Uma criança que não se relaciona bem com as outras e que não
atende aos chamados dos pais apresenta características semelhantes
às do autismo, mas esse isolamento pode significar outros
problemas, alerta a psicomotricista Eliana Rodrigues Boralli Mota.
Na Associação dos Amigos da Criança Autista (Auma), uma entidade
sem fins lucrativos localizada na zona norte da capital paulista,
Eliana atendeu, por exemplo, uma criança diagnosticada como
autista, mas que sofria, na verdade, de deficiência auditiva.
Desde que fundou a Auma, há 25 anos, Eliana já orientou muitos
pais que receberam diagnóstico errado de seus filhos. Um dos alunos
atualmente atendido pela associação chegou com diagnóstico de
autismo e de surdez e por isso usava um aparelho auditivo. A
psicomotricista conta que suspeitou do diagnóstico e descobriu que
ele não tinha problema auditivo algum. "O aparelho só sacrificava a
vida da criança, tornava o mundo [mais] barulhento, infernal para
ele, [já que] usava o aparelho sem necessidade".
A diretora da entidade, Rosy Pomeranclblum, lembra-se de como
foi difícil a chegada do garoto à associação. "Ele chegou aqui
nervoso, enlouquecido, usando o aparelho auditivo. Imagina ampliar
os sons [e sem ser surdo]". Segundo ela, é muito difícil o
diagnóstico de autismo e os próprios psiquiatras têm
dificuldade.
Além da surdez, explica Eliana, o autismo pode ser confundido
com outras síndromes, traumas ou psicoses. Segundo ela, não existe
nenhum exame clínico que diagnostique o transtorno de forma segura.
"O diagnóstico é baseado na observação comportamental. Há uma
relação de características que determinam se a pessoa é ou não
portadora de Transtorno Invasivo de Desenvolvimento [TID], em que o
autismo está inserido".
Outro problema é a demora em reconhecer o autismo. Carlos
Roberto Aragão, supervisor de almoxarifado, tem um filho autista de
10 anos chamado Diego. Ele conta que teve ajuda da associação para
chegar ao diagnóstico. "No início, eu percebia que ele era
diferente das outras crianças, porque não se enturmava. Ele ficava
sempre separado, brincando sozinho".
Para tentar ajudá-lo a interagir com outras crianças, Carlos
matriculou o filho em uma escola regular, quando tinha 3 anos de
idade. O menino ficou ali por um ano, mas o ensino não surtiu
efeito e os professores também não perceberam os sinais de autismo.
Com 4 anos, ele foi levado à Auma, onde foi orientado, recebeu o
diagnóstico correto e passou a frequentar as aulas.
Hoje, Carlos avalia que o desenvolvimento do filho tem avançado,
ainda que de forma lenta. "É tudo muito demorado, muito lento.
Quando você convive diariamente, se acostuma, é difícil perceber [o
desenvolvimento]. Mas tem gente que viu ele há algum tempo, vê
agora [e percebe] muita diferença".
A própria Eliana já passou pelo sofrimento de receber o
diagnóstico. Ela tem uma filha de 27 anos, a Natália, que é
autista. "Nesse dia, eu morri. Morri por um ano. Tive a sensação de
que o mundo tinha desabado e eu não conseguia sair de debaixo dos
escombros. Chorei muito, fiquei deprimida e só continuo
existindo porque o amor que tenho pela minha filha é e sempre será
maior do que a dor que sinto".
Ela também precisou enfrentar a dificuldade de obter o
diagnóstico correto para Natália. "Naquela época, o diagnóstico
ainda era uma coisa assombrosa, difícil de se alcançar", recorda.
Atualmente, o encaminhamento para o diagnóstico pode ser feito por
pediatras, neurologistas, psicólogos, fonoaudiólogos e educadores.
O laudo de autismo para finalidades jurídicas, porém, pode ser
emitido apenas por médico psiquiatra.