O Ministério da Saúde negou nesta segunda-feira (26) que a bolsa
de R$ 10 mil paga aos profissionais inscritos no Programa Mais
Médicos, do governo federal, seria descontada dos valores
repassados aos municípios no Programa Saúde da Família. De acordo
com a assessoria da pasta, os recursos do Saúde da Família estão
assegurados e continuarão sendo repassados para as prefeituras.
Quanto à bolsa do Mais Médicos, o ministério informa que os valores
serão pagos diretamente para os profissionais, sem repasse aos
municípios e que o dinheiro vem de recursos próprios da pasta
Em audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado do Rio
de Janeiro (Alerj), organizada pela Comissão de Assuntos Municipais
e Desenvolvimento Regional, o deputado federal Luiz Henrique
Mandetta (DEM-MS) disse que a bolsa que os médicos receberão no
programa seria descontada do Programa Saúde da Família.
O deputado acusa o governo federal de usar trabalho escravo,
referindo-se ao convênio para a vinda dos médicos de Cuba e que os
prefeitos serão responsabilizados por qualquer erro médico que
venha a ser cometido por eles. O Ministério da Saúde esclareceu que
a responsabilidade pelos erros médicos cometidos por estrangeiros
será compartilhada com o brasileiro encarregado da supervisão de
seu trabalho.
A presidenta da comissão, a deputada estadual fluminense
Clarissa Garotinho (PR) informou que o Ministério da Saúde foi
convidado a participar do debate, “mas respondeu que não tinha
ninguém capacitado disponível para o dia”.
Na audiência, as entidades médicas voltaram a fazer críticas ao
programa. O presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro
(Sinmed-RJ), Jorge Darze, chamou de “chacota” e “blefe” a situação
jurídica criada pela Medida Provisória (MP) 621, que institui o
Programa Mais Médicos. Ele diz que defende a categoria e que não há
condições de trabalho em muitos municípios do país.
“O médico brasileiro tem responsabilidade, nós não somos
curandeiros, não nos preparamos durante seis anos de faculdade,
mais quatro ou cinco de pós-graduação para ficar fazendo trabalho
improvisado. Nos interiores lamentavelmente nós estamos em uma
situação muito difícil, porque as prefeituras não têm recursos para
manter o sistema funcionando de maneira adequada, as secretarias,
principalmente as estaduais, não têm desempenhado o papel de
estabelecer regras para ajudar esses municípios e garantir a
assistência da população”, disse.
Para Darze, os médicos estão sendo usados como desculpa pelo
governo federal pelo mau funcionamento do Sistema Único de Saúde.
“Então o que sobra é encontrar alguém que seja responsável pela
situação. O que a presidenta Dilma fez foi tentar identificar no
médico o algoz da população, aquele que tem ódio da população, que
não quer tratar da população, como se isso de fato fosse verdade.
Esse engodo merece de todos nós uma resposta dura. Nós queremos
médicos no interior, nós queremos que a população seja atendida,
mas que não seja atendida de qualquer maneira”.
O representante do Conselho Regional de Medicina do Estado do
Rio de Janeiro (Cremerj) Sidnei Ferreira diz que a MP fere a Lei
3.268, que dispõe sobre os conselhos de Medicina e impõe a
revalidação do diploma dos formados no exterior, pois exige que as
entidades concedam o registro provisório para os inscritos no
Programa Mais Médicos.
“A medida provisória diz que essas leis não vão ser usadas. Eu
acho então que não é uma medida eleitoreira, isso é um diploma que
o governo federal recebe de todos nós de incompetência, porque em
oito anos de Fernando Henrique, oito anos de Lula e quase quatro
anos de Dilma, nós não temos uma diretriz da saúde pública, da
educação, da habitação, nem transporte. Nós não temos nenhuma
diretriz nacional. E alguém senta e faz essa MP sem discutir com as
entidades médicas, de enfermagem. O que nós lutamos é por um
atendimento digno à população”.