Passados 25 anos da criação do Sistema Único de Saúde (SUS), o
financiamento do setor ainda é apontado por especialistas como um
dos principais gargalos para a concretização de seus princípios,
entre eles a oferta de serviços de qualidade de forma integral.
Esse foi um dos temas discutidos na quarta-feira (25) durante o
seminário Caminhos da Saúde no Brasil, organizado pelo Conselho
Nacional de Secretários de Saúde (Conass).
Durante o evento, a presidenta do Conselho Nacional de Saúde (CNS),
Maria do Socorro de Souza, defendeu a destinação anual de 10% da
receita corrente bruta da União para o setor. No mês passado, mais
de 800 mil assinaturas em apoio ao projeto de lei de iniciativa
popular que traz a proposta foi entregue ao presidente da Câmara
dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). A medida foi
considerada inviável pela ministra do Planejamento, Miriam
Belchior.
Como alternativa, o governo sinalizou que pretende destinar 15% da
receita corrente líquida para a área da saúde. Segundo a ministra
de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, a intenção é incluir
uma emenda na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Orçamento
Impositivo, em tramitação no Senado. A receita corrente líquida da
União é a soma de todas as receitas do governo federal com tributos
e contribuições, excluídas as transferências constitucionais para
estados e municípios.
“Diversas entidades nacionais têm colocado o assunto na agenda da
sociedade, do governo e do Legislativo. A proposta do governo é
destinar 15% da receita líquida em um percurso escalonado, que
demorará até 2018 [para atingir o patamar]. O problema é que a
receita corrente líquida é muito variável e suscetível às disputas
de priorização de investimentos em políticas sociais ou em
políticas econômicas”, disse. “O SUS precisa de um aporte maior e
imediato”, acrescentou.
Ao comentar o assunto, o secretário de Gestão Estratégica e
Participativa do Ministério da Saúde, Odorico Monteiro, que também
participou do seminário, disse que o governo tem uma “preocupação
clara” em definir fontes de financiamento estáveis para o setor.
“Esse debate está ocorrendo no Congresso. Além disso, a presidenta
Dilma sancionou a lei que destina 25% dos royalties [do petróleo]
para a saúde, mostrando que tem uma preocupação clara em construir
fontes de financiamento estáveis para a saúde. É um debate
fundamental para a sociedade, é uma preocupação do governo”,
afirmou.
Ainda durante o evento, o secretário defendeu o fortalecimento do
modelo de assistência regionalizada, em que municípios vizinhos
devem se organizar, em parceria com estados, para garantir
atendimento às suas populações. “Um dos desafios mais importantes
do SUS atuamente é organizar as regiões de saúde, definidas no
Decreto 7.508, da presidenta Dilma [publicado no Diário Oficial da
União em junho de 2011], sistematizando o percurso que cada cidadão
tem que fazer para ter acesso a uma consulta, uma cirugia, um exame
ou um tratamento especializado fora do seu município”, disse
Monteiro.
“A integralidade do sistema só vai ocorrer com o aprimoramento da
relação solidária entre estados, que coordenam as regiões de saúde,
e municípios”, acrescentou.