Os parlamentares da Comissão de
Seguridade Social e Família querem que seja revogada a portaria do
Ministério da Saúde (1.253/13) que altera os critérios para a
realização de mamografia pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e
prioriza o exame para mulheres com idade entre 50 e 69 anos de
idade.
A medida não proíbe a realização
do exame antes dessa idade, mas nem sempre os municípios têm verbas
para isso. De acordo com os deputados que solicitaram a audiência
pública para discutir a portaria, Carmem Zanotto (PPS-SC) e Eleuses
Paiva (PSD-SP), o dispositivo contraria lei (Lei 11.664/08) que
determina que toda mulher a partir dos 40 anos tem direito a
realizar mamografia pelo SUS.
De acordo com o representante da
Sociedade Brasileira de Mastologia, José Luis Francisco, a
mortalidade no câncer de mama no Brasil vem crescendo. Ele explicou
que a orientação de fazer o rastreamento, que é o exame realizado
em toda a população, independentemente da orientação específica, a
cada dois anos, na população de 50 a 69 anos é muito espaçado,
porque o tumor cresce muito nesse período.
Durante audiência pública
promovida pela comissão nesta terça-feira (25), o especialista
acrescentou que 26% dos casos de câncer de mama ocorrem entre 41 e
50 anos. O presidente do Conselho Técnico Científico da Federação
Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama
(Femama), Ricardo Caponero, afirmou que quanto mais demorado for o
diagnóstico, mais profunda a cirurgia e serão necessárias mais
sessões de quimio e radioterapia.
Mortes
A coordenadora-geral de Atenção às
Pessoas com Doenças Crônicas do Ministério da Saúde, Patrícia
Sampaio, afirmou que o desafio do ministério é diminuir a
mortalidade por câncer de mama. Ela ressaltou que todas as
pesquisas e a maior parte dos sistemas de saúde do mundo mostram
que é no grupo de 50 a 69 que ocorre o maior número de mortes. Para
diminuir essas mortes, teria de haver uma cobertura de 70% desse
grupo, mas hoje ele é inferior, apesar de o País ter
disponibilidade do exame.
Patrícia Sampaio informou que para
atingir esse número entre as mulheres que usam o SUS, seriam
necessárias 4,1 milhões de mamografias anuais. O sistema realiza
4,6 milhões, mas apenas 50% nesse grupo, que o ministério acredita
que seria o que teria a maior chance de diminuição da mortalidade.
“Todos os estudos que a gente tem tratam da faixa etária entre 50 a
69 anos. Uma coisa é falar de incidência, mas o rastreamento não
trata só do número de casos. Tenho de olhar a incidência e o
tratamento e o resultado que eu vou ter de queda de
mortalidade.”
Frente a um auditório composto em
grande maioria de mulheres que tiveram câncer de mama antes dos 50
anos, o deputado Eleuses Paiva chamou a atenção para o fato de que
não se trata de números, mas também de vidas, que podem ser
beneficiadas pela detecção precoce. “Se nós formos trabalhar de 50
a 69 anos, eu não tenho dúvida que ai está o maior benefício
estatístico. Isso está claro na literatura. O problema é que tem
gente de 40 a 50 anos que, quando diagnosticado precocemente e
dependendo da linhagem desse tumor, vai sobreviver e não vai morrer
e vai ter boa qualidade de vida. É pra isso que vocês estão virando
as costas.”
O deputado Mário Henringer
(PDT-MG) chamou a atenção para o fato de que essa restrição
deseduca e faz perder todo o esforço de conscientização que os
médicos fazem sobre a importância dos exames
preventivos.
A deputada Érika Kokay (PT-DF),
apesar de defender a política do ministério, afirmou que é preciso
rever a portaria.