Insatisfeitos,
médicos e pacientes criam alternativas a plano de saúde
No Dia Mundial da Saúde, médicos
fazem protestos suspendendo atendimento de planos
Para marcar o Dia Mundial da Saúde
e o Dia Nacional de Protesto contra os Planos de Saúde, celebrados
nesta segunda-feira (7), médicos de diversas partes do País vão
promover diferentes tipos de protestos, inclusive suspendendo o
atendimento de planos.
No topo da pauta das reivindicações está o valor pago pelas
operadoras de saúde por consultas e procedimentos, considerado
"incipiente" por organizações médicas e por profissionais ouvidos
pela BBC Brasil.
Apesar de algumas pequenas vitórias, o problema vem se arrastando
há anos. Tanto que o slogan usado neste protesto pela Associação
Paulista de Medicina é inspirado em uma campanha de 15 anos atrás:
"Tem plano de saúde que enfia a faca em você e tira o sangue dos
médicos."
Diante desse cenário, um número crescente de profissionais — de
pediatras a oftalmologistas — vêm criando alternativas para driblar
os valores pagos pelas operadoras de saúde e condições impostas por
elas.
Uma das estratégias mais comuns é um médico que não atende um plano
de saúde cobrar do paciente com plano não o valor da consulta
particular, mas sim a quantia paga como reembolso pelo plano.
Mas como isso funciona na prática? O caso da publicitária Juliana
Linhares é um bom exemplo. Após descobrir um problema no joelho,
conseguiu fazer seu tratamento com um ortopedista de confiança
apenas porque ele aceitava esse tipo de pagamento.
Como não atendia o plano de saúde
dela, o médico cobrou o valor mínimo de sua consulta particular (R$
300) e deu dois recibos, no valor de R$ 150 cada. Juliana pagou e
usou as nota dadas pelo médico para pedir reembolso a sua operadora
de saúde, que era de R$ 120 para consultas desse tipo.
"No total, recebi R$ 240 do plano.
Arquei com a diferença de R$ 60. O ideal, claro, seria não gastar
nada, visto que já pago a mensalidade do plano. Mas não encontrei
um médico de confiança entre os conveniados. Então, essa foi uma
boa alternativa", disse Juliana.
Pelo prisma do médico, a proposta também é interessante, já que ele
evitar perder pacientes, ganha mais do que receberia do plano e é
pago na hora - ao invés de esperar até dois meses para receber os
honorários pagos pelo plano.
Mais fôlego
Essa prática alternativa de cobrança vêm ganhando força, tanto que
ela é incentivada inclusive pelo CFM (Conselho Federal de
Medicina), que analisa uma proposta de retirar as consultas dos
contratos entre médicos e operadoras.
Pelo projeto, as consultas não integrariam os planos contratados
pelos pacientes. Ele cobraria apenas exames, internações e outros
procedimentos similares. Já as consultas seriam pagas diretamente
pelo paciente ao médico, que realizaria o mesmo procedimento que o
ortopedista no caso citado acima.
Ele daria um recibo pela consulta, com o qual o paciente poderia
solicitar o reembolso do valor com a operadora de seu plano de
saúde.
"Nossa proposta vem ganhando força porque a classe médica está
muito impaciente e desmotivada", disse à BBC Brasil o médico
Aloísio Tibiriçá, vice-presidente do CFM.
"É claro que não é o cenário ideal, já que acaba sendo cômodo para
os planos de saúde. Mas é uma alternativa para se evitar um
desgaste progressivo na relação entre profissionais da saúde e
operadores."
Demora para
pagar
Segundo Tibiriçá, no momento, os pacientes vêm se deparando com
médicos desmotivados, que estão progressivamente abandonando os
planos de saúde - além de operadoras incapazes de disponibilizar
uma oferta razoável de profissionais para evitar uma demanda
crescente - alta de 4,6% no ano passado.
"Estamos nas mãos dos planos. Eles demoram até mais de dois meses
para pagar, por vezes não pagam determinada consulta ou exame e não
há um extrato claro para se descobrir o motivo", diz Tibiriçá.
"Para piorar, a ANS (Agência Nacional de Saúde Complementar, órgão
do governo que regulamenta o setor) é complacente com as operadoras
de saúde, não ouve nossas propostas e também não faz a ponte entre
a classe médica e os planos."
A ANS disse à BBC Brasil que as críticas são infundadas, já que há
vários canais de diálogo com os médicos, como a recente criação de
um comitê para incentivar boas práticas entre operadoras e médicos,
para estreitar o diálogo entre as partes.
Segundo a agência, também não é verdadeira a afirmação de que não
há diálogo, já que há "reuniões em grande periodicidade para se
debater temas pertinentes."
A insatisfação dos médicos em relação aos planos parece permear
todas as especialidades e com profissionais em diversos momentos de
suas carreiras.