Um estudo do Hospital A.C. Camargo traçou, pela primeira vez, o
perfil das pacientes brasileiras com câncer de vulva e mostrou que
43% delas recebem um diagnóstico tardio da doença.
O número é alto se comparado com os 10% de pacientes com câncer de
mama que também recebem o diagnóstico em estágio avançado.
A demora do início do tratamento, que aumenta as chances de o
tumor voltar ou se espalhar para outros órgãos, ajuda a explicar
outro dado preocupante sobre a doença: 43% das pacientes têm
recidiva e, dessas, 70% acabam morrendo.
Raro e agressivo, o câncer de vulva atinge, em média, uma mulher
a cada 100 mil -em comparação, o câncer de colo de útero afeta
cerca de 17 a cada 100 mil.
No Brasil, a cidade com maior incidência da doença é Recife, com
5,6 casos para 100 mil mulheres.
Mais de 80% das mulheres que desenvolvem a doença têm pouca ou
nenhuma escolaridade, aponta o estudo. "A falta de informação,
associada à falta de higiene, aumentam o risco do câncer se
desenvolver", afirma Rafael Malagoli, principal autor do estudo e
pesquisador do Centro Internacional de Pesquisa do Hospital
A.C.Camargo.
A higiene íntima inadequada pode levar a um aumento de processos
inflamatórios.
Segundo Marcelo de Andrade Vieira, médico do departamento de
ginecologia oncológica do Hospital de Câncer de Barretos e que não
esteve envolvido no estudo, essas pacientes já vão com menos
frequência ao médico.
"Para elas, a lesão pode ser considerada normal. E muitas têm
vergonha de buscar um atendimento médico."
O principal sintoma do câncer é uma ferida que não cicatriza e
que pode começar como um pequeno caroço, uma coceira ou uma mancha
que tende a aumentar.
Segundo os especialistas, a prevenção requer apenas a avaliação
ginecológica regular para que o médico possa fazer o exame visual
do órgão genital externo feminino.
IDADE
De acordo com o artigo, publicado no periódico "Gynecology and
Obstetric Investigation", o câncer de vulva sempre foi
tradicionalmente associado à terceira idade, mas tem atingido
mulheres mais jovens por causa das infecções pelo HPV.
"Os fatores de risco tradicionais são alcoolismo, tabagismo e
inflamações, mas outro fator importante é a infecção pelo HPV, que
já é responsável por cerca de 50% dos casos de câncer de vulva",
afirma Malagoli.
No grupo do estudo -foram analisados dados de 300 mulheres
atendidas no Hospital A.C. Camargo entre 1978 e 2009-, a idade
média de início da doença foi de 70 anos, mas o câncer afetou
mulheres de 15 a 98 anos.
Marcelo Vieira também vê essa tendência no Hospital de Câncer de
Barretos. A instituição atende de 15 a 20 casos de câncer vulvar
por ano.
O número é relativamente alto, segundo o médico, porque o
hospital recebe pacientes de todas as regiões do país, incluindo um
grande número do Norte e Nordeste.