Fraudes desencadearam operação
‘Tempo de Despertar’ em MG, BA e RJ.Apenas no Norte de MG rombo é
de R$ 28 milhões; 40 foram presos.
Os órgãos que apuram as fraudes no
DPVAT, investigadas na operação “Tempo de Despertar”, apontam que
os prejuízos aos cofres públicos podem ser de R$ 1 bilhão em todo o
Brasil. A estimativa foi feita depois que o Ministério Público e a
Polícia Federal descobriram que, apenas no Norte de Minas Gerais, o
rombo é de R$ 28 milhões. Em decorrência das irregularidades
apuradas, 40 pessoas foram presas nesta segunda-feira (13), em MG,
BA e RJ. Entre os detidos há 14 empresários e pessoas ligadas a
eles, um policial militar, 11 policiais civis, sendo um delegado,
três médicos, oito advogados e três fisioterapeutas. Um empresário
permanece foragido. A Justiça expediu 229 mandados. Veja os nomes
dos envolvidos. “A seguradora Líder [que administra o DPVAT no
país] arrecada R$ 10 bilhões por ano, destes, 45% vão para o
Sistema Único de Saúde, o restante, mais de R$ 5 bilhões, são
utilizados para o pagamento de indenizações. Se 20% dos pagamentos
forem feitos irregularmente, há um prejuízo de R$ 1 bilhão, quando
temos em vista que este percentual pode ser ainda maior, entre 30%
e 50%”, explica o promotor Guilherme Roedel.
Fraudes em todo o Brasil O delegado
Marcelo Freitas explica que na primeira etapa da investigação foram
identificados os núcleos locais envolvidos na fraude.
Posteriormente, foi descoberta a relação de membros dos grupos,
como advogados por exemplo, que tinha ligação com advogados em
outros estados. Por isto, segundo ele, que a “Tempo de Despertar”,
embora tenha sido feita a partir de irregularidades em MG e por
iniciativa de autoridades do MP e da PF do Norte de Minas, se
estendeu para outros dois estados.
“A operação policial neste momento
focou em algumas das principais cidades de Minas Gerais, mas não
temos dúvidas de que a investigação irá se estender para outros
estados do território nacional, pois a fraude aqui estancada se
estende por várias cidades de todo o nosso país”, destaca o
delegado Marcelo Freitas da PF. Pioneirismo da operação e
conivência da Líder De acordo com o que está sendo investigado, o
MP e a PF acreditam que as fraudes têm a conivência da Líder. Este
é, segundo as autoridades, o diferencial da operação “Tempo de
Despertar”. O dinheiro arrecadado irregularmente com as
indenizações seria dividido entre os envolvidos, inclusive com
alguns membros da seguradora. “A partir do momento em que ela
recebe uma porcentagem para cada acordo que é feito, não é
interessante combater esse tipo de fraude. Acreditamos que o
recurso pago pelos cidadãos deveria ser destinado ao governo, sem a
participação da seguradora ou das intermediadoras [empresas
particulares que cobram percentuais para ajudar as vítimas a dar
entrada no seguro]”, fala o promotor Bruno Oliveira Muller.
Entenda o esquema Para conseguir
que o seguro fosse pago, de acordo com o MP e PF, os envolvidos
fraudavam documentos como boletins de ocorrência, atestados médicos
e procurações. Além disso, conseguiam ter acesso a informações
privilegiadas com dados de possíveis vítimas por meio de
funcionários de hospitais e policiais. Lesões causadas por brigas
entre casais, brigas em bares e partidas de futebol, eram atestadas
como se fossem provocadas em acidentes de trânsito. Por iniciativa
de denúncias de juízes, que encaminhavam casos com indícios de
fraude para o MP e PF, que as investigações começaram.
Apenas em Montes Claros, dos 60 mil
processos em tramitação, 10 mil são relacionados ao DPVAT. “Quando
a Justiça é acionada, a presunção é de que se trata de algo
legítimo. Mas conforme o andamento das investigações, percebemos
que o Judiciário é muitas vezes induzido ao erro. O número enorme
de demandas incentivou o próprio Judiciário a estimular a
realização dos mutirões, que de uma vez só acabam com três mil
processos, chancelando muitas vezes as fraudes”, fala o promotor
Flávio Márcio Lopes, que faz parte do Grupo de Atuação Especial de
Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
Desdobramentos Segundo o delegado
Marcelo Freitas, após a realização da operação, o MP e a PF estão
recebendo ligações de juízes de várias comarcas que querem entender
como os grupos criminosos agiam e quem são os envolvidos para
saberem se eles movem processos nas áreas de atuação deles. Além
disso, foi encaminhada uma cópia do processo relativo à
investigação para todos os juízes de Minas Gerais. O documento
também foi enviado para o corregedor de Justiça, o Conselho
Nacional de Justiça, Conselho Nacional do Ministério Público e o
Ministério da Justiça. “Trabalhamos com a ideia de que é preciso
alterar completamente o modo de pagamento das indenizações do
seguro, que instituições bancárias e os Correios sejam utilizados,
para evitar que o pagamento seja feito por intermédio de
seguradoras e empresas. Precisamos criar mecanismo de enfretamento
efetivo, para que o cidadão, proprietário de veículo automotor não
seja extorquido como está acontecendo”.
Os envolvidos podem responder por
vários crimes como corrupção ativa e passiva, formação de
quadrilha, estelionato, falsidade ideológica e uso de documento
falso. Tempo de despertar O MP e a PF esclarecem que o nome da
“Tempo de Despertar” é uma alusão à necessidade de que o cidadão
não seja convivente com atos de corrupção. “O cidadão que se
envolve nisso, não é enganado, faz isso de forma consciente em um
momento em que a população está indo às ruas contra a corrupção.
Este tipo de fraude depende do cidadão que quer uma indenização que
ele não tem direito e acaba movendo este sistema de corrupção”, diz
Guilherme Roedel. O que dizem os envolvidos Por e-mail, a
assessoria de imprensa da Líder também disse que, desde 2012,
denunciou 115 casos com indícios de fraudes para a Polícia Civil na
comarca de Montes Claros.
“Somente em 2014, foram comprovadas
pela Seguradora 7.076 tentativas de fraude contra o Seguro DPVAT e,
nesse mesmo período, foram oferecidas 4.102 novas representações
criminais”
A Líder diz ainda que fica evidente
a contradição da acusação, uma vez que a seguradora combate as
fraudes em todo país.
“Repudiamos as declarações do
delegado federal e do promotor de justiça local que, em entrevistas
à imprensa, cometeram a imprudência de apontar, sem provas e sequer
indícios, a Seguradora Líder-DPVAT como envolvida no esquema
fraudulento.” A seguradora disse ainda que os envolvidos não
integram os quadros da empresa e aciona as autoridades ao suspeitar
de fraudes. Os representantes das Polícia Civil, Militar e da Ordem
dos Advogados do Brasil destacaram que irão acompanhar as
investigações e não são coniventes com atos ilícitos.