Segmento cresceu neste ano quase três vezes mais que o de planos de saúde e já alcançou 21,4 milhões de beneficiários. Mas, para atingir todo o seu potencial, também deverá superar os desafios do envelhecimento populacional e dos custos de novas tecnologias.
Tanto os planos médicos como os odontológicos cresceram neste ano. Mas, os exclusivamente odontológicos vêm registrando curva de expansão mais acentuada. Para se ter uma ideia do fôlego desse segmento, entre março de 2014 e março de 2015, o crescimento foi de 5,7%, somando 21,4 milhões de beneficiários em todo o país. Já os planos médicos totalizaram 50,8 milhões de vidas, porém, enfrentaram pequena desaceleração, com a expansão 2,1% nesse período ante 2,7% registrados do ano anterior.
De acordo com a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), que compilou esses resultados com base nos dados da Agência Nacional de Saúde (ANS), o bom desempenho dos planos odontológicos é compatível com o seu potencial de expansão, considerando que mais de 25% da população brasileira são consumidores de planos médicos privados e mais de 10% são beneficiários de planos exclusivamente odontológicos. Outro fator que contribui para o bom desempenho é o custo final menor do benefício para o consumidor ou empresas, segundo a entidade.
Nos cálculos do presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Odontologia de Grupo (Sinog), Geraldo Almeida Lima, nos últimos cinco anos, o número de beneficiários de planos individuais/familiares cresceu 101%. Entre janeiro e setembro do ano passado, os planos individuais lideraram no setor, com avanço de 7,4%, seguido pelos planos coletivos empresarias (4,5%). Para ele, o bom desempenho do segmento “está ligado diretamente à qualidade de atendimento, aos investimentos e serviços prestados pelas operadoras, bem como à conscientização da população sobre a importância da saúde bucal”.
Em termos de participação no segmento odontológico, os planos empresariais respondem por 74% dos beneficiários, percentual bem maior que os individuais (18%) e de adesão (8%). “Hoje, não apenas as empresas, mas também os funcionários percebem a importância dessa cobertura no seu dia a dia, tanto que esse já é o segundo benefício mais solicitado pelos trabalhadores, ficando atrás somente do plano de saúde”, diz o presidente do Sinog. Ele reconhece, porém, que apesar do número significativo, ainda há muito espaço para crescer, considerando o número de beneficiários dos planos de saúde.
A FenaSaúde vê a incorporação de novos beneficiários à saúde suplementar, seja nos planos médicos ou odontológicos, como um movimento natural do mercado, impulsionado pela inclusão socioeconômica. “É o resultado do desejo da população incluída por atendimento em saúde de melhor qualidade”, registra a entidade.
Desafios do setor Os planos odontológicos também são regulamentados pela ANS, mas por meio de regras específicas. Os reajustes, por exemplo, não são controlados pela agência, mas devem ser definidos em contrato. Todos os planos devem atender ao Rol ANS, que compreende uma lista de procedimentos de coberturas obrigatórias. De acordo com o Sinog, muitas operadoras do setor oferecem diversos procedimentos além dos previstos no Rol.
Segundo Geraldo Lima, o grande desafio das operadoras de planos odontológicos é lidar com a crise econômica do país, que reflete diretamente na redução do consumo. Ele ressalta que também pesam sobre o segmento os tributos federais, que cresceram 76% nos últimos cinco anos, passando de R$ 101 milhões para R$ 178 milhões. Estes, somados aos tributos municipais, fizeram as odontologias de grupo pagar mais de R$ 205 milhões em 2013, equivalente a quase 20% do faturamento.
Além da elevada carga tributária, o presidente do Sinog se queixa do complexo sistema de arrecadação, que exige das empresas a ampliação das áreas fiscais e o investimento em consultorias especializadas. “A partir da tributação incidente sobre o setor, fica claro para a sociedade que os impostos e taxas são em parte responsáveis pelos elevados custos dos planos de saúde”, diz. Mesmo assim, ele mantém o otimismo. “A saúde está entre as três principais preocupações da sociedade, por isso, as perspectivas são as melhores possíveis”, afirma.
Desafios da atividade Na estimativa do Sinog, o segmento de planos odontológicos é responsável pela geração de aproximadamente 3,5 mil empregos diretos e 78 mil indiretos. O número de profissionais que prestam serviços odontológicos, segundo levantamento do Conselho Federal de Odontologia, já superou os 455 mil, dos quais 59,02% são cirurgiões-dentistas, mais da metade (65%) vinculado às operadoras de planos odontológicos.
Mas a profissão tem os seus desafios. Estevão Tomomitsu Kimpara, professor titular do Departamento de Materiais Dentários e Prótese da Faculdade de Odontologia da Unesp, lembra a mudança na saúde bucal dos brasileiros com o advento da fluoretação da água a partir da década de 70. “Foi um processo bem elaborado e de muito sucesso”, disse em palestra na Associação Paulista de Medicina (APM), no ano passado.
A mudança trouxe, entretanto, a necessidade de evolução dos profissionais, cujo marco inicial foi o implante osseointegrado na década de 80. Hoje, segundo Kimpara, os desafios são outros e estão relacionados ao aumento da expectativa de vida da população e à incorporação de novas tecnologias. Em sua opinião, o que era artesanal no passado e dependia da habilidade do profissional, hoje não existe mais.
“As próteses, por exemplo, são produzidas em série pela máquina de fresagem, com mais precisão e eficácia”, disse. Para o professor, os dentistas também enfrentam desafios no atendimento à população idosa. Ele se recorda que, antigamente, o dentista que extraia o dente e suturava era diferenciado, porque a maioria sequer fazia isso. “Hoje, se não fizer uma profilaxia com antibióticos corre-se sério risco, afinal o dentista está lidando no consultório com hipertensos, diabéticos e outros”, disse.
Diante das novas tecnologias e materiais incorporados à atividade, ele sugere mudanças na formação profissional para privilegiar mais a prática. “Precisamos de uma visão interdisciplinar e de um novo modelo de docência”, concluiu.
Texto: Márcia Alves