Primeiro, eles nem podiam entrar em casa. Depois, a sala até
estava liberada, mas nada de pular no sofá! No quarto, então, nem
pensar. Mas já faz tempo que cães e gatos adquiriram outro status
entre os brasileiros. De meros mascotes, passaram a integrar a
família, cheios de direitos e, muitas vezes, regalias exclusivas.
Para garantir o bem-estar dos pets, os tutores não economizam: em
média, gastam R$ 189 mensais com eles, valor que sobe para R$ 224
nas classes A e B, segundo uma pesquisa recente do Serviço de
Proteção ao Crédito (SPC Brasil).
Banho e tosa, ração premium, roupinha, brinquedo, consultas
veterinária, passeador, adestramento, tratamento dentário, creche
canina… A lista de produtos e serviços nos quais os tutores
investem para seus “filhos de quatro patas” é extensa. E está
crescendo. Comum nos Estados Unidos, no Canadá e na Europa, um
outro mercado começa a conquistar consumidores por aqui: o de
seguros.
Além dos seguros de saúde, que oferecem coberturas diversas, as
empresas estão apostando em assistências especiais, que podem ser
adquiridas na contratação de produtos como seguro de vida e
residencial. Dessa forma, ao comprar uma apólice de vida, por
exemplo, é possível incluir serviços emergenciais e
não-emergenciais para os pets.
A SulAmérica, que já oferecia o seguro empresarial para pet
shops (leia mais abaixo), acabou de desembarcar nesse nicho, com a
Assistência Pet, lançada no início de setembro. O produto, que pode
ser contratado com o seguro residencial, inclui serviços como
transporte do animal em caso de emergências, consulta veterinária,
envio de ração à residência, aplicação de vacina em domicílio e
hospedagem do melhor amigo em caso de doença do segurado.
“Os animais de estimação fazem parte da família do segurado. Com
base em estudos desse mercado, buscamos desenvolver produtos e
serviços que venham a atender as necessidades específicas tanto de
empreendedores em seus ramos de negócios quanto de clientes
residenciais”, explica o vice-presidente de Auto e Massificados da
SulAmérica, Eduardo Dal Ri.
Também foi a partir de uma pesquisa de mercado que a Bradesco
Seguros começou a oferecer assistência para pets dentro do seguro
de vida Multiproteção e no residencial . “A seguradora viu a
necessidade e a preocupação dos beneficiários com seus animais, que
são a extensão da família”, diz a corretora Eliane Araújo França.
De acordo com ela, nem todos os clientes conhecem esse produto,
mas, quando são apresentados a ele, a aceitação é grande. Entre os
serviços, estão duas diárias de hospedagem por ano, caso o tutor
adoeça; agendamento de consulta, envio de ração em domicílio e
informações sobre vacinas.
“O movimento de ‘humanização do animal’ está ganhando cada vez
mais espaço no mundo, independentemente de classe social”, observa
Mario Cavalcante, Diretor de Massificados da Liberty Seguros. Ele
lembra que, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de
Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), a população de
animais domésticos do Brasil é a segunda maior do mundo, com 28,9
milhões dos lares tendo ao menos um cachorro, conforme dados do
IBGE.
“Esse é um mercado a ser explorado. Um estudo realizado pela
Liberty afirma que ‘a empresa que não investir nesse público
perderá uma fatia significativa do mercado, e isso não vai demorar
a acontecer’”, afirma Cavalcante.
Para os tutores, a Liberty oferece assistência pet no seguro de
vida ou de residência. Entre os serviços incluídos, estão a
organização de funeral ou a cremação do animal — um momento no qual
ninguém quer pensar, mas que é parte natural do ciclo de vida do
melhor amigo e não pode ser negligenciado. Tanto a assistência pet
quanto o seguro para as pet shops são bem aceitas, diz Mario
Cavalcante. “A procura existe e tem a tendência de aumentar,
principalmente quando falamos da saúde dos animais. Ainda não são
produtos e serviços amplamente difundidos e conhecidos pelos
consumidores, mas nós contamos com uma ampla rede de corretores
parceiros que nos ajudam a divulgar nossos produtos e serviços”,
diz.
Apesar do aumento na oferta de assistências para pets, as
seguradoras brasileiras ainda não oferecem um serviço reivindicado
pelos tutores que, cada vez mais, querem viajar em companhia dos
melhores amigos. Não há, no país, seguro de viagem com cobertura
para os animais de estimação, no caso de eles adoecerem ou se
machucarem durante o passeio. “O mercado pet vem crescendo muito no
Brasil. A gente conta com muitas facilidades e não vejo motivo para
não ter um seguro de viagem”, queixa-se a professora de ioga
Deborah Rosa.
Recentemente, ela viajou para a praia com a golden retriever
Berenice, passeio que pretende repetir em breve. “A rotina foi
completamente diferente da que temos em casa e, assim como uma
criança ou até mesmo adulto, poderia acontecer qualquer coisa,
desde diarreia até algo um pouco mais complicado. Nós não temos
plano de saúde para ela, e em uma cidade diferente, qualquer coisa
simples pode se tornar um grande problema”, afirma. Em relação à
proteção de turistas, o que há no país, hoje, são indicações ou
descontos de hospedagem. Na Porto Seguro, quem adquire um seguro de
viagem tem desconto nos pacotes de hoteizinhos para pets, por
exemplo.
Saúde
A expectativa de vida dos animais domésticos está em plena
ascensão. Isso porque, além dos avanços da medicina veterinária, os
tutores cuidam cada vez mais da saúde dos pets, incluindo no
orçamento da família consultas de rotina, check-ups, exames
sofisticados quando necessário, tratamento odontológico,
fisioterapia e até terapias complementares, como acupuntura.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para
Animais de Estimação (Abinpet), o segmento de produtos veterinários
(excluindo os serviços) aumentou 6,7% entre 2015 e 2016. Já a
pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) constatou
que, para 79% dos tutores, a saúde do animal é prioridade.
De olho nesse mercado, já existe até corretora especializada em
cães e gatos. A Saúde Pets atua em 13 estados, inclusive Brasília,
representando uma seguradora e três empresas de planos de saúde.
“Além do fato de os pets fazerem parte da família, o atendimento
médico é muito caro, e já vi pessoas que perderam seus animais
porque não tinham como pagar o tratamento”, diz a corretora Lúcia
Sampaio. Como há planos a partir de R$ 39, ela conta que há
clientes das mais variadas classes econômicas.
De acordo com a profissional, no Brasil, o único seguro pet
existente é o da PetPlan, líder mundial nesse segmento, que tem
três opções de coberturas (não disponíveis em Brasília). Contudo,
Lúcia Sampaio destaca que esse produto ainda é mais comum fora do
país, principalmente nos Estados Unidos e na Europa. Por aqui, as
empresas de planos de saúde, como a Health for Pet, da Porto
Seguro, encontram mais aceitação, afirma. Essa última tem rede
credenciada no estado de São Paulo, no Rio de Janeiro, em Belo
Horizonte e em Curitiba, mas está desembarcando no Distrito Federal
no primeiro trimestre do ano que vem. Os planos da Health for Pet
vão desde o light ambulatorial ao premium, com diferencial de opção
para os seniores, com mais de 9 anos de idade.
Pet shops
Para quem trabalha no setor de produtos e serviços pet, as
seguradoras também oferecem coberturas especializadas.
“Cuidar de animais de estimação é um trabalho que exige
seriedade, responsabilidade. Por esse motivo, é fundamental que
esse tipo de seguro possa ser oferecido com coberturas e serviços
que garantem proteção e, consequentemente, tranquilidade aos
segurados”, ressalta Jarbas Medeiros, Superintendente de Ramos
Elementares da Porto Seguro.
A empresa disponibiliza o produto Porto Seguro PetShop e Clínica
Veterinária para veterinários, proprietários de clínicas e
petshops, e distribuidores. Além das coberturas básica (incêndio,
explosão e fumaça) e opcionais (estrutura do local, equipamentos,
estoque, animais, por exemplo), há as exclusivas do segmento. A de
responsabilidade civil ampara cães e gatos em caso de danos
corporais durante o banho e/ou tosa e no transporte do animal para
casa. Além disso, há a cobertura de danos a vacinas, quando o
produto estraga devido a situações como paralisação no fornecimento
de energia. Os equipamentos como soprador, secador de pedestal,
compressor de ar, máquina de tosa e aparelhos médicos também podem
ser segurados.
Seguradoras têm coberturas específicas para
clínicas
A SulAmérica tem um produto específico para o setor, o
SulAmérica Empresarial para Pet Shops. Entre as garantias
adicionais específicas, estão cobertura para danos causados aos
animais deixados sob responsabilidade da empresa, despesas
extraordinárias com salário de colaboradores temporários, cobertura
para deterioração de vacinas e medicamentos preservados em ambiente
frigorificado, e danos aos equipamentos portáteis, incluindo
secadores e tosadores, entre outros. Acompanhando a tendência de
crescimento do segmento de serviços para pets, esse produto teve um
crescimento nas vendas de 21% de janeiro a julho deste ano,
comparado ao mesmo período de 2016.
Outra seguradora que oferece produtos específicos para petshops
e clínicas é a AIG. Na cobertura de responsabilidade civil,
contratada dentro do seguro Pet Shops e Clínica Veterinária, estão
fuga, acidente ou morte do animal, danos aos pets decorrentes de
erros dos funcionários e acidentes involuntários durante o serviço
de banho e tosa.
“Esse é um nicho muito interessante com capacidade para
expansão. Só no estado de São Paulo, são mais de 10 mil clientes.
Conforme pesquisa do Sebrae, a indústria brasileira de produtos e
serviços para animais de estimação está cada vez mais em evidência,
e o Brasil representa um dos principais mercados emergentes do
setor no mundo”, diz Mario Cavalcante, diretor de massificados da
Liberty Seguros, que também tem um produto voltado para lojas e
clínicas do ramo veterinário. “Esse produto específico foi criado
justamente atender as necessidades identificadas pelos donos do pet
shops, como o animal se machucar no banho e tosa, o animal se
perder fugir, ou até vir a falecer. Ou seja, além de se prevenir
das perdas patrimoniais, o cliente também se resguarda de
incidentes do dia a dia no seu ramo de atuação”, explica.