Os participantes do programa Mais Médicos formados no exterior começam hoje o treinamento de três semanas pelo qual têm que passar para começar a trabalhar no Brasil.
Apenas na Universidade de Brasília (UnB), devem ser 176 cubanos, que vêm por meio de uma parceria com o governo da ilha, intermediada pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS); e 23 de outros nacionalidades, que ingressaram no programa pela seleção individual. Em todo o Brasil, são 400 cubanos e 244 de outras nacionalidades, inclusive brasileiros formados no exterior.
Os cubanos vieram com um discurso ensaiado. Todos dizem que estão aqui por solidariedade ao povo brasileiro, com o propósito de ajudar.
— Estamos aqui para ajudar o povo brasileiro. Só queremos ajudar. Queremos receber o mesmo carinho do povo brasileiro — afirmou a cubana Ana Sanches.
— Primeiro, a solidariedade com o povo brasileiro, prestar ajuda aos mais necessitados — acrescentou Jacqueline Valido, outra cubana, que veio acompanhada do esposo, também médico.
Sobre o salário, a maioria evita falar. Os médicos da seleção individual vão receber R$ 10 mil, mas os cubanos terão parte desse dinheiro retido pelo governo de Cuba. Na sexta-feira, o ministério informou que o salário dos cubanos deve variar de R$ 2,5 mil a R$ 4 mil. Quem fala sobre o salário costuma ser evasivo.— Nosso salário fica em Cuba. Aqui é um dinheiro para os gastos — afirmou Jacqueline.
Muitos dos cubanos já passaram por outros países. É o caso de Yanisleydis Ledea, que já trabalhou três anos na Venezuela e seis meses no Paquistão, e de Arle Gonzalez, que passou dois anos na Guatemala e três na Venezuela.— Queremos ajudar o Brasil em suas dificuldades, nos povos mais necessitados com a saúde — destacou Gonzalez.
Os cubanos dizem que não sabem ainda para quais cidades serão encaminhados para trabalhar. Já os outros médicos em treinamento na UnB possuem, já definidas, as cidades de atuação. É o caso do venezuelano Arkangel Ruiz Medina, que vai para Manaus. Ele relatou que já estava acostumado a atender brasileiros em Santa Elena, na Venezuela, na divisa com Roraima.
— Em Santa Helena, há muitos brasileiros. Atendi muitas mulheres grávidas, acidentes de trânsito de brasileiros que estiveram lá — disse ele, que respondeu em espanhol.Questionado se teria dificuldade com a língua, respondeu:— Poderia ser. No entanto, nós estamos fazendo ênfase para dominar o idioma. Porque é muito parecido o português ao espanhol. Quando falam devagar, eu entendo. Ele também fez críticas à oposição das entidades médicas brasileiras à vinda de estrangeiros.
— Ninguém é dono da verdade. Cada um tem seu ponto de vista. Reconheço o selo do Conselho Médico conosco. Não temos medo. Mas, sim, queríamos que fosse um exame básico, normal, não com más intenções para não aprovar. A medicina, no nível mundial, é muito parecida. Um braço não vai mudar do Japão para cá. A anatomia é igual.
No grupo está o brasileiro Diego Dorneles, formado em fisioterapia no Brasil e em medicina na Venezuela. Ele é do Rio Grande do Sul e vai trabalhar em Boa Vista, onde já morou e onde atualmente vive a mãe dele. Ele é outro a criticar a oposição à vinda dos médicos de fora.
— Em outros países, como Alemanha, França, eles já recebem esses médicos e não criam tanta burocracia para poder revalidar seu diploma.
O módulo de acolhimento e avaliação é constituído de 120 horas de curso, dos quais 40 são para língua portuguesa e 80 para políticas de saúde e funcionamento do SUS. No material didático há uma cartilha de português e textos elaborados pelos órgãos de saúde brasileiros.Em Brasília, a tutora do programa é a professora Elza Ferreira Noronha, da UnB. Ao todo, a universidade terá 25 professores no módulo. Neste primeiro dia, será feito um trabalho mais administrativo, de organização do programa e dos papéis dos estrangeiros. Depois começará o curso e, por fim, haverá uma avaliação.— O curso é interativo, com apresentação de vídeos, visitas a campo.
Depois o médico vai ser solicitado a fazer, se expressar oralmente e na escrita sobre as atividades desenvolvidas. Eles vão ser avaliados na capacidade de interpretar e reproduzir as situações vividas — explicou Elza.