O Tribunal de Contas da União (TCU)
realiza auditoria para analisar se os reajustes de planos de saúde
estão acontecendo de forma adequada no País. No ano passado, os
planos individuais tiveram reajuste de até 9,65%, enquanto os
coletivos tiveram um aumento médio de 18%, com casos extremos de
reajustes de até 90%.
Segundo o TCU, o processo que trata
de auditoria sobre reajuste de planos de saúde individuais e
coletivos não pode ser comentado porque ainda está em
andamento.
A advogada especialista em direito
à saúde Renata Vilhena Silva, do escritório Vilhena Silva Advogados
– uma das fontes consultadas pelo TCU –, afirma que o foco da ação
do tribunal é fiscalizar se há ineficiência da Agência Nacional de
Saúde Suplementar (ANS) como órgão regulador.
Renata elenca uma série de fatores
que levaram a essa auditoria, como os constantes abusos das
operadoras e empresas do setor, o número crescente de reclamações,
além da movimentação de grandes grupos que tornam praticamente
impossível a adquisição de um plano individual hoje. Segundo dados
da ANS, cerca de 80% dos planos de saúde hoje no País são
coletivos.
“As operadoras vêm silenciosamente parando de comercializar os
planos individuais porque os reajustes são regulamentados pela ANS,
enquanto os planos coletivos não têm um órgão regulador", explica
Renata.
Para a advogada, a ANS não cumpre o
papel de regulamentar o serviço, que está "cada vez pior" com a
proliferação de planos coletivos. “Além do risco de altos
reajustes, neste tipo de plano, as seguradoras podem desligar o
cliente a qualquer momento e interromper o serviço. Muitas vezes, o
beneficiário só percebe quando vai usar o plano. Já nos
individuais, a decisão de rescindir o contrato não pode partir da
operadora, uma vez que o serviço só pode ser interrompido por falta
de pagamento”, destaca a advogada.
Planos individuais X
coletivos
Levantamento do Idec indica que
apenas 8 entre as 20 maiores operadoras que atuam em São Paulo
comercializam planos individuais. Em números absolutos, 40% das 20
maiores operadoras de São Paulo oferecem planos individuais. No
entanto, como as operadoras grandes não vendem planos individuais,
a fatia do mercado que essas oito operadoras representam é bem
menor: juntas, elas concentram cerca de 1,3 milhão de usuários em
São Paulo, o que é apenas 28% dos 4,7 milhões de clientes que as 20
maiores empresas detêm.
"Os planos coletivos são
economicamente mais atrativos para as empresas, pois, além de os
reajustes anuais não serem regulados, as operadoras podem rescindir
o contrato unilateralmente se o plano começar a dar 'prejuízo'. Daí
o interesse delas em deixar de comercializar planos individuais",
afirma Joana Cunha, advogada do Instituto Brasileira de Defesa do
Consumidor (Idec).
Operadoras ressarciram SUS
em R$ 673 milhões em 4 anos
Segundo dados do Ministério da
Saúde (MS), entre janeiro e novembro de 2014, o valor arrecadado
pela ANS, referente ao ressarcimento ao Sistema Único de Saúde
(SUS), foi de R$ 335,74 milhões, 82% maior do arrecadado em 2013,
quando foram obtidos R$ 183,2 milhões. Nos últimos quatro anos,
(2011 a novembro de 2014), o valor do ressarcimento chegou a R$
673,66 milhões.
No relatório sistêmico da saúde do
TCU, que aponta a relação entre o ressarcimento e a regulação da
rede de planos de saúde, o órgão define que “o ressarcimento
ao SUS existe em razão da incapacidade, por parte das operadoras de
planos de saúde, de manter uma rede conveniada adequada – o que
obriga os beneficiários a recorrerem à rede pública".
O MS explica que a compensação
ocorre quando os consumidores dos planos de saúde são atendidos na
rede pública, em consequência da demora pelos seus planos de saúde
ou negativa de atendimento. Os pagamentos efetuados para a agência
reguladora são repassados ao Fundo Nacional de Saúde (FNS) e
aplicados em ações e programas estratégicos do Ministério da
Saúde.