Multinacionais foram as primeiras a buscar apólices para a cobertura de perdas causadas por eventual ataque
A realização dos Jogos no Rio fez aumentar por aqui a procura por um tipo de seguro ainda incipiente: apólices contra ataques terroristas. A modalidade começou a ser oferecida em território nacional depois que o Brasil foi eleito para sediar o Pan-Americano de 2007 e a Copa do Mundo de 2014. Para especialistas, mesmo que o país não tenha grupos terroristas bem organizados e seja considerado politicamente amigável, o fato de sediar eventos da dimensão da Olimpíada, que reunirá mais de 10 mil atletas e atrairá um público estimado em 1,7 milhão de pessoas, acabam por torná-lo um alvo em potencial.
– Há poucos meses, foi divulgado um relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) informando que o país estava bastante exposto a ataques terroristas durante a Olimpíada e, com os atos recentes na Europa, tal possibilidade passou a ser considerada pelo mercado de seguros – diz Álvaro Igrejas, diretor de riscos corporativos da corretora e consultoria Willis Towers Watson, que tem oito escritórios no Brasil.
CONTRATOS DE ATÉ R$ 50 MILHÕES
Igrejas destaca que não são apólices baratas. Elas visam à proteção patrimonial e aos danos causados a terceiros. Quando não estão programados eventos grandiosos no Brasil, a corretora costuma fechar uma ou duas apólices com foco específico em terrorismo por ano. Em 2016, deve fechar dez seguros desse tipo. Os valores, afirma o diretor da Willis Torres Watson, variam entre R$ 10 milhões e R$ 50 milhões. A corretora não identifica seus clientes, porém a procura por esse tipo de seguro costuma ser feita por empresas mais expostas aos riscos de um atentado, como administradoras de estádios, shoppings, hotéis, hospitais, tanques de armazenamento de material inflamável, atrações turísticas, estações de tratamento e abastecimento de água, comunicação e infraestrutura.
Alexandre Jardim, diretor de property e responsabilidade civil da Aon Brasil, com escritórios em dez capitais do país, confirma que a contratação de seguros contra atos terroristas cresceu com a aproximação dos Jogos. Ele observa que empresas multinacionais, que, em geral, contam com esse tipo de proteção no exterior, foram as primeiras a buscar essa modalidade de seguro no país. Mas, em anos com grandes eventos esportivos, companhias nacionais também buscam apólices. O executivo não revela o número de contratos fechados por conta da Olimpíada, mas diz que as consultas mensais cresceram.
– O Brasil ganhou evidência no cenário mundial – afirma Jardim.
“UM PRODUTO DELICADO”
Seguradoras de peso como a AJG, a Liberty e a Chubb também vendem esse tipo de produto no país. Procuradas, nenhuma das três quis falar sobre a demanda por apólices relativas a terrorismo. Foi a AIG que inaugurou o segmento no Brasil, com o lançamento de um produto em 2013. A cobertura é extensiva a danos materiais de instalações, mas há contratos que cobrem uma eventual perda de receita causada por um ataque. Em abril de 2013, no atentado na Maratona de Boston nos Estados Unidos, a companhia bancou os gastos com reparos de imóveis.
Para Pedro Vitali, professor da Escola Nacional de Seguros, as seguradoras têm dificuldades em estruturar apólices no segmento de atentados, já que os valores são muito elevados e o tema ainda é sensível.
– O seguro antiterrorismo é um produto delicado. Para que a seguradora pague o estrago feito por um ataque desse tipo, o governo precisa reconhecer que se tratou de um ato terrorista. Também há um problema de nomenclatura. Se o crime organizado ateia fogo a um ônibus, isso é vandalismo ou terrorismo? – diz Vitali.
Uma estatística da “Business insurance” uma publicação especializada em seguros, mostra que, na Olimpíada do Rio, serão gastos cerca de US$ 1 bilhão em apólices para proteger os organizadores e as delegações de atos de terrorismo, manifestações políticas violentas, zika e poluição.