Adquirida há um ano e oito meses pela americana UnitedHealth por quase R$ 10 bilhões, a Amil , a maior operadora de planos de saúde do país, tornou-se mais rigorosa nas negociações de preço e em práticas internas e, mesmo dedicada a reformular suas operações, continua fechando aquisições. Neste primeiro semestre, comprou três hospitais e um convênio médico que demandaram investimentos de R$ 400 milhões.
A Amil comprou os hospitais Monte Claro (Fortaleza), ISO (Santos) e Carlos Chagas (Guarulhos), sendo que este último possui planos de saúde e dental. E o maior empreendimento da companhia também será inaugurado neste ano, em julho: o Hospital das Américas, no Rio, onde foram investidos R$ 500 milhões.
No front operacional, o foco é a implementação de uma moderna plataforma tecnológica americana para controlar custos médicos. Esse sistema é um dos grandes diferenciais da UnitedHealth nos Estados Unidos.
A plataforma tecnológica é da Optum, empresa da UnitedHealth especializada em tecnologia voltada à saúde. O sistema americano está passando por uma “tropicalização”. Consegue por exemplo, reunir o histórico médico do paciente e indicar o tipo de tratamento mais adequado, com base em estudos científicos. A ideia é que os dados sejam compartilhados com consultórios e hospitais.
“Em janeiro do ano passado, iniciamos um projeto piloto na nossa rede própria que deve se estender pelo menos até o fim deste ano. Com a tecnologia, conseguimos usar melhor os nossos recursos, controlar custos e ter maior competitividade no setor”, disse ao ValorErwin Kleuser, diretor de orçamento e planejamento estratégico da Amil.
O objetivo da UnitedHealth é que a Optum preste serviços também para as demais empresas do setor e para a área pública da saúde no Brasil. Nos Estados Unidos, a Optum trabalha para concorrentes da United e para os programas públicos Medicare e Medicaid. A Optum teve receita de US$ 38 bilhões no ano passado. Já o grupo UnitedHealth registrou receita de US$ 122,4 bilhões, com aumento de 10% em relação a 2012.
O sucessor de Edson Bueno, fundador e ex-controlador da Amil, é outro tema recorrente nos corredores da Amil. Uma das missões de Bueno é capacitar um jovem executivo, entre 40 e 50 anos, para substitui-lo até 2017. Mas, de acordo com pessoas próximas à companhia, Bueno ainda não encontrou essa pessoa. Segundo Kleuser, Bueno já tem em seu radar cerca de cinco nomes da própria Amil.
A chegada do novo controlador, a escolha do sucessor de Bueno e a adoção do modelo americano de gestão têm gerado um clima de incertezas e insatisfações para vários executivos da Amil, em especial, aqueles que trabalham há décadas na companhia e são considerados peças-chave dentro da operadora, segundo o Valor apurou.
“Quando há uma transação, marcada por ter sido o maior investimento americano direto em uma empresa brasileira, é natural que haja insegurança. A sucessão é um processo natural, mas não há em andamento um processo de passar o bastão para os americanos”, disse Kleuser.
Até o momento, apenas um executivo da UnitedHealth foi transferido para o Brasil: o americano Kevin Knarr, que ocupa a diretoria de operações. Também foi contratado um brasileiro para cuidar da área de ‘compliance’ (conjunto de regras para fazer cumprir normas legais e internas da companhia) que se reporta diretamente à United, nos Estados Unidos.
“Antes [da United Health comprar a Amil] era mais fácil negociar descontos [com a Amil]“, diz uma fonte do setor de saúde. “Hoje, quem está lá dentro [da Amil] não cede esses abatimentos porque precisa passar pelo ‘compliance’ “, complementa, a fonte. Kleuser, da Amil, é taxativo: “Trabalhamos com um sistema automatizado, que precifica se o contrato é rentável. Se não for, não fechamos”.
Ainda de acordo com fontes do setor, a insatisfação de parte da equipe já se reflete no resultado da Amil. “Algumas pessoas com posições relevantes dentro da empresa cruzaram os braços. O setor de saúde exige negociações diárias com hospitais, laboratórios, médicos. E quando se baixa a guarda de um negócio com margens apertadas, o prejuízo é inevitável”, disse uma fonte. Em 2013, a Amil teve prejuízo de R$ 43,5 milhões e neste ano, segundo avaliações do setor, a empresa poderá fechar no vermelho de novo. Em 2012, a Amil registrou lucro de R$ 82 milhões.
Questionado sobre o desempenho negativo no ano passado – quando os custos médicos cresceram em proporção superior ao aumento da receita -, o diretor da Amil informou que o resultado não tem relação com uma possível desmotivação da equipe. “Esse resultado é devido a uma combinação de fatores como elevados custos médicos, redução do prazo de atendimento para consultas médicas e adequação do balanço para o padrão americano, que é mais conservador em provisões e amortizações. Mas neste ano, o resultado já será melhor”, afirmou Kleuser.