Mulheres
negras possuem menos acesso à saúde, consultas médicas e exames,
revela estudo feito na Universidade de São
Paulo
Uma
pesquisa feita na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo
analisou a forma como o sistema de saúde na cidade de São Paulo
atende as necessidades das mulheres negras. Conclusão: o direito à
saúde para este grupo é prejudicado por discriminações raciais e de
gênero.
O
projeto da professora Simone Henrique, da Universidade Camilo
Castelo Branco (Unicastelo) e da Universidade de Suzano (UNISUZ),
buscou estudar o direito fundamental à saúde da mulher negra no
município de São Paulo. Para a pesquisadora, um dos principais
problemas reside na dicotomia entre o que a sociedade possui na
teoria e o que ela realiza na prática. “Os instrumentos da Lei para
garantir a saúde da mulher negra estão todos presentes. A igualdade
formal no Brasil é imensa, mas a execução dessa igualdade não
acontece”.
Durante o estudo, a pesquisadora realizou um
levantamento teórico dos processos de saúde e direitos humanos em
diversos institutos da USP além da FD, tais como a Faculdade de
Saúde Pública (FSP), a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas (FFLCH), no Departamento de Ciências Sociais, e a Escola de
Artes, Ciências e Humanidades (EACH), no programa de mestrado em
Participação e Mudança Social. “Como minha formação é jurídica,
procurei focar na multidisciplinaridade do projeto, buscando
elementos de outras unidades de ensino”.
Paralelamente ao levantamento acadêmico, Simone
foi a campo analisar a dinâmica de atendimento de uma unidade de
saúde na periferia da cidade de São Paulo. “Vivenciei, e ainda
vivencio, pois sou usuária do SUS, o cotidiano dos centros de saúde
na cidade, sobretudo os próximos a minha casa”. Ela conta que
percebeu durante a fase de levantamento que as mulheres negras
possuem menos acesso à saúde, consultas médicas e
exames.
Um
dos principais objetivos finais da pesquisa de Simone foi resgatar
e trazer dados da realidade vivida pela mulher negra no Brasil.
“Busquei apresentar o problema, focando na cidade onde eu moro. Me
questionava como essa politica de saúde publica que está
teoricamente bem estruturada pela Constituição e pelo estatuto de
igualdade racial está presente no cotidiano da cidade”.
Realidade acadêmica
A professora ressalta que os
problemas vivenciados pela mulher negra nos atendimentos médicos
não se limitam apenas ao âmbito da saúde. Ela faz um alerta para a
questão do acesso à educação que a população negra possui
atualmente e afirma que essa problemática não é apenas dos negros,
mas de todo o conjunto social.
“Vejo
como exemplo a própria Faculdade de Direito, uma unidade que ainda
possui problemas com relação à questão racial, pela falta de
acesso. Eu não me vejo nos corredores da faculdade. Sou agraciada
por ter uma orientadora negra, a doutora Eunice Aparecida de Jesus
Prudente, porém ela é uma das poucas professoras negras do
Direito”.
A
pesquisadora acredita que uma das principais alternativas para todo
esse processo é pensar na educação em direitos humanos para
modificar essa questão. “Falar em direitos humanos no Brasil hoje é
correr riscos. São necessárias a mobilização e consciência de
todos. Trata-se de um contexto, que funciona lado a lado, e o
grande problema é que não nos reconhecemos uns nos
outros”.