
essa volatilidade.” A expectativa é de atender 30 mil hectares
na safra futura, incluindo áreas das principais cooperativas de
café do País.
Outra opção de cobertura adicional é em relação ao trato
fitossanitário. Quando a planta do café sofre um impacto com
granizo e geada, os riscos de fungos e bactérias aumenta. Segundo
ele, neste produto oferecido pela Fairfax e Valleagro, são
indenizados R$ 200 por hectare para que haja tratamento, a exemplo
da aplicação de fungicidas. “É imprescindível que logo
depois seja feito um tratamento, com pulverizações devidas”,
comenta Gois.
O
valor das apólices pode variar de município para município, devido
às previsões climáticas, explica Fabio Damasceno. Exatamente por
perceber quanto a meteorologia pode contribuir para o planejamento
da safra, o executivo ainda revela que a Fairfax está em vias de
contratação de uma consultoria meteorológica.