O governo estuda a possibilidade de autorizar a comercialização
de um plano de previdência para reforçar o financiamento da saúde
privada. A informação foi repassada pelo diretor-presidente da
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), André Longo Araújo de
Melo, na quinta-feira (23), durante audiência pública da comissão
temporária que analisa soluções para o financiamento do sistema de
saúde brasileiro.De acordo com André Longo, o esboço do VGBL Saúde,
denominação que terá o plano, foi desenvolvido pela ANS em conjunto
com a Superintendência de Seguros Privados (Susep).
Atualmente, o Ministério da Fazenda estaria avaliando o grau de
isenção fiscal a ser concedida ao produto, que teria
características próximas do VGBL previdenciário, que permite
dedução no Imposto de Renda.- É uma forma inteligente de contribuir
para o pacto intergeracional [nos planos de saúde], pois o Estatuto
do Idoso limita aumentos [na mensalidade] a partir dos 60 anos, que
é onde cresce o impacto no setor - afirmou o presidente da
ANS.André Longo explicou que o usuário do plano de saúde poderá
optar por sua aquisição atrelando uma parcela à mensalidade cobrada
pelas operadoras. Ainda estão indefinidos, conforme acrescentou, o
índice de remuneração da aplicação e se o produto terá o amparo de
um fundo garantidor. A iniciativa deverá ser objeto de projeto de
lei encaminhado ao Congresso Nacional.
Viabilidade econômica
A viabilidade econômica do VGBL Saúde também foi apontada pelo
gerente-geral da Federação Nacional de Saúde Suplementar
(Fenasaúde), Sandro Leal Alves. Segundo comentou, a ideia é que
parcela das contribuições dos usuários mais jovens possa ser
acumulada e remunerada para abater, no futuro, parte da
mensalidade do plano de saúde.- [O beneficiário] poderá escolher se
quer contribuir com mais 5%, 10%, valor que pode ser repartido com
o empregador [caso dos planos empresariais] - observou Sandro Leal,
ressaltando que a contribuição na faixa economicamente mais ativa
vai aliviar o impacto da mensalidade na faixa menos favorecida
economicamente, que reúne os idosos.Ao defender a medida, o
dirigente da Fenasaúde chamou atenção para a projeção de que, nos
próximos 20 anos, a população com mais de 60 anos irá duplicar no
país, segmento expressivo dentro do sistema de saúde suplementar.
Este também é o prazo, conforme alertou, para buscar uma melhor
alocação de recursos para a saúde, tendo em vista que a população
economicamente ativa, responsável pelo financiamento dos idosos no
sistema, vai começar a decrescer.
Em intervenção feita durante o debate, o senador Jayme Campos
(DEM-MT) afirmou não estar seguro da viabilidade do VGBL Saúde. Seu
receio é de que, na hipótese de eventual falência do plano de
previdência para o setor, o investidor não tenha garantias para
cobrir o prejuízo.O parlamentar também mostrou desconfiança quanto
à fidedignidade dos dados contábeis apresentados pelas operadoras.
André Longo considerou a preocupação relevante, mas assegurou que a
ANS tem total controle sobre a situação econômico-financeira das
empresas. A "rigorosa" fiscalização da agência foi reforçada ainda
pelo gerente da Fenasaúde.