Na medida em que seguradoras e resseguradoras internacionais
noticiam resultados cada vez mais pressionados pela sequência de
catástrofes naturais dos últimos meses, se consolida no mercado a
ideia de que o longo ciclo de queda de preços pode ter chegado ao
fim.
Relatório divulgado pelo banco de investimento Morgan Stanley
afirma que os executivos das empresas de seguros têm esperança de
poder negociar aumentos de tarifas nas renovações de janeiro, algo
que não puderam fazer na maior parte das linhas de seguro comercial
nos últimos 17 trimestres.
Os autores do relatório citam o caso da seguradora Travelers,
que, ao anunciar seu último balanço trimestral, afirmou que as
condições estão mais propícias para um aumento de
preços.
Durante a apresentação de resultados do trimestre, em 19 de
outubro, o CEO da Travelers, Alan Schnitzler, disse que a empresa
está “mais confiante” em sua capacidade de obter aumentos de preços
nas próximas renovações.
Isso seria muito bem-vindo para o setor, já que, nos cálculos do
Morgan Stanley, um aumento médio entre 1% e 5% nos preços seria
capaz de dar um gás de entre 6% e 29% para as empresas cujas ações
são pesquisadas pelos seus analistas.
Com isso, os investidores de renda variável poderiam mostrar um
maior interesse pelas empresas do setor, e isso incluiria as
corretoras especializadas nesse segmento do mercado, de acordo com
o relatório, que foi divulgado pela Intelligent Insurer.
Catástrofes
A perspectiva de mudança de ciclo nos preços dos seguros
comerciais vem sendo reforçada pela inusitada sequência de
catástrofes naturais registrada desde agosto.
Nos últimos três meses, os furacões Harvey, Irma e Maria
causaram grandes perdas nos Estados Unidos e Caribe; o México
sofreu dois terremotos; gigantescos incêndios florestais causaram
devastação na Califórnia, Portugal e Espanha; e a Irlanda foi
atingida por uma tempestade tropical.
Até o Brasil sofreu com um desastre natural, ainda que o enorme
incêndio no Parque da Chapada dos Veadeiros ocorre em uma região de
escassa penetração de seguros.
O impacto acumulado de tantas catástrofes sobre o mercado de
seguros e resseguros deve configurar 2017 como um dos anos com
maiores perdas para o setor.
A Swiss Re, por exemplo, divulgou nesta semana estimativa de que
apenas os furacões Irma, Harvey e Maria e os terremotos mexicanos
devem gerar perdas seguradas de US$ 95 bilhões.
Resultados
As perdas sofridas na temporada de catástrofes seguem causando
danos aos resultados dos grandes grupos.
A Swiss Re, por exemplo, disse que os furacões e terremotos lhe
custarão US$ 3,6 bilhões.
Uma de suas principais rivais, a Munich Re, por sua vez, disse
que sua exposição aos furacões chega a €2,7 bilhões, e as perdas
totais no terceiro trimestre, a €3,2 bilhões.
Com isso, a empresa teve um prejuízo de € 1,4 bilhão entre julho
e setembro.A empresa alertou seus acionistas que as pesadas perdas
catastróficas podem fazer com as metas de lucros não sejam
atingidas neste ano.
Outra das maiores resseguradoras do mundo, a francesa SCOR,
perdeu € 430 milhões com os furacões e terremotos, resultando em um
prejuízo líquido de € 267 milhões no trimestre.
Já a XL teve US$
1,4 bilhão em perdas com catástrofes naturais no terceiro
trimestre, comparado com US$ 97,4 milhões no mesmo período de 2016.
Com isso, o grupo fechou o balanço trimestral com um prejuízo
líquido de US$ 1,04 bilhão.
Por sua vez, a Mapfre divulgou ter tido um lucro líquido de US$
444,6 milhões nos primeiros nove meses do ano, um resultado
22,3% inferior ao do mesmo período do ano passado. A empresa estima
que suas perdas catastróficas no terceiro trimestre vão oscilar
entre € 150 milhões e € 200 milhões.
A americana Travelers teve uma queda de lucros de mais de US$
400 milhões no trimestre, na comparação com o mesmo período de
2016. O grupo fechou o período com um lucro de US$ 293 milhões,
após ter um baque estimado em US$ 700 milhões de perdas
catastróficas.