Regras que permitem
aumento da competitividade são muito positivas
A Susep (Superintendência
de Seguros Privados) está introduzindo novas regras
para o seguro de veículos. Elas são muito
bem-vindas. Todas as regras que permitam a modernização, o aumento
da competitividade e uma maior disseminação dos seguros são muito
positivas, por isso as boas-vindas às novas regras.
Importante dizer que elas não suprimem o que existe no mercado, e
isto é o grande avanço. Não estão criando novas jabuticabeiras, nem
desestruturando o que existe.
A
proposta é aumentar a gama de opções à disposição do segurado,
dando a ele a possibilidade de escolher o desenho que melhor lhe
sirva, com os bônus e os ônus do seguro que escolher. As novas
regras não derrogam os modelos de seguros de veículos existentes.
Quem quiser, fica com o desenho tradicional, consolidado na década
de 1980, num case que deveria ser estudado porque, à época, foi uma
revolução sem precedentes na atividade.
Seguro de veículos era produto
marginal até anos 80 Foto: Werther Santana/Estadão – 5/6/2020
Até
a década de 1980, o seguro de veículos era um produto marginal,
malvisto pelas principais seguradoras, que brigavam pelos seguros
de vida, incêndio, lucros cessantes e transportes. Seguro de
automóvel era algo que se fazia quase que para atender às
necessidades dos segurados dos outros riscos, sem qualquer
sofisticação, sem maiores investimentos, sem levar em conta as
qualidades dos bons segurados – e o resultado era que, quem não
tinha sinistros, acabava pagando a conta do segurado que custava
caro para as seguradoras.
Na
década de 1980, a Porto
Seguro começou profunda revolução no seguro de
automóveis, investindo no produto, desenhando diferenciais que
atendessem aos segurados e oferecendo serviços até então inéditos.
As demais seguradoras entenderam o que estava acontecendo e também
passaram a investir na modernização de suas apólices. O resultado é
que, em pouco tempo, o seguro de veículos, de patinho feio, se
transformou na principal carteira do mercado, chegando a responder,
durante vários anos, por quase 40% dos prêmios. E até hoje sua
participação é importante, com a maioria das seguradoras de seguros
gerais tendo nele uma das principais fontes de receita.
Da
década de 1980 para cá, rolou muita água debaixo da ponte, e o
seguro de veículos mudou bastante, mas não nas coberturas básicas.
Estas eram e continuam sendo a cobertura do próprio veículo, danos
a terceiros e acidentes pessoais de passageiros, cada uma com suas
tipicidades. O seguro do casco pode garantir colisão, incêndio e
roubo ou apenas incêndio e roubo. O de danos a terceiros tem
garantia para danos materiais, corporais e morais. E a garantia de
acidentes pessoais dos passageiros é um seguro de acidentes
pessoais que cobre danos corporais aos ocupantes do veículo.
As
seguradoras, ao longo dos anos, passaram a investir nos bons
segurados, bonificando sua forma de utilizar o bem e agravando o
preço dos maus segurados, encarecendo o preço do seu seguro. Além
disso, acoplaram ao seguro uma série de serviços, mas, na essência,
o seguro de automóveis não mudou de 1980 para cá.
É
isto que está acontecendo agora. A Susep baixou novas normas que
modificam completamente o cenário, tirando das seguradoras e
entregando para o segurado o poder de desenhar o seu seguro,
escolhendo as garantias e seus limites dentro de um amplo rol de
possibilidades.
Como
as regras não são impositivas, as seguradoras que quiserem manter
apenas os seguros tradicionais estão livres para fazê-lo, da mesma
forma que é possível manter os seguros existentes e lançar novas
apólices, de acordo com as novas normas, ou simplesmente oferecer
apenas produtos com o novo desenho.
Cada
seguradora fará como preferir, dentro de seus planos de marketing e
aceitação de riscos. E isso é muito bom porque cria ampla gama de
novas possibilidades de seguros, aumentando o espectro da frota com
potencial para ser segurado.
Com
os avanços da tecnologia e a utilização de ferramentas de
inteligência artificial, o novo cenário do seguro de automóveis
abre uma enorme avenida para as seguradoras que quiserem entrar
nela e oferecer a milhares de proprietários de veículos, que hoje
não contratam seguro porque o custo/benefício não compensa, a
possibilidade de terem a proteção do seu bem, por um preço que
podem pagar.
*SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA E CHAR ADVOCACIA E
SECRETÁRIO-GERAL DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS