A partir de novembro,
inicialmente no seguro garantia, entra em vigor o Sistema de
Registro de Operações (SRO) que dará à Susep capacidade de acesso a
informações das seguradoras em tempo real, o que facilitará o
controle de riscos. Segundo reportagem publicada pelo Valor
Econômico, esse modelo poderia ter identificado quase
instantaneamente a exposição das seguradoras no rompimento da
barragem da Vale em Brumadinho (MG) ou na recuperação judicial da
Odebrecht, por exemplo. Nos dois casos, foram precisos seis meses
para a coleta manual de dados. “Situações como a do
desenquadramento do IRB também seriam mais visíveis, ainda que a
regulação não alcance, por enquanto, os resseguros”, completa o
texto da reportagem.
As apólices serão cadastradas
em centrais registradoras no momento em que forem geradas.
Atualizações serão feitas sempre que houver um sinistro.
Atualmente, a Susep recebe os dados com defasagem de um mês. “Hoje,
temos os dados, mas não as informações”, diz a superintendente da
Susep, Solange Vieira, para quem a SRO vai melhorar a comunicação
entre Susep e empresas, derrubar preços e ajudar a dobrar o mercado
de seguros num prazo de cinco anos.
Ela acrescenta que a
tecnologia permitirá que as seguradoras ousem mais nos produtos,
pois o SRO permite “enxergar melhor os clientes” e precificar
perfis específicos de forma mais adequada, o que deve gerar
“produtos mais baratos”. A Susep também acredita que a tecnologia
também vai facilitar o “open insurance” e a portabilidade de
apólices.
A autarquia estuda ainda
criação de uma central de apólices que poderá ser consultada pelos
segurados. Falta apenas definir o formato, levando em conta que o
acesso aos dados requer todo o cuidado.
No futuro, a Susep pretende
trazer para o mercado brasileiro o mercado de títulos vinculados a
seguros (ILS, na sigla em inglês), comum em países como Estados
Unidos. São papéis geralmente ligados a catástrofes naturais, em
que as seguradoras ou resseguradoras dividem riscos com
investidores. Com essa ferramenta, uma seguradora do ramo de auto
poderia emitir um ILS de enchente, por exemplo.
CONCORRÊNCIA.
Três empresas estão
homologadas para fazer o registro das apólices: B3, Central de
Recebíveis (Cerc) e CSD.
Os modelos de negócio das
registradoras preveem a oferta de serviços associados ao registro
em si, cujo preço é baixo – a estimativa é que custe o equivalente
a 0,01% do valor da apólice.
Na B3, a proposta é criar uma
“infraestrutura para o mercado securitário”, o que inclui o SRO e
outras frentes de negócios em desenvolvimento, afirma Ícaro Leite,
superintendente de produtos de seguros, acentuando ainda que o novo
sistema aumenta a transparência do mercado e vai beneficiar o
consumidor.
O mercado, em linhas gerais,
aprova a novidade. O presidente da CNseg, Marcio Coriolano, por
exemplo, considera a adoção do registro positiva, já que vai
melhorar a capacidade de supervisão da Susep e o controle de
riscos. Contudo, ele faz algumas ressalvas que preocupam o setor,
como a preservação do sigilo das informações pelas credenciadoras.
“Informação é o maior ativo de uma seguradora”,
argumenta.
Preocupa ainda o fato de não
estar ainda claro quais dados serão solicitados. Segundo Coriolano,
sem isso, fica difícil saber se de fato haverá redução de custos.
de observância sob o novo sistema, como alega o
regulador.
De qualquer forma, ele
acredita que, em um primeiro momento, o SRO trará mais custos, pois
será necessário continuar pagando a taxa de fiscalização da Susep,
investir em novos sistemas e pagar as credenciadoras. “A gente
precisa sair do FIP, que fique claro. Mas a primeira etapa deveria
ter sido especificar que informações serão solicitadas”, alerta o
presidente da CNseg.
Já o presidente da
Pottencial, João Géo Neto, adianta que a companhia fará o registro
das novas operações a partir de novembro, mas ao longo do tempo o
estoque também será atualizado. A empresa emitiu 100 mil apólices
de grandes riscos no ano passado e deve repetir esse patamar em
2020. “Acredito que seja um caminho para começar a se falar sobre
open insurance. Empresas internacionais e insurtechs começarão a
ter interesse pelo mercado brasileiro, que ainda é concentrado”,
diz o executivo.