A proposta que amplia os direitos dos prestadores de serviços
domésticos vai facilitar a vida dos cuidadores de idosos ou
enfermos, que hoje cumprem longas jornadas de trabalho. Mas pode
levar também um número grande de pessoas que necessitam cuidados a
ser internados em instituições, segundo profissionais do setor.
"Temo que muitas famílias vão preferir deixar o idoso em uma
instituição em vez de cuidar dele em casa, em razão do alto custo",
diz o presidente da Associação dos Cuidadores de Idosos de Minas
Gerais, Jorge Roberto Souza.
Ele vê a chamada PEC das domésticas, que ampliou os direitos dos
empregados - e será promulgada hoje pelo Congresso -, com bons
olhos, na medida em que estabelece uma carga horária de trabalho,
pagamento de horas extras e adicional noturno, mas diz que muitas
famílias não terão condições de manter os serviços. O custo vai
subir, em média, 30% a 40%, calcula.
Segundo Souza, no caso dos contratos com carga horária de 24
horas, em que duas pessoas se revezam nos cuidados dos idosos ou
doentes, serão necessários quatro funcionários para atender à regra
da jornada de 44 horas semanais.
"Além do alto custo, será muito difícil para uma família
administrar quatro pessoas se revezando na residência", diz.
"Também não há mão de obra suficiente para essa demanda." Souza, da
associação mineira que representa cerca de 5 mil cuidadores, já
ouviu de empregadores que eles vão buscar instituições ou
terceirizar o serviço para uma empresa especializada que possa
administrar o processo.
Apesar de bem-vinda, Souza acha que a PEC "foi pensada para o
empregador tradicional, mas esqueceram das famílias que precisam do
profissional para cuidar de seu doente". Ele defende uma espécie de
subsídio para essas famílias.
Sem saída. "A lei é incorreta, pois deixa o empregador sem
saída", afirma o advogado André Paes, especializado na área de
Trabalho. Ele diz que será muito difícil administrar o tempo de
trabalho de um profissional que, por exemplo, passa o dia ou a
noite na residência. "Como será definido o que de fato foi hora
trabalhada, hora de lazer ou de refeições?" Em sua opinião, a
medida "vai atolar a Justiça do Trabalho com ações" num momento em
que se discute formas de desafogar o Judiciário.
O mestre em Direito do Trabalho e professor de pós-graduação da
PUC-SP, Ricardo Pereira de Freitas Guimarães, sugere que as partes
façam um contrato estabelecendo regras para a prestação de
serviços.
Segundo ele, a jornada tem início a partir do momento em que o
profissional está à disposição do empregador, mesmo que não seja
demandado para um trabalho específico. "É preciso respeitar o
limite de 8h e o que ultrapassar deve ser contado como hora extra
e, se for à noite, tem de pagar adicional noturno."
Ele admite que para muitas pessoas as regras não vão caber no
orçamento. "A PEC é um avanço e medidas semelhantes estão sendo
adotadas no mundo todo, mas, por outro lado, é preciso levar em
conta que a família que contrata um cuidador não é uma empresa, não
tem como repassar aumentos de custos."