O relator do Projeto de Lei 484/11, que obriga o Sistema Único
de Saúde (SUS) a realizar gratuitamente o chamado “teste do pezinho
expandido” nos recém-nascidos, deputado Eduardo Barbosa (PSDB-MG),
espera apresentar um relatório para o tema em até duas semanas. O
parlamentar deverá propor uma ampliação do exame hoje ofertado pelo
SUS, sem, no entanto, criar restrições.
“Nós temos que indicar ao Poder Executivo que os estudos devem
continuar para a abrangência de novas doenças, cientificamente
comprovadas, para as quais valha a pena fazer um diagnóstico porque
elas têm impacto na vida das pessoas”, observou Barbosa. “Não vamos
especificar se serão 20, 30 ou 100 doenças. A ciência é que vai
fazer esse indicativo.”
O assunto foi discutido nesta quinta-feira (24) na Comissão de
Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados. Os
participantes do encontro concordaram com a necessidade de
ampliação do exame, desde que seja feita com cautela.
Atualmente, o teste do pezinho permite o diagnóstico antecipado de
aproximadamente 50 tipos de distúrbios metabólicos ou doenças
raras, como hipotireoidismo congênito e retardo mental.
Obstáculos
Na rede pública de saúde, entretanto, não passa de seis o número de
doenças detectadas: fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito,
anemia falciforme, fibrose cística, hiperplasia adrenal congênita e
deficiência de biotinidase. E apenas seis estados (Santa Catarina,
Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul) têm
essa condição hoje. A meta do governo é universalizar a
possibilidade de detecção dessas seis doenças para todo o Brasil
até o próximo ano e atender os 2,9 milhões de nascidos no País por
ano.
“A inclusão de doenças dentro do programa público tem que observar
o seguinte: a gente pode universalizar a triagem para uma
determinada doença para todos os estados? Há tecnologia nos estados
para fazer os exames? Temos especialistas para tratar as crianças
com resultado positivo? Temos tratamento no SUS em todos os estados
brasileiros?”, ponderou a coordenadora do Programa Nacional de
Triagem Neonatal do Ministério da Saúde, Ana Estela Goldbeck.
Impactos menores
Conforme explicou o pediatra e professor da Universidade de São
Paulo (USP) José Simon Camelo Júnior, o teste do pezinho permite,
entre o 2º e o 5º dia de vida, identificar doenças atribuídas a
defeitos genéticos que acometem um bebê a cada mil crianças
nascidas vivas. “A triagem adequada consegue minimizar o impacto no
sistema de saúde, fazer com que a criança se desenvolva
normalmente, diminuir o estresse da família e reduzir o absenteísmo
dos pais no trabalho”, disse.
Por outro lado, o vice-diretor do Núcleo de Ações e Pesquisa em
Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medicina da Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG), Marcos José Burle de Aguiar, chamou atenção
para a possibilidade de criar angústias desnecessárias nas famílias
em razão, por exemplo, de resultados falso-positivos. “É sofrimento
para a família e custo para o Estado.”
Já a presidente da organização Raríssimas Brasil, Regina Próspero,
mãe de um rapaz de 23 anos com mucopolissacaridose (doença
hereditária que pode levar à morte), considera que a família tem o
direito de conhecer os problemas dos filhos. “Hoje a gente pode
diminuir o sofrimento das famílias, que, muitas vezes, demoram
cinco, seis anos, peregrinando de hospital em hospital em busca de
diagnóstico.”
Marcos Burle de Aguiar, no entanto, recomendou a observação
cuidadosa das doenças mais factíveis para a realidade brasileira,
“levando em conta aquelas com menos resultado falso-positivo”.
Eduardo Barbosa reforçou que tentará buscar o equilíbrio. “O mais
importante é diagnosticar e ofertar tratamento. O pior é dar o
diagnóstico e a família não ter para onde correr”, avaliou o
relator.