Um remédio que acaba de chegar ao Brasil reduz o número de injeções usadas nas fertilizações in vitro (FIV). Uma única injeção da medicação equivale às sete que as pacientes recebem hoje durante o tratamento.
A partir desta semana, a nova droga deve começar a ser oferecida em algumas clínicas privadas.
O medicamento (corifolitropina alfa), assim como outros que já existem no mercado, induz o ovário a produzir vários óvulos maduros, e não apenas um por mês, como geralmente ocorre.
A diferença é que a nova droga tem ação prolongada e pode ser administrada em uma dose única, substituindo as atuais injeções diárias.
O preço, porém, é similar ao do tratamento convencional: varia entre R$ 1.800 e R$ 2.800 (dependendo da dose).
A corifolitropina alfa é uma proteína criada por meio de um método chamado tecnologia de DNA recombinante: uma célula recebe um gene que a torna capaz de produzir a substância.
As picadas diárias, por no mínimo uma semana, são uma das razões que levam ao abandono do tratamento após a primeira tentativa de fertilização fracassada, dizem os médicos. Nos EUA, a taxa de desistência é de 40%.
"A nova droga pode tornar o tratamento mais 'amigável', facilitando a vida das mulheres. Não vai revolucionar a indução da ovulação para a reprodução assistida, mas pode minorar e simplificar os protocolos já existentes", diz Artur Dzik, diretor científico da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.
O ginecologista Arnaldo Cambiaghi lembra que, além de haver o incômodo das injeções diárias e, às vezes, a necessidade de deslocar-se até a clínica para as aplicações, as mulheres precisam seguir à risca o horário das injeções, o que afeta o dia a dia.
INDIVIDUALIZAÇÃO
Para o médico Edson Borges, apesar de trazer mais comodidade às mulheres, o novo remédio pode levar a uma perda da individualização do tratamento.
Segundo ele, nem todas as mulheres respondem de maneira igual à medicação. "Sabemos que, em alguns casos, devemos utilizar outras drogas ou mudar a dosagem para melhorar os resultados."
O ginecologista Eduardo Motta, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), faz ponderação semelhante. "Precisamos ter cuidado. Se houver uma 'hiperresposta' do ovário, não será possível revertê-la porque a medicação estará agindo por seis ou sete dias", diz ele.
Ainda há incerteza sobre o desempenho da droga em mulheres mais velhas porque os estudos clínicos que levaram à sua aprovação na Europa e no Brasil consideraram o peso corpóreo, e não a idade das pacientes.
"Uma mulher de 28 anos e outra de 40 anos respondem à medicação de formas diferentes. Acho que vamos ter que 'temperar' ao nosso critério, dependendo do perfil da paciente", diz Cambiaghi.
Na opinião do ginecologista Ricardo Baruffi, mais estudos englobando um conjunto maior de diferentes grupos de pacientes deveriam ser realizados antes de encarar a nova droga "com euforia".
O remédio é administrado por injeção subcutânea: uma dose de 100 microgramas para mulheres que pesam 60 kg ou menos e uma dose de 150 microgramas para as que têm mais de 60 kg.