*Por Eduardo Tardelli
Começamos 2021 com o vazamento de
milhões de imagens exclusivas armazenadas em mais de 2.140
servidores desprotegidos e exames médicos de 45 milhões de
pacientes de hospitais e centros médicos de todo mundo expostos na
internet. A informação foi revelada após uma investigação de seis
meses, realizada pela equipe de pesquisa da CybelAngel, em sistemas
NAS (Network- Attached Storage) e no protocolo DICOM (Digital
Imaging and Communications in Medicine).
Com essas e outras fraudes, o setor
de saúde privada brasileiro amarga prejuízos anuais na casa dos de
R$ 20 bi, algo que é extremamente perigoso pois abre precedentes
para criminosos utilizarem-se das informações pessoais dos
pacientes em práticas ilícitas – ferindo a LGPD e as leis
internacionais de proteção de dados.
Ao comparar com demais países,
entendemos que um dos motivos para tais destaques negativos é que o
Brasil não investe o suficiente em práticas de compliance,
governança corporativa, gestão de riscos e transparência. Falta
também novos projetos de lei, iniciativas interministeriais e
privadas que visem o efetivo combate à corrupção e outros atos
ilícitos prejudiciais ao setor.
Com isso, abrimos históricos
perigosos para desvio de recursos que poderiam estar sendo
utilizados para melhorar o atendimento da população; sanar a
carência de equipamentos, materiais e outros insumos; contratar
médicos, enfermeiros, auxiliares e outros tipos de profissionais
com bons salários, entre outras consequências, principalmente
quando falamos do setor público.
Por isso, é preciso fiscalizar
os players e apresentar soluções que busquem a
resolução dos problemas a fim de garantir uma melhor qualidade nos
serviços. Neste contexto, cabe ao Poder Público a implementação de
uma agenda que deve ser conduzida e foque na identificação das
principais ações fraudulentas e seus impactos sobre a cadeia de
valor da saúde.
Com estas informações, será
possível ainda definir quais leis e projetos que estão em trâmite
podem ser eficientes na resolução do problema no país, a exemplo da
PL 221/15, que prevê a criminalização de condutas, tal como a
corrupção privada entre o profissional de saúde em atividade e o
fornecedor.
Outra ação importante que pode ser
tomada pelo governo é adotar práticas que aumentem a transparência
e segurança dos relacionamentos envolvidos por meio de
compliance, background Check e exigência de
compliance nas apurações dos prestadores de serviços, além de
propiciar maior acesso à informação dos tratados e acordos por
parte da população.
Na outra ponta, entre as
instituições de saúde, é essencial a implementação de programas de
compliance que garantam o cumprimento das leis e normas inerentes
ao segmento. Para tanto, é preciso investir tempo, dinheiro e
esforço, buscando práticas, profissionais, novas tecnologias e
controles que otimizem os resultados.
Por serem procedimentos complexos,
mas essenciais – pois podem causar danos irreversíveis aos
pacientes e um prejuízo imenso à instituição. No âmbito da saúde, a
implementação de um programa de compliance possibilita fazer
inúmeras verificações de fornecedores, médicos e outros
relacionamentos de forma ágil e assertiva.
Fraudes, conflitos de interesse,
enriquecimento ilícito, processos criminais, comerciais e todo o
histórico empresarial podem ser facilmente reconhecidos ou
fornecidos por uma plataforma de mineração de dados eficaz, por
exemplo. Dessa forma, gestores e analistas de compliance, RH ou
gestão de riscos podem otimizar inúmeros processos e evitar
riscos.
Assim, com o compliance e auxílio
de tecnologias específicas, será possível diminuir a ocorrência de
atos fraudulentos e evitar prejuízos financeiros, comerciais e
reputacionais para as instituições privadas de saúde; além de
conferir maior segurança aos usuários e pacientes. Todos ganham com
a transparência.