A obesidade, doença crônica caracterizada pelo excesso de peso, atinge tanto adultos quanto crianças. De acordo com o Ministério da Saúde, uma em cada três crianças brasileiras sofre com a doença. Segundo a nutróloga e pediatra da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Claudia Hallal Alves Gazal a obesidade infantil deve ser tratada como um problema de saúde pública. "É importante falar sobre a prevenção, como evitar que os fatores de risco se instalem nas crianças, bem como detectar, tratar e reduzir a quantidade de complicações recorrentes da doença", opina.
A declaração foi concedida durante o 17º Congresso Brasileiro de Nutrologia organizado pela Abran (Associação Brasileira de Nutrologia).
Para a especialista, a prevenção deve ser realizada logo no início do pré-natal da gestante. "Já existem estudos que provam que qualquer tipo de problema logo no início da vida contribui para o excesso de peso a longo prazo, portanto é preciso avaliar e monitorar as grávidas", justifica. A orientação alimentar também deve ser feita da forma correta, bem como o acompanhamento do crescimento fetal intrauterino.
Outro fator que costuma contribuir para a obesidade infantil é a falta de aleitamento materno. A pediatra também aconselha evitar alimentos com excesso de açúcar e gordura logo no primeiro ano de vida da criança. "Esses estímulos dados para o bebê ajudam a modificar preferências futuras", afirma.
As curvas de peso também devem ser monitoradas, pois elas podem contribuir para identificar se a criança pode se tornar obesa. "A tendência é de que depois de um ano ocorra uma desaceleração de ganho de peso, caso a criança permaneça engordando ela tem mais risco de se tornar um adolescente obeso", destaca.
Para evitar esse tipo de situação, as atividades físicas são recomendadas em todas as faixas etárias, portanto o ideal é tirar a criança da frente dos aparelhos eletrônicos. "Os padrões mudaram, pois hoje as crianças são mais sedentárias e pelo menos 90% das menores de dois anos ficam muito tempo na frente do computador e da televisão", revela.
A pediatra indica reduzir o tempo de uso desses aparelhos para, no máximo, duas horas por dia. "Assim a criança evita mudar alguns padrões do tempo de sono, por exemplo, pois dormir pouco ajuda a desenvolver obesidade", completa.
A médica aponta ainda que é necessário intervenções de responsabilidade do setor público, privado e da sociedade para evitar que em 2020 existam 60 milhões de crianças obesas. "É necessário políticas de saúde pública, agrícolas, facilitação do transporte de produtos saudáveis e a promoção de atividades físicas", destaca.
Gazal afima ainda que a propaganda também tem um papel fundamental para evitar a obesidade. "O público infantil é vulnerável e é muito exposto a propagandas televisivas. 71,6% das peças publicitárias para crianças são de alimentos de fast food, doces e refrigerantes", alerta.
A pediatra ressaltou os esforços da Anvisa para regulamentar a propaganda direcionada para esse público. "73 países regulamentam e a Anvisa tenta desde 2010 fazer um controle e colocar alertas em alimentos com excesso de açúcar e gordura, mas é pressionada pela indústria de alimentos", finaliza.