Para sobreviver ao endurecimento do marco regulatório no setor, as operadoras de saúde suplementar de pequeno e médio porte, alvo de sanções do governo e que têm aparecido com frequência na "lista negra" da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), precisam adotar novas estratégias, como mais parcerias.
Ontem, a ANS suspendeu a venda de 225 planos de 28 operadoras. Somadas, essas empresas suspensas têm cerca de 1,9 milhão de beneficiários, ou seja, 4% das pessoas atendidas por operadoras médico-hospitalares.
Uma alternativa para evitar o desaparecimento dessas empresas no mercado, apontada pelo especialista Luiz Marcatti, sócio da Mesa Corporate, seria a formação de grupos ou consórcio reunindo players pequenos e médios cujo trabalho conjunto tornaria possível o gerenciamento de hospitais e poderia favorecer o atendimento em laboratórios, por exemplo, dentro do prazos estabelecidos pela agência reguladora . "Com um marco regulatório cada vez mais rigoroso fica evidente que sozinhas as empresas menores não conseguirão sobreviver. Portanto para manter o padrão exigido e garantir a otimização dos custos vejo o agrupamento e os consórcios de players do setor como uma solução viável", disse Marcatti.
Para justificar sua posição, o especialista frisou o exemplo da Amil, que começou a administrar hospitais e melhorou o atendimento. "Uma empresa pequena e média não conseguirá seguir esse exemplo sozinha", explicou.
Ele também comentou que clima pode possibilitar uma onda de aquisições, mas algumas dessas empresas não são candidatas atraentes para as grandes companhias do setor porque as punições seguidas desvalorizaram as marcas e, além disso, o grande interesse dos concorrentes é a carteira de clientes que cedo ou tarde deve migrar a planos de melhor avaliação e atendimento.
Histórico
A Resolução da ANS começa a vigorar na próxima segunda-feira (14) e vai até março. É a terceira punição consecutiva determinada pela agência, que já havia proibido a venda de 268 planos de saúde de 37 operadoras em julho do ano passado. Três meses depois [em outubro], a agência impediu a comercialização de 301 planos de 30 operadoras.
O motivo do embate entre governo e operadoras é o descumprimento dos prazos estabelecidos para agendamento de exames, consultas e internações, que estão sujeitos a tempos de resposta definidos depois que a Resolução Normativa n. 259 entrou em vigor, em 2011. O cumprimento da norma é fiscalizado trimestralmente pela agência desde 2011, mas as punições começaram no ano passado.
Das operadoras presentes na lista divulgada ontem, 16 são reincidentes: Admedico Administração de Serviços Médicos, Excelsior Med, Green Line Sistema de Saúde, HBC Saúde, Operadora Ideal Saúde, Recife Meridional Assistência Médica, Saúde Medicol, SMS - Assistência Médica, Social-Sociedade Assistencial e Cultural, Unimed Brasília, Unimed Federação Interfederativa das Cooperativas Médicas do centro-oeste e Tocantins, Unimed Guararapes, Unimed Paulistana e a Universal Saúde Assistência Médica.
Segundo informações divulgadas pela assessoria de imprensa da ANS, as operadoras que voltaram a ser punidas responderão pelo não cumprimento da norma durante os quatro períodos de monitoramento, fato que acarretou a abertura de processo do regime especial de direção técnica para correção das anormalidades administrativas e assistenciais.
Punição
O relatório da agência reguladora que determinou as punições é referente ao período de monitoramento compreendido entre setembro e dezembro de 2012, durante o qual a ANS recebeu 13,6 mil reclamações de beneficiários pelo não cumprimento dos prazos máximos estabelecidos. Estas reclamações resultaram na suspensão da comercialização dos 225 planos de saúde.
O órgão também informou que os beneficiários destes planos não terão o atendimento prejudicado. Para que o plano possa voltar a ser comercializado será necessário que a operadora passe a observar os prazos máximos para atendimento previstos pela agência reguladora. Além do bloqueio de vendas, as empresas que não atendem à demanda estão sujeitas a multas - de R$ 80 mil a R$ 100 mil. Depois de a resolução completar de um ano, empresas reincidentes poderão ser submetidas à direção técnica - uma espécie de intervenção que prevê, entre as medidas, o afastamento dos dirigentes.
Empresas
Respondendo a solicitação da reportagem, a diretoria da Unimed Paulistana destacou, em nota: "Recebemos com surpresa, mas com naturalidade, a informação de que a Unimed Paulistana estará sob Direção Técnica da ANS [Agência Nacional de Saúde Suplementar]. Isso tem um aspecto positivo, pois a Agência poderá acompanhar mais de perto nossos esforços para melhorar o atendimento".
A operadora de saúde suplementar destacou que a manutenção da suspensão de alguns de seus planos não afetará o atendimento aos clientes.