Os desafios da distribuição de
seguros pós covid no Brasil e na Europa. O assunto foi discutido
por César Garcia, delegado da Associação Profissional de Mediadores
de Seguros – APROMES-Portugal, Henrique Brandão, presidente do
Sindicato dos Corretores de Seguros do Estado do Rio de Janeiro, e
Nilton Molina, presidente do Conselho de Administração da MAG
Seguros e do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon. O encontro
foi mediado pelo presidente do CVG-RJ, Octávio Perissé, e pelo
vice-presidente do CVG-RJ, Enio Miraglia.
O evento – em formato digital – foi
um convite a pensar o que vai acontecer quando a pandemia acabar.
César Garcia foi o primeiro a falar. Para ele, a crise financeira e
social provocada pelo covid pode ter algumas semelhanças com a
crise de 2007/2008. Vemos uma queda de negócios em seguro. “Muitos
seguradores e corretores deram por ‘perdida’ a produção e
focaram seus objetivos e esforços em manter a carteira”, disse.
Ele explicou que muitos benefícios
fiscais que tinham fundos de investimento e planos de aposentadoria
estão sendo revisados, o que prejudica produtos de poupança. Por
outro lado, os produtos de saúde estão com grande saída já que as
pessoas estão preocupadas. “Por segurança, as pessoas não estão
indo ao médico, o que reduz os gastos das empresas de saúde”,
explicou.
Henrique Brandão, presidente do
Sincor-RJ, disse que o corretor é um sobrevivente. “Estamos
vivendo o maior desafio da história dos corretores”, ponderou. Ele
disse que quanto mais vê tecnologia, mais tem certeza da
continuidade da distribuição. “Quanto mais eu vejo tecnologia, mais
eu vejo que existe a necessidade de outra pessoa do outro lado para
o atendimento”, afirmou.
Brandão ressaltou que a
distribuição está vivendo o impacto da especialização. “As
seguradoras entenderam que o casamento entre
segurado/corretor/seguradora é uma trilogia perfeita de
custo-benefício que beneficia todas as partes”, ponderou.
Ele destacou ainda que enquanto
existir a capacidade de relação humana, o corretor de seguros vai
sobreviver. “Eu acredito no corretor de seguros e que ele será o
protagonista na distribuição de seguros no mundo”, destacou.
Brandão lembrou de uma passagem
quando sugeriu que o seguro de vida fosse colocado na cesta básica.
“Fazer um consórcio de seguradoras, nos moldes do DPVAT, sem
cobrança de IOF. O assunto avançou e, de repente, parou. Fico
frustrado porque quero vender seguro para quem ganha salário
mínimo. Não conseguimos fazer isso porque a estrutura fiscal do
Brasil não permite”, analisou.
Para ele, o mercado de seguros é
ineficiente e desinteressado dos problemas sociais do país.
“Um país que tem 130 milhões de pessoas pobres. O setor de seguros
não pode ser tão insensível a essa dificuldade de acesso ao
seguro”, afirmou.
Nilton Molina contou que também
chegou a propor ao governo incluir um auxílio funeral para pessoas
pobres. “Esse seguro ia custar 0,50 centavos. Eu tinha imaginado
reunir um grupo de seguradoras para cuidar disso. Além do aspecto
social, tinha o lado de degustação: ir pra base da sociedade
mostrar o que é seguro e pra que serve seguro. Lutei por isso e
também não tive sucesso”, lamentou.
Ao falar sobre os desafios da
distribuição, Molina lembrou que a pandemia abriu os olhos das
pessoas para o risco, “mas não vai durar para sempre”. Ele destacou
que o bem mais valioso do corretor são o tempo e seus clientes e a
tecnologia permitiu que o corretor aumentasse suas visitas aos
clientes sem sair do lugar.
O executivo ressaltou ainda que o
consumidor pesquisa mais e quer mais. “Tenho certeza que vamos ter
de entregar mais para os clientes pelo mesmo preço. Qualidade e
benefícios. Não tenho dúvida”, analisou.
Para ele não existe um corretor
especialista em gente, nas necessidades do cliente. “Essa figura se
confunde com consultor. O corretor tem dois capitais: cliente e
tempo e ele despreza os dois porque não explora a capacidade de
atender todas as necessidades do indivíduo. O corretor tem que ser
especialista em gente, não em produto”, finalizou.