Um médico de 65 anos saía, como faz
rotineiramente, do Hospital do Fundão e voltava para casa. No
retorno, para acessar a Linha Vermelha, uma caminhonete bloqueava a
via. O homem parou seu veículo. Da caminhonete, saíram quatro
homens armados, renderam o médico, o retiraram de seu carro e o
obrigaram a circular por 40 minutos no Complexo da Maré. O dia era
26 de abril do ano passado. O médico nunca mais viu seu veículo, um
Fiat Strada.
O caso foi um dos 41.704 roubos de
carros registrados em 2016 — o maior número em 25 anos. A cada 13
minutos, um motorista é vitimado no estado. A violência também pesa
no bolso da população: a explosão nos números geraram impacto de
até 20% o custo dos seguros de carros.
De acordo, com o vice-presidente da
Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), Luiz Pomarole, nos
últimos três anos, após sucessivos aumentos nos índices de
criminalidade, o Rio voltou a ter o seguro mais caro do país,
ultrapassando São Paulo.
— O problema pulverizou. Niterói, que
tinha índices estáveis, hoje apresenta elevação acima da média. A
Baixada também. Mesmo regiões como Barra, Ipanema, Copacabana, que
a gente tinha os menores índices, começaram a ter elevação acima da
média — afirmou Pomarole.
Além de afetar bolso das vítimas, a
violência também causa traumas: o médico assaltado na Linha
Vermelha nunca mais passou pelo local e quer sair do estado. —
Perdi a fé no Rio. Só não vou embora por questões profissionais —
diz o médico. Mudança de hábitos
O aumento do índice de roubos de
veículos está levando motoristas a mudarem os seus hábitos para
fugir da violência. Depois que teve um carro roubado em 2010, na
descida de um viaduto em Bangu, Ruone Pereira, de 24 anos,
motorista do Uber e morador do bairro, alterou sua rotina: — Na
ocasião estava no carro com minha mãe, que ficou nervosa e foi
agredida pelos bandidos. Depois que comprei outro carro, tomei a
precaução de fazer seguro. O outro não tinha. Além disso, evito
rodar a noite. Júlio André dos Santos, de 30, também evita circular
à noite. Para chegar a casa, em Nova Iguaçu, prefere a Avenida
Brasil: — A Linha Vermelha tem um histórico de arrastões.