Falco, CEO da Petplan: “A Petplan é um seguro saúde devidamente registrado [na Susep] e com reservas financeiras”.
“Não trabalho com plano de saúde. A remuneração é muita baixa porque as operadoras querem ganhar na quantidade de clientes”. A reclamação em questão é típica de um médico. Mas, não é. A queixa vem da veterinária Daniela Mol Valle, cujo consultório fica em Higienópolis, bairro paulistano conhecido por ser reduto de cães de estimação.
Nos últimos anos, diante da expansão do mercado ‘pet’, surgiram dezenas de planos de saúde voltados para cães e gatos. Mas vários deles quebraram – pelo mesmos motivos que levaram à bancarrota convênios médicos para humanos. Entre essas razões estão a falta de reservas financeiras para cobrir sinistros elevados, planos de saúde com mensalidades mal precificadas, insatisfação do médico com a remuneração.
Passado esse período, outras operações, mais profissionalizadas, chegam ao mercado. Entre elas, estão a inglesa Petplan, que tem registro na Susep (Superintendência de Seguros Privados) e 1 milhão de clientes no mundo, e a brasileira Health for Pet. Esta tem como sócios dois diretores e um ex-executivo da Amil, que investiram R$ 9 milhões no plano, lançado neste mês.
Há controles sofisticados. Um exemplo: os cães contemplados com um plano de saúde têm um microchip inserido sob sua pele, contendo seu histórico médico e dados indicando se a mensalidade do plano está em dia.
Fundada há 35 anos na Inglaterra, a Petplan chegou ao Brasil em 2011, mas as vendas do produtos começaram efetivamente há um ano. “A Petplan é um seguro saúde devidamente registrado e com reservas financeiras. Essa provisão é necessária porque temos planos que cobrem procedimentos de até R$ 16 mil”, diz Marcello Falco, CEO da Petplan no Brasil. O seguro da Petplan foi desenvolvido pela Allianz, mas a gestão e cobertura dos sinistros são feitas pela seguradora australiana QBE, que tem expertise nesse segmento.
Segundo Falco, a Petplan já possui no país 10 mil clientes, que pagam em média R$ 80 por mês. Atualmente, o plano destina-se exclusivamente a cães residentes em São Paulo. A empresa acabou de fechar um aporte com investidores nacionais em troca de uma fatia minoritária da operação brasileira. “Os recursos serão usados para suportar nosso crescimento. Nos próximos três anos, queremos expandir de Salvador para baixo” disse o executivo. Antes da Petplan, Falco foi executivo da NotreDame, seguradora do grupo Intermédica, e prestou consultoria para fabricantes de ração para animais de estimação.
A Health for Pet também chega ao mercado com profissionais com larga experiência. O presidente da Health for Pet, Fernando Leibel, foi da Amil durante os últimos 20 anos e seus outros dois sócios ainda trabalham na operadora de planos de saúde. “Uma ressonância para animal chega a custar R$ 1,8 mil. O valor é elevado porque não há escala, mas não há volume porque os veterinários não solicitam esse tipo de exame por causa preço. É um ciclo vicioso e um plano de saúde oferece escala e pode reduzir o custo”, disse Leibel, que deixou a Amil em abril deste ano. Leibel e seus outros dois sócios investiram R$ 3 milhões, cada, na Health for Pet, cuja festa de lançamento no começo do mês contou com a presença de 1,4 mil corretores.
A fim de atrair veterinários para sua rede credenciada, a Health for Pet pretende financiar a aquisição de equipamentos médicos de alto custo para os profissionais da área. A meta de Leibel é ter 7,2 mil usuários no primeiro ano de atividades.
O custo dos planos para cachorros da Petplan vai de R$ 49,90 a R$ 149 e da Health for Pet, oscila de R$ 59,90 a R$ 230. A precificação segue a mesma premissa aplicada nos nossos convênios médicos. Para cálculo do custo também são consideradas doenças preexistente e a raça do animal. Isso porque em um grupo de cerca 30 raças – como buldogue, pastor alemão, são bernardo, dog alemão e shar-pei – há maior predisposição para surgimento de doenças
“No mundo, temos mais de 1 milhão de usuários. Durante um ano, estudamos os dados dessa carteira e tropicalizamos para a realidade brasileira. Com isso, conseguimos avaliar os riscos, os valores adequados para os planos e carências”, disse o CEO da inglesa Petplan.
A estratégia da Health for Pet para concorrer com a seguradora inglesa é o cadastro de um grupo de 80 veterinários que atendem na casa do cliente – figura inspirada no médico de família. “Em um atendimento domiciliar, o veterinário faz uma consulta mais completa, cria vínculo com o dono do animal e recebe uma melhor remuneração. Não queremos repetir os problemas que existem com planos para humanos”, explica Leibel.
O presidente da seguradora inglesa garante que não há defasagem na remuneração para os profissionais da área como acontece nos convênios médicos. Segundo Falco, a Petplan paga ao veterinário R$ 61,20 por uma consulta simples, que para clientes particulares gira em torno de R$ 80. A Petplan tem a seu favor uma parceria exclusiva com a Pet Center Marginal – rede com 27 lojas que vendem produtos para animais, clínicas e um hospital veterinário em São Paulo. “A negociação levou um ano. Fomos muito cautelosos porque muitos planos para cachorros quebraram há alguns anos”, disse Helio Freddi Filho, diretor de expansão da Pet Center Marginal. Somente no primeiro semestre deste ano, foram vendidos 3 mil seguros nas lojas. As clínicas e o hospital da Pet Center Marginal fazem parte da rede credenciada da seguradora inglesa.