Dentro de pouco tempo a indústria farmacêutica terá uma cara
completamente diferente da atual.
Mudanças na dinâmica do mercado podem resultar em consequências
severas para algumas das atuais líderes do mercado e facilitar o
surgimento de novas gigantes globais – e tudo isso em um período
menor do que cinco anos.
A situação, que requer cuidados e ações imediatas das empresas,
está no foco das atenções da maioria dos executivos do setor. Pelo
menos é o que indica uma pesquisa realizada pela consultoria Roland
Berger e obtida com exclusividade pelo Brasil Econômico.
“É um momento de mudanças significativas no mercado, o que impõe
alterações no modelo tradicional de negócios do setor”, afirma
Jorge Pereira da Costa, sócio da Roland Berger no Brasil.
Segundo o estudo, 73% das empresas acreditam que o setor
farmacêutico vive uma crise estratégica – resultado de fatores como
mudanças no ambiente competitivo, o crescimento dos países
emergentes e falhas na pesquisa e desenvolvimento de novos
produtos.
Os principais afetados pelas mudanças previstas para o mercado nos
próximos anos são os grandes grupos, que dominam o segmento há
muitos anos.
“Essas empresas têm parte significativa de suas patentes
vencendo, enfrentam pressões por menores preços de seus principais
clientes, que são os seguros de saúde e os governos, e ainda por
cima, enfrentam uma forte concorrência de empresas locais quando
resolvem entrar em novos mercados”, diz Pereira da Costa.
A saída para mercados emergentes, que combinam maiores taxas de
crescimento e necessidades mais simples de serem atendidas, é um
dos principais caminhos encontrados pelas companhias para enfrentar
a “crise estrutural”.
Hoje, apenas 24% dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento
são realizados nesses países. Dentro de 10 anos, o número deve
saltar para 43%. Empresas como Sanofi, Pfizer, Novartis e Bayer já
têm enxergado essa tendência e investido na construção de fábricas
e laboratórios em países como Brasil, China, Índia e Arábia
Saudita.
“O grande problema é que ao entrar nesses mercados, as gigantes
multinacionais se deparam com líderes regionais e têm que enfrentar
uma concorrência dura”, afirma Pereira da Costa.
No Brasil, por exemplo, as multinacionais respondem por apenas 45%
das vendas feitas pelas 10 maiores empresas do setor. Em mercados
ainda mais fechados, como a Rússia, o número é ainda menor – de
apenas 9%.
“As companhias com forte atuação nesses mercados que souberem
aproveitar esse momento podem se internacionalizar e se tornar
novas líderes do setor.”
Patentes
Além da disputa com empresas hoje consideradas regionais, as
gigantes do setor farmacêutico têm que lidar também com problemas
referentes a patentes. Laboratórios como a Pfizer, presidida por
Ian Read, têm tido grandes perdas decorrentes do vencimento de
direitos intelectuais sobre alguns de seus mais importantes
produtos.
Recentemente, a empresa teve uma redução de 19% em suas receitas
decorrentes do fim dos direitos de exclusividade para produzir o
Lípitor, remédio contra o colesterol considerado o mais vendido de
todos os tempos. Antes, a companhia havia passado por momentos
parecidos.
Quando a patente do Viagra venceu, a Pfizer também não tinha nenhum
outro remédio com o mesmo potencial de vendas para substituí-lo nas
prateleiras das farmácias.
Casos como o da Pfizer são um bom símbolo dos impactos que podem
surgir decorrentes da crise apontada pelo estudo da Roland
Berger.
“As companhias já veem isso e começam a rever suas estratégias e
modelos de negócios. Mas todo esse processo pode trazer mudanças
significativas no quadro de grandes players do setor”, diz Pereira
da Costa.