A retração da economia e o desemprego provocaram queda de 0,5% no número de beneficiários no trimestre (0,3% apenas em setembro), representando a saída de 236 mil pessoas. No segmento empresarial, o aumento de 14,8% nos custos dos planos em 2015 elevou o peso desse benefício na folha de pagamento, que já representa quase 12% das despesas, segundo estudo.
O aumento do desemprego, uma das consequências mais nefastas da crise econômica, está provocando a queda no número de beneficiários dos planos de saúde. De acordo com levantamento realizado com base nos dados da ANS, em setembro, 164,4 mil beneficiários perderam seus planos de saúde, o que representa uma queda 0,3% em relação ao mesmo mês de 2014. Os dados do trimestre demonstram que a baixa foi ainda maior nos últimos meses, quando 236,21 mil beneficiários saíram do mercado de planos de saúde médico-hospitalares, representando uma queda de 0,5%.
Nos últimos doze meses até setembro, os planos coletivos empresariais registraram retração de 0,1% (47,3 mil) beneficiários, enquanto nos planos coletivos por adesão, houve aumento de 0,6%, ou 39,7 mil vínculos. Mas, na comparação trimestral, os planos coletivos por adesão registraram queda de 0,9%, a maior entre todos os tipos de contratação, com a saída de 61,09 mil beneficiários. Na interpretação do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), que compilou os dados da ANS, os trabalhadores que perderam o emprego migraram para os planos coletivos por adesão, mas, com o agravamento da crise, não estão conseguindo manter o pagamento, daí a saída de mais de 60 mil beneficiários.
Outro estudo do IESS sobre o período dos últimos cinco anos, revela que a desaceleração observada no setor de saúde suplementar nos últimos trimestres está relacionada com o baixo desempenho da economia. Entre 2010 e 2015, houve uma perda de 4% no crescimento dos planos coletivos, enquanto o PIB apresentou queda de 3,8% no mesmo período. O estudo também analisou a relação do desemprego com a queda no número de beneficiários dos planos de saúde, descobrindo que nos últimos cinco anos o saldo de emprego caiu de 2 milhões para 416 mil, enquanto os planos empresariais também registraram queda no número de beneficiários de 2,5 milhões para 1,4 milhão.
Desde julho do ano passado a população ocupada tem decrescido continuamente. Em julho de 2015, a queda foi de 0,9%, com redução no número de empregados com carteira assinada (-3,0%) e sem carteira assinada (-1,8%) no mesmo período. Considerando os últimos dados divulgados pelo IBGE, por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), a tendência é de agravamento da situação. Em agosto, o país registrou a perda de 2 milhões de empregos formais, totalizando uma população de 8,6 milhões de brasileiros desempregados.
Peso dos planos empresariais
No segmento empresarial, a crise econômica está refletindo nos custos dos planos de saúde oferecidos aos empregados, que aumentaram, em média, 14,8% neste ano. O custo médio per capita do benefício saltou de R$ 196,17, em 2014, para R$ 225, 23 neste ano. Com o avanço, os planos passaram a pesar mais nas despesas das empresas, representando o equivalente a 11,54% na folha de pagamentos. Em 2012, o índice representava o equivalente a 10,38% da folha das organizações.
Os dados foram apurados pela Mercer Marsh Benefícios, em pesquisa com 513 companhias, que somam 1,2 milhão de colaboradores e 2 milhões de segurados (incluindo dependentes), de 31 segmentos da economia. Dessa amostra, cerca de 61% faturam mais de R$ 100 milhões ao ano, 69% são multinacionais e 31% são empresas de capital nacional. Segundo o estudo, 45% das empresas entrevistadas pretendem fazer alguma mudança em seus programas de saúde em até um ano e outras 13% farão mudanças nos próximos dois anos. Entre as que planejam fazer alterações, 26% declaram que o farão em busca de redução de custos.
Entre as medidas para diminuir custos, 47% das empresas já adotam programas de gerenciamento de doenças crônicas. Programas de monitoramento de internações dos beneficiários já são praticados em 37% das organizações e 29% já utilizam o recurso da segunda opinião médica para o tratamento de funcionários em casos mais complexos. Algumas cogitam, ainda, trocar de fornecedores. Cerca de 40% das empresas manifestaram a intenção de fazer essa mudança em até um ano.
Em relação ao benefício saúde, 51% das empresas pesquisadas dividem com os funcionários o pagamento do custo mensal fixo dos planos de saúde e arcam com subsidio médio é de 78%. O seguro de vida e a assistência odontológica são os dois principais benefícios oferecidos aos funcionários das empresas depois dos planos de saúde. De acordo com o levantamento, 100% das empresas pesquisadas oferecem planos de saúde para os funcionários, enquanto 94% oferecem seguro de vida e 85% oferecem assistência odontológica.
De acordo com analistas do setor, com a piora da situação econômica, as empresas estão recorrendo a alternativas para driblar a crise. Além da possibilidade de troca de fornecedores, mais empresas estão adotando o modelo de coparticipação e outras, ainda, estão rebaixando a rede de benefícios, com a troca de hospitais e de categorias de planos. "O plano de saúde tem hoje um impacto muito forte na folha de pagamento. Em momentos de dificuldade econômica, os empresários passam a avaliar todas as rubricas", diz José Carlos Abrahão, diretor-presidente da ANS.