Legislação, amadurecimento de mercado,
cultura, know-how. Essas são algumas das questões que permeiam a
evolução – especialmente a tecnológica – do mercado de seguros. Há
muitas novidades no mercado internacional e elas devem, sim, ser
aplicadas por aqui. Mas para que isso possa ser uma realidade é
preciso diálogo, debate. Partindo do conhecimento dessa
necessidade, a Conexão Fintech se apresentou como uma iniciativa
para disseminar os esforços de startups que atuam com tecnologias
inovadoras para o incremento do setor financeiro e que também olha
para o setor de seguros
Esse último contou, na sexta-feira,
18, com expoentes de diversas companhias relacionadas ao mercado
discutindo tecnologia, seguros e como conversar e aplicar as
expectativas à realidade. O painel Seguradoras e Regulador contou
com uma discussão sobre os players como agentes de transformação e
fomento às insurtechs. A discussão incluiu a tão polêmica venda
online e a necessidade de movimentação do setor.
Ronaldo França, head de Digital,
Transformação e Inovação da BNP Paribas Cardif, afirma que o
regulador antes era muito restritivo, mas que as novidades deverão
levar a um reposicionamento, que mudará isso. Hugo Mentzingen,
coordenador geral de TI da Susep estava presente para representar o
posicionamento da autarquia. Mentzingen reforçou que é papel do
regulador ser mais cauteloso que os demais players, porque a
autarquia não pode errar. “Mas, sem dúvidas, nós queremos discutir
e fazer o mercado acontecer”, afirmou.
Como prova disso, ele destacou que a
Susep criou um grupo para debater e conhecer as novas tecnologias
que se apresentam ao mercado. “As insurtechs devem ir além da
distribuição, buscando soluções para melhorar a operação e os
custos, otimizando o setor”, apontou o diretor que contou ainda que
a Susep estuda adotar novas diretrizes, abandonar a certificação
digital e utilizar um sistema de login e senha para autenticação.
Completando sua fala, Mentzingen ressaltou que “estabilidade do
mercado e proteção do consumidor são as principais preocupações da
Susep”.
União
Será preciso que todos, regulador,
seguradoras, corretoras e startups estejam unidos e atentos às
mudanças. As insurtechs não são apartadas das demais companhias,
apesar de atuarem de forma autônoma muitas vezes, as startups são
parte de um ecossistema que traz oportunidades, conforme abordou
José Prado, da Conexão Fintech – idealizadora do evento – que
trabalha para fazer a divulgação dessas iniciativas. Durante uma
breve apresentação, Prado mostrou algumas das maiores insurtechs do
mundo e suas iniciativas. A esperança dele é ver uma brasileira
entre as melhores da área.
Mercado segurador,startups,corretores
e regulador juntos. Assim se descobre oportunidades e como aplicar
ações como peer-to-peer, blockchain e outras soluções. A
inteligência artificial tem papel crucial nesse desenvolvimento.
Bom exemplo disso é o Watson, iniciativa de I.A. capaz de entender
e aprender a partir de seus próprios erros, conforme explicou
Guilherme Araújo, da IBM. Essa tecnologia pode ser usada em
diversos setores e seu mapeamento de dados de clientes faz com que
ela seja capaz de poder aconselhar profissionais.
Quem toma a decisão é sempre o humano,
mas o Watson pode ter papel importante,por exemplo, no seguro
saúde. Ele pode fazer análises e mapeamentos dos dados de saúde de
cada paciente e identificar se o tratamento está sendo adequado ou
se pode ser melhorado.
Henrique Volpi, da startup Kakau
Seguros, também trabalha em soluções aliadas a dados e inteligência
artificial e endossa que mais do que saber quais espaços cada um
vai ocupar, é importante lembrar que “o cliente é de todo mundo e
cada um tem seu papel no ecossistema da insurtech”. Ele acredita
que essas tecnologias que surgem garantirão a experiência
satisfatória que os clientes esperam.
Assimilação
Alessandro Maracajá, da Solutions One,
afirmou que há dificuldade de assimilar novas tecnologias no
mercado. Isso depende de uma preparação que ainda não existe e de
integrações digitais que precisam ser descomplicadas e hoje ainda
não são.O papel das startups é, justamente, fazer isso acontecer e
ampliar o valor agregado das seguradoras. “As seguradoras
multinacionais trazem as novidades que têm lá fora,mas muitas aqui
ainda não estão atentas ao que está acontecendo”, apontou.
Completando que “ser digital não é ter um site, um aplicativo”, mas
ir além. “Hoje, um e-commerce que quer vender seguro de maneira
rápida, simplesmente não consegue. Há poucas opções de operações
B2B no mercado”, provocou.
Blockchain
Blockchain também foi assunto na
Insurtech Brasil. Fernando Wosniak, da Direct.One, falou sobre a
troca de valores online. Assim como anexos comuns de e-mail, que
multiplicam e compartilham informações, o blockchain faz isso com a
troca de valores. A grande diferença é que, enquanto uma foto ou
arquivo anexado e compartilhado passa a ser de todos os envolvidos,
cada um com sua cópia, a transmissão de valores precisava garantir
que essa duplicidade acabasse e que as transações funcionassem como
funcionam em sistemas financeiros: criando transferências.
O blockchain chegou e conseguiu
entregar essa solução com segurança. É impossível hackear o
blockchain. Há centenas de milhares de computadores rodando
transações que não podem ser deletadas e, se fossem, teriam que ser
apagadas de cada um deles, o que é inviável para os ataques.
Além das transações de bitcoins, há
também contratos digitais em sistemas de blockchains. Capacitando
que negócios aconteçam digitalmente. “O sistema é mais confiável
que o certificado digital comumente usado. Blockchain gera
apólices, contratos, boletos com todas informações detalhadas. Caso
alguém dentro dessa rede seja rastreado, imediatamente perde sua
chave de acesso, não sendo possível validar transações por essa
chave”, explicou.
Mas por que o Brasil ainda não
disponibiliza dessas ferramentas? Para Wosniak é mais que uma
questão meramente tecnológica. O País é perfeitamente capaz de
criar e importar essas inovações. “Não é só uma questão de
tecnologia. A inovação é questão de cultura”, sentenciou.
Foi a isso que o evento se propôs:
dialogar. Colocar as ideias em discussão para ajudar a amadurecer
os players do mercado e trilhar o caminho para que elas se tornem
realidade.