A exigência de capital para fazer
frente a riscos de mercado vai demandar cerca de R$ 3,8 bilhões das
seguradoras e resseguradoras que operam no Brasil, segundo
estimativa da Superintendência de Seguros Privados (Susep). A regra
vai aproximar o mercado brasileiro das regulação europeia, batizada
de Solvência 2.
A Susep definiu, no fim do ano
passado, os critérios para estabelecer o capital a ser constituído
pelas seguradoras, entidades abertas de previdência complementar,
empresas de títulos de capitalização e resseguradoras locais. A
exigência para os riscos de subscrição, de crédito e operacional
foi definida ao longo dos últimos quatro anos.
Considera-se risco de mercado a
possibilidade de ocorrência de perdas resultantes de flutuações dos
mercados financeiros, que causam mudanças na avaliação econômica de
ativos e passivos das sociedades supervisionadas, segundo a
resolução da Susep.
Como resultado do novo requisito de
capital, esperamos que as seguradoras levantem capital adicional
com os acionistas para manter as suas reservas de capital, diz a
agência de classificação de riscos Moody’s Investor’s Service, em
relatório.
As companhias do setor terão três
anos para se adaptar às novas regras de risco de mercado. Até
dezembro de 2016, elas precisam ter 50% do capital requerido e têm
até o fim de 2017 para constituir os outros 50%. Normalmente, a
Susep dá um ano para o enquadramento.
Demos ao mercado um prazo maior,
pois essa regra impacta de maneira significativa um mercado já
impactado, diz Danilo Silva, diretor técnico da Susep, lembrando
que o órgão escalonou a exigência de um tipo de capital de risco
por ano e, além disso, instituiu regras de liquidez para os
ativos.
Como o cálculo sobre risco de
mercado é feito sobre os ativos, as companhias mais afetadas serão
as de previdência e de seguro de vida, segundo Silva. A Moody’s
ainda cita as companhias de capitalização. São as empresas mais
intensivas em ativos e, portanto, a mais expostas aos requisitos de
capital baseados em investimentos, afirma a agência.
Na América Latina, o Brasil, o
Chile e o México estão em estágios avançados de implementação de
estruturas de solvência baseadas em risco e provavelmente adotarão
regimes do tipo Solvência 2 num intervalo entre um a três anos,
segundo um estudo da Swiss Re. O documento aponta, no entanto, que
potenciais obstáculos para a implementação de regras de solvência
baseada em risco na região são políticas governamentais
anti-mercado, instabilidade macroeconômica e limitações da
capacidade institucional.
No ano passado, a Susep celebrou
acordo com a Autoridade Europeia para Seguros e Previdência
Complementar (Eiopa, na sigla em inglês) para exercer no Brasil uma
supervisão baseada em riscos seguindo os princípios das regras
europeias.
Segundo Roberto Westenberger,
superintendente da Susep, os próximos passos dentro das diretrizes
de Solvência 2 agora são desenvolver regras de equivalência – que
vão condicionar a exigência de capital de acordo com o tamanho e
características da seguradora – e atestar as práticas de
governança, que fazem parte do segundo pilar da regulação
europeia.
Para estimar o impacto do requisito
de capital sobre risco de mercado, a Susep fez um mapeamento com 29
empresas, que respondem por mais de 70% dos ativos do setor. Para
garantir a representatividade, a autarquia selecionou pelo menos
duas empresas de cada segmento. Com base nessa amostra, o resultado
foi extrapolado para todo o mercado.
Mais do que capital, porém, as
regras baseadas em riscos têm impacto no gerenciamento das
seguradoras, que terão que fazer mudanças em processos
operacionais, avalia Luciene Teixeira Magalhães, sócia e líder de
seguros da KPMG no Brasil.
Um estudo da auditoria realizado no
ano passado com seguradoras que atuam no país mostra que as regras
de solvência vão demandar mudanças significativas na gestão
operacional. O próximo pilar que deve ser regulado é o de
governança, o que vai exigir melhora nos processos, diz
Luciane.
Erik Bleekrode, também sócio da
KPMG, destaca o desafio que as companhias terão que enfrentar para
manter sistemas e base de dados atualizados para mensurar seus
riscos.