As maiores ordens de
investidores nacionais vêm das gestoras SPX, Apex, Atmos, JGP e XP
Gestão, diz jornal
A Rede D’Or mal colocou a oferta
inicial de ações (IPO) oficialmente na rua e, em menos de 24 horas,
já tinha reservas suficientes para emplacar a operação, apurou
o Valor
Econômico. Depois de cerca de dois meses de conversas com
investidores, o maior grupo independente de hospitais do país
lançou na noite de segunda-feira a operação. As maiores ordens de
investidores nacionais vêm das gestoras SPX, Apex, Atmos, JGP e XP
Gestão.
Gestoras de bancos que alocam
recursos para investidores de alta renda, como BTG Pactual e Safra,
também já estão no livro. Dos investidores internacionais, a maior
participação deve ser da Capital Group, gestora que já tem
participação em empresas como Magazine Luiza e Burger King
Brasil.
Com intenção de alocação robusta
mas ainda sem reserva feita, a Capital Group pretende investir por
meio do fundo dedicado a emergentes e do fundo global, apurou o
Valor. Também engajado mas com sensibilidade a preço está o fundo
do megainvestidor George Soros.
Com faixa indicativa de preço que
vai de R$ 48,91 a R$ 64,35 por ação, o IPO pode movimentar até R$
12,66 bilhões e a empresa chegar à B3 com um valor de mercado de R$
127,7 bilhões – nesse patamar, será o segundo maior IPO da história
no Brasil e colocará a D’Or no seleto grupo de empresas com valor
acima de R$ 100 bilhões. Atualmente são apenas nove.
Essas ordens iniciais têm se
concentrado entre o piso e o meio da faixa indicativa. Investidores
entram com reservas a preços menores e corrigem sua disposição a
pagar conforme o volume de reservas totais no livro e o risco de
não serem alocados. Se a oferta fosse hoje, provavelmente seria
possível puxar o preço final para o centro da faixa, disseram três
fontes.
No entanto, chegar ao preço máximo
ao longo do período de reservas é mais difícil, complementaram as
fontes. A companhia preferiu trabalhar com uma faixa mais extensa
de preço para dar margem de correção no processo do IPO, mas sabe
que o teto da faixa é bastante “esticado”, apurou o Valor. Um
grande gestor que vai entrar na oferta resume: “Está longe de ser
uma barganha, mas sem chance de ficar de fora”.
Além do histórico bem-sucedido da
administração, os investidores estão comprando a história de
consolidação da D’Or. Fundada pelo médico Jorge Moll Filho, um dos
acionistas controladores, a Rede D’Or sempre teve uma estratégia
agressiva de aquisições, o que continua no radar.
O montante mais relevante da oferta
é primário, ou seja, com recursos que vão para o caixa da
companhia. Ao preço médio pedido por ação, serão R$ 8,3 bilhões de
munição para crescimento. Além do caixa, a companhia já está
acostumada a operar com alavancagem, o que aumenta a possibilidade
de negócios.
“Só o que a companhia executou em
M&A esse ano equivale ao tamanho da Ímpar”, compara uma fonte,
em referência a outro grupo hospitalar do Rio. A empresa já tem uma
série de hospitais e clínicas no alvo, negócios que entraram em
dificuldade com a pandemia pela queda de atendimento em algumas
especialidades médicas e que por isso podem abrir espaço para uma
transação de venda.
Nas contas internas da companhia,
apurou o Valor, é possível passar dos atuais 8 mil leitos para 18
mil leitos sem qualquer problema com o Conselho Administrativo de
Defesa Econômica (Cade), dado que a análise de concentração é
regional.
Conforme apresentações feitas a
investidores, a companhia passou de 4% para 8% de market share em
cinco anos e ainda não tem presença em vários mercados grandes.
Essa projeção já endereçaria cerca de cinco anos de crescimento da
empresa, disseram as fontes. Essa projeção é uma resposta às
análises dos investidores sobre crescimento das concorrentes
verticalizadas, como Intermédica e Hapvida.
A D’Or dependeria do crescimento
dos planos de saúde que utilizam sua rede, como Bradesco,
SulAmérica e Omint, que são vistos como menos competitivos por
analistas hoje em relação às operadoras verticalizadas. Com o
M&A, a D’Or indica que pode buscar novos mercados, sem depender
do crescimento na mesma base.
“Ainda que as verticalizadas tenham
um número muito relevante de vidas, o tíquete é baixo quando
comparado ao da D’Or”, diz um gestor de ações. Tal como as
concorrentes, a D’Or também sentiu o impacto da pandemia no
balanço.
No acumulado de 2020, até setembro,
a receita líquida foi de R$ 9,86 bilhões, em linha com o mesmo
período do ano passado, mas o lucro líquido, de R$ 156,5 milhões,
representa forte retração ante os R$ 908 milhões no comparativo. O
que a companhia indicou a investidores em suas apresentações é que,
nos últimos meses, houve aceleração desse resultado.
Conforme o balanço até setembro, a
rede é composta por 51 hospitais próprios, um hospital sob
administração e 32 projetos de hospitais em desenvolvimento,
licenciamento ou construção. Também opera a maior rede de clínicas
oncológicas do Brasil, e tem 11 laboratórios de análise e 53
unidades de diálise. De acordo com o registro do prospecto
preliminar na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a oferta base
é primária de 145,7 milhões de ações e os lotes adicional e
suplementar, que podem somar até 50,99 milhões de ações, integram a
tranche secundária.
Os acionistas vendedores na oferta
secundária são FIP Delta, da família controladora, a gestora
Carlyle (que tem posição por meio de cinco veículos) e um veículo
do GIC, fundo soberano de Cingapura, que é o maior vendedor entre
os acionistas. Considerando o preço médio e alocação total dos
lotes, o GIC embolsará R$ 1,38 bilhão, os controladores levantarão
R$ 879 milhões e o Carlyle, R$ 632 milhões, esses dois últimos
mantendo a maior parte de suas participações em ações.
O free-float da companhia listada
ficará em cerca de 43%. A definição de preço por ação do IPO está
prevista para 8 de dezembro, com início de negociação no dia 10 de
dezembro, no Novo Mercado da B3.